No intervalo foram 11.245 notificações e quatro óbitos confirmados pela doença
Agentes do Programa de Arboviroses de Campinas visitam residências para identificar possíveis larvas do mosquito (Kamá Ribeiro)
Campinas tem explosão de casos de dengue em quase 400% em um ano, foram 11.245 confirmados e 4 óbitos decorrentes da doença até o dia 2 deste mês. O número representa 921,7 casos para cada 100 mil habitantes. As chuvas recorrentes são alerta para que os casos cresçam ainda mais. Segundo o coordenador do Programa de Arboviroses de Campinas, Fausto de Almeida Marinho Neto, 80% dos criadouros estão em imóveis particulares. Um alerta foi emitido pela Prefeitura de Campinas na última terça-feira, dia 10, listando dez bairros com alto potencial de contaminação.
De acordo com o último levantamento da incidência de casos e proliferação do mosquito transmissor da dengue e chikungunya, o Aedes aegypti, todas as regiões da cidade foram atingidas por casos de dengue e estão em estado de alerta para alta em contaminação. São os bairros: Jardim Conceição, na região Leste; Jardim Lisa, Vila União, Parque Valença I, Residencial Colinas das Nascentes, Satélite Íris I, na região Noroeste; Jardim Aurélia e Vila Padre Anchieta, na região Norte; Parque das Indústrias, na região Sudoeste e Jardim Nova América, na região Sul.
Segundo Neto, com as constantes chuvas, é comum que o índice de proliferação e contaminação do mosquito aumente. “Nenhuma ação isolada é eficaz. É importante que a população se mobilize, já que os criadouros estão localizados nas casas em sua maioria”. Ele conta que a prefeitura tem parceria com uma empresa terceira que é quem faz a inspeção de imóveis e locais onde pode acontecer o criadouro com água parada. “É esta empresa que faz o controle preventivo, orienta a população e realiza a nebulização, incluindo a nebulização veicular, quando necessária”, diz.
As ações são direcionadas conforme discussões com o grupo técnico. “Temos mapeamento das regiões e bairros da cidade, que são o que direcionam as ações em campo”, destaca. A partir daí, é traçado um raio de ação para o controle do criadouro. “Essas ações acontecem no entorno de onde houve a contaminação de algum morador ou onde foi encontrado foco de criadouro”.
“Foram mais de onze mil casos de dengue, enquanto tivemos dezenove de chikunguya. Nesse último caso, não há tanta preocupação, já que apenas dois deles foram de contaminação na cidade, todos os outros foram contaminação fora de Campinas. Em relação a esta doença estamos relativamente tranquilos, embora em alerta”, finaliza o coordenador.
Dengue e Chikungunya
Nanci Gardim, gerente de inovação aberta, foi uma das pessoas acometidas por dengue em Campinas. Ela, que mora no bairro Vitória Ropole, em Barão Geraldo, conta que teve a doença em março passado e que, quando teve o positivo para a doença não sabia de outros casos no distrito. “Só nos meses seguintes é que soube que Barão Geraldo tinha vários casos”.
Ela conta que acordou com as mãos e pés inchados e com pintas vermelhas, mas que inicialmente achou que pudesse ser uma crise alérgica. “Havia comido camarão no dia anterior, tomei um antialérgico e fui trabalhar”. Nanci diz que percebeu que poderia ser outra coisa quando sentiu a perna ficar cada vez pior e então foi buscar atendimento médico. “Entre os exames que me pediram, deu positivo para dengue”.
Conforme indicada pela médica que a atendeu, o quadro o qual passava não é comum para contaminados pela doença. “Cheguei a ter o corpo totalmente inchado e vermelho, a médica disse que geralmente as pessoas não chegam a tanto. Mas foi rápido também, em três dias eu já estava melhor”, conta. A orientação recebida por ela foi de hidratação e apenas. “Me contaram que a doença tem um ciclo de uns três dias mais complicados e foi justamente o tempo que fiquei”.
Para ela é de extrema importância que a população se sinta responsável pelo controle do mosquito transmissor. “Meu recado é para que as pessoas fiquem vigilantes nas suas casas, já que o impacto é também na vizinhança. E, caso percebam que alguém não esteja fazendo a sua parte ou perceba que um terreno precisa de atenção em relação à limpeza, que informe as autoridades competentes, pois facilita o controle de áreas que possam ser esquecidas”, conclui.
Já o engenheiro florestal Bruno Scarazatti foi vítima da chikungunya, que é transmitida pelo mesmo mosquito. Ele conta que, no caso dele, começou com uma dor de cabeça muito forte, “parecia uma crise de sinusite, só que pior”. Por conta disso, Bruno foi procurar por ajuda médica, mas que como não constou alteração em hemograma realizado, então foi liberado.
“Fiz uma viagem a trabalho à Manaus. Lá precisei ficar internado por três dias, tive febre bem alta, de quase 40 graus, e minha urina passou a ficar escura”. No caso do engenheiro florestal, a imunidade caiu muito e ele acabou acometido por uma hepatite viral. “Minhas articulações ficaram muito inchadas, tornozelos e joelhos, e eu não conseguia andar. As plaquetas e leucócitos caíram muito e rápido. Os exames de enzimas do fígado também apresentaram alteração e a urina mudou”. Assim que melhor, Bruno retornou à Campinas e deu continuidade ao tratamento aqui. “Demorei uns 10 dias para ficar bem. Fiquei com bastante fadiga e dor de cabeça ainda uns dias”.
O engenheiro florestal aponta o plano atual de ação da prefeitura como deficitário. “A responsabilidade não é só da prefeitura, é de todo mundo. Mas não adianta passar veneno e matar as larvas que já estão vivas, o mosquito volta a colocar mais ovos e, por conta disso, acontece uma seleção dos mais fortes e fica mais difícil ainda fazer o controle por esse método”. Para ele é necessário atuar na educação da população, “Todo mundo precisa fazer a sua parte, tirar a água parada em casa e a prefeitura fiscalizar, além de não deixar com que a água acumule onde a responsabilidade é dela”.
Como prevenir
Para evitar que haja criadouro do mosquito Aedes aegypti no sua residência ou trabalho, verifique sempre se há locais que possam acumular água da chuva. Pneus velhos, vasos de plantas, caixas d’água, entulhos, móveis e eletrodomésticos, ralos, vasos sanitários sem uso constante,lajes e terraços, piscinas, calhas que estejam com folhas impedindo a passagem e escoamento da água. Todo e qualquer lugar onde possa acumular água limpa pode se transformar em criadouro do mosquito.