NOS TRILHOS DO PROGRESSO

Caso raro no país, Paulínia vive fase de retomada econômica

Sede do maior polo petroquímico da América Latina, o município liderou ao longo deste ano na região as exportações de produtos com alto valor agregado

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
15/12/2022 às 08:22.
Atualizado em 16/12/2022 às 09:27
Uma das indústrias do polo petroquímico de Paulínia: graças aos impostos pagos pelo setor, município detém o quarto maior Produto Interno Bruto per capita (PIB)do país, da ordem de R$ 341.552,82 (Divulgação)

Uma das indústrias do polo petroquímico de Paulínia: graças aos impostos pagos pelo setor, município detém o quarto maior Produto Interno Bruto per capita (PIB)do país, da ordem de R$ 341.552,82 (Divulgação)

Paulínia liderou ao longo deste ano as exportações acumuladas na região, com Campinas ficando em segundo lugar. As indústrias do município, que abriga o maior polo petroquímico da América Latina, venderam ao exterior entre janeiro e outubro US$ 851,65 milhões (R$ 4,53 bilhões), com uma participação de 27,8% entre os 19 cidades abrangidas pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo - Regional Campinas (Ciesp). Campinas somou US$ 825,36 milhões (R$ 4,39 bilhões) no mesmo período, o que representa 27%.

"Entre os municípios ligados à regional do Ciesp, Campinas e Paulínia se alternam na liderança das exportações todo mês, mas o ranking dos cinco que mais exportam não se alterou", explica o diretor de Comércio Exterior da entidade, Anselmo Félix Riso. A lista é completada ainda por Sumaré em terceiro lugar, Mogi Guaçu (4º) e Amparo (5º). A explicação para o desempenho dessas cidades é a exportação de produtos de alto valor agregado, que são aqueles que passam por processos para acrescentar valor e benefício ao item final.

Somente em dez meses de 2022, Paulínia exportou 7,12% a mais do que os US$ 795,06 (R$ 4,23 bilhões) alcançados nos 12 meses de 2021. O crescimento nas vendas ao exterior é maior do que a média da regional do Ciesp na comparação dos mesmos períodos, que foi de 1,32%. De janeiro a outubro, as cidades abrangidas pela entidade exportaram US$ 3,059 bilhões (R$ 16,28 bilhões), contra US$ 3,02 bilhões (R$ 16,08 bilhões) ao longo de todo o ano passado.

Um estudo feito pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) mostra que os principais itens enviados ao exterior por Paulínia são produtos químicos e plásticos, que representaram R$ 1,09 em cada R$ 2 faturados. Em 2021, eles somaram US$ 434,23 milhões (R$ 2,27 bilhões), o equivalente a 54,62% do total. Neste ano, esses itens estão entre os cinco mais exportados pela região, dividindo espaço com máquinas, caldeiras, aparelhos mecânicos, aparelhos e materiais elétricos e equipamentos de gravação e reprodução.

Reflexos

Para o prefeito Ednilson Cazellato (PL), o Du Cazellato, o desempenho econômico mostra que "Paulínia já voltou aos trilhos do progresso", se recuperando da crise provocada pela pandemia de covid-19, inclusive com a criação de novos empregos. De janeiro a outubro de 2022, o município registrou 22,8 mil admissões formais e 19,7 mil desligamentos, resultando em um saldo positivo de 3.092 novos trabalhadores, de acordo com os dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e da Previdência Social. O desempenho é semelhante aos dez primeiros meses de 2021, quando o saldo foi de 3.706 vagas.

ldo foi de 3.706 vagas. Com uma população estimada em 115 mil habitantes e uma alta arrecadação tributária proporcionada pelo polo petroquímico, o resultado é que o município oferece uma qualidade de serviço e equipamentos raros em comparação a municípios maiores. A tarifa de ônibus é de R$ 1, a cidade conta com hospital municipal, sambódromo e teatro com capacidade para 1.350 pessoas, pouco menor do que o Teatro Municipal de São Paulo (1.532).

Os salários dos servidores municipais estão acima da média, provocando filas de inscritos sempre que os concursos são abertos. Os funcionários tiveram este ano aumentos nos benefícios, passando a receber auxílio refeição de R$ 500 e aumentos nos planos de saúde, que passou a ser de R$ 300, e de transporte (R$ 200). O orçamento municipal para 2023 é de R$ 1,959 bilhão, o segundo maior da Região Metropolitana, atrás apenas de Campinas, estimado em R$ 9,1 bilhões.

A principal fonte de receita de Paulínia é a arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS), que responde por 65% do total. É um imposto gerado pela Refinaria de Paulínia (Replan), a maior do país, e multinacionais do setor químico instaladas na cidade. A riqueza de Paulínia se traduz também em outros números e reflete na qualidade de vida da população. A taxa de alfabetização é 93,93% e a expectativa de vida é de 73,30 anos.

Em 2019, último dado disponível, o Produto Interno Bruto per capita (PIB) de R$ 341.552,82 foi o quarto maior do País, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O valor é 9,5 vezes maior do que a média nacional (R$ 35.935.74) e 5,5 vezes a da região de Campinas (R$ 62 mil). A concentração de renda é inferior à média estadual. As classes econômicas de menor aquisitivo (E e D) têm uma participação de 27% no total de remunerações da cidade, enquanto as mais altas (A e B), 29,4%. A média estadual das classes que formam a base da pirâmide social é de 20,7%.

A remuneração média dos trabalhadores formais do município é de R$ 3,8 mil, valor acima da média do Estado, de R$ 2,9 mil. "As indústrias são, normalmente, as que pagam os maiores salários e oferecem os melhores benefícios", explica a economista Eliane Navarro Rosandiski, do Observatório Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC). Entre o setor privado, as atividades que se destacam na geração de empregos de Paulínia estão o de transporte rodoviário de produtos perigosos e fabricação de produtos petroquímicos.

A transformação econômica de Paulínia teve início há 50 anos, com a inauguração da Replan, em maio de 1972. A refinaria expandiu o polo petroquímico. Novas indústrias se instalaram no local, enquanto as que já estavam no município ampliaram a produção. Apenas uma empresa tem 27 fábricas em seu sítio no município, que completou 80 anos este mês, emprega cerca de 800 funcionários e tem uma produção anual de 1,2 milhão de tonelada de produtos para cuidados pessoais e com a casa, alimentos, tintas e vernizes, automóveis e vestuário, entre outros.

"O que começou como uma fazenda, em 1942, para o plantio de cana-de-açúcar e produção de álcool para uma de nossas fábricas, tornou-se um dos maiores complexos químicos do grupo no mundo", diz a presidente do grupo para a América Latina, Daniela Manique.

Outros exemplos

A presença de indústrias de produtos de alto valor agregado também é a razão da significativa participação nas exportações de outras cidades. Sumaré se destaca por ferro, aço, caldeiras, máquinas e aparelhos e instrumentos mecânicos. Mogi Guaçu por papel, cartão e máquinas. A diretora comercial de uma empresa de autopeças da cidade, Gislene Gianetti Bezerra, aponta que as exportações representam hoje 10% do faturamento da empresa, fundada em 1991. O principal destino são os países da América Latina.

Com 50 funcionários, a empresa produz peças para automóveis, motocicletas e bicicletas motorizadas. "Nós estamos sempre nos atualizando e já participamos de quatro missões da Apex [Agência Brasileira de Promoção de Exportações]", diz Gislene, ao explicar a constante busca por novos clientes. De acordo com ela, o nível de produção já voltou ao patamar do período pré-pandemia.

"Mas agora há um novo normal. O mundo não é mais o mesmo, as necessidades mudaram", completa. A empresária explica que hoje muitos negócios podem ser feitos através de videoconferência, mas não abre mão do contato presencial com os clientes e a disposição de atendêlos. É uma herança de família, que começou com o avô, imigrante italiano que desembarcou em São Paulo em 1867. Morador de uma área sujeita a alagamentos, ia buscar frutas e verduras para vender de carroça na época da seca, ou de barco quando chovia muito. "Ele nunca deixava de trabalhar", lembra Gislene.

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