CONSTRUÇÃO DA ERA CAFEEIRA

Casarão histórico será sede do Centro de Memória da Educação

Finalidade será a preservação documental e física das etapas do ensino em Campinas

07/01/2022 às 08:33.
Atualizado em 23/03/2022 às 17:08
O casarão histórico, localizado na Avenida Júlio de Mesquita, no bairro Cambuí, abrigou por cinco décadas o Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, entidade sem fins lucrativos ( Ricardo Lima)

O casarão histórico, localizado na Avenida Júlio de Mesquita, no bairro Cambuí, abrigou por cinco décadas o Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, entidade sem fins lucrativos ( Ricardo Lima)

O casarão da Avenida Júlio de Mesquita, no Cambuí, datado da segunda fase do poderio cafeeiro do Brasil, vai abrigar o Centro de Memória da Educação Municipal de Campinas, uma espécie de Museu da Escola para a preservação documental e física das diversas etapas do ensino e do conhecimento gerado na cidade ao longo de sua história.

A notícia chegou mediante o Decreto Municipal nº 21.863 - publicado em 29 de dezembro passado, que declara de utilidade pública e autoriza a desapropriação amigável do prédio do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos -, assinado pelo prefeito Dário Saadi.

O casarão abrigou por cinco décadas o Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, entidade sem fins lucrativos, cujo objetivo é o de promover e incentivar relações culturais entre os dois países por meio da oferta de cursos de inglês e atividades para toda a comunidade. Antes, porém, o imóvel pertenceu a famílias que participaram da cultura do café, que se expandiu no Brasil a partir de 1870 e na cidade de Campinas, onde encontrou a "terra roxa", solo rico para os cafezais.

Ontem, a Secretaria de Educação preferiu não se manifestar ainda sobre o projeto, alegando que alguns detalhes estão sendo discutidos com os proprietários do imóvel. Não foram definidos, por exemplo, prazos de desocupação das atividades no local, nem como será formalizada a criação do Centro de Memória da Educação.

Existe a possibilidade de ser feita alguma parceria com o próprio Centro Cultural Brasil-Estados Unidos. Reformas pontuais deverão ocorrer com monitoramento do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), que fez o tombamento do imóvel a partir de 2008.

Hildo Abreu Júnior, gerente-executivo do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, em Campinas, destacou que haverá uma reunião com a Secretaria de Educação, na semana que vem, para tratar do processo de criação do Centro de Memória e confirmou que não existem ainda prazos definidos, nem menção de qualquer de parceria da Prefeitura com a entidade educacional, que está no local há 55 anos.

Por enquanto, o decreto garante qual será a destinação do prédio: o imóvel será utilizado pela Secretaria Municipal de Educação para a instalação de um Centro de Memória da Educação Municipal de Campinas, com o objetivo de restaurar, preservar, divulgar e valorizar o patrimônio escolar e a história da educação no município de Campinas.

Será uma espécie de museu da Educação, presente nos países mais avançados, que, dentre várias finalidades, atuará como fonte de pesquisas acadêmicas e práticas para a área da Educação, conservando objetos, como as instalações físicas das salas e aula, utensílios utilizados, metodologias, bibliografias e pensamentos pedagógicos passados, em apoio e preparação de futuras etapas.

Tombamento

Além de servir como espaço para história da Educação em Campinas, o Centro de Memória vai garantir também a preservação da história da cidade. As ocupações da região do Cambuí são registros de um momento histórico importante do município, com características urbanísticas próprias. A construção foi tombada pelo Condepacc a partir de 2008 e tem 13 metros de frente por 73 metros de fundos, totalizando uma área de 949 metros quadrados.

O fato de ser na Avenida Júlio de Mesquita, o futuro Centro terá um valor histórico adicional. A via foi aberta em 1881, com o nome de Rua do Cambuizal, e o casarão data desse período. A partir da década de 30, a região tornou-se local de moradia da elite campineira - agora formada por comerciantes, industriais e profissionais liberais bem-sucedidos - e não mais pela aristocracia do café.

Segundo urbanistas da cidade, as construções dessa região são testemunhas importantes da arquitetura eclética, sobretudo a vertente neocolonial e também a arquitetura moderna. A forma de implantação das residências nos lotes, com afastamentos laterais e recuos frontais é uma das características da modernidade da época. Um novo desenho urbano estava sendo instituído, segundo as diretrizes do Plano de Melhoramentos Urbanos, realizado por Prestes Maia.

Em 2001, o Condepacc deu início a um estudo de tombamento de 37 imóveis na região do Cambuí atendendo a uma solicitação do arquiteto Marcelo Daniel Hobeika. Dos 37 imóveis, 14 propriedades localizadas na Avenida Júlio de Mesquita foram identificadas como construções que reuniam características para tombamento. Além delas, uma propriedade na Avenida Coronel Silva Telles também entrou no processo de tombamento, que ocorreu efetivamente no final de 2007, com validade a partir de 2008.

O antigo Ateneu agora é sede da Educação

A criação do Centro de Memória da Educação surge depois de a Secretaria Municipal de Educação ter adquirido o prédio e a área do histórico Colégio Ateneu, na Rua Barreto Leme. O imóvel, que abrigou o antigo Ateneu, pertenceu à família de Servilho de Abreu Soares, transformando-se em sede e base da Secretaria Municipal de Educação a partir de setembro do ano passado.

O casarão da Barreto Leme já abrigou a primeira Escola Normal de Campinas, o Instituto Lencastre Pedro II e o Colégio Ateneu Campinense. Com mais de 200 anos de existência, a construção do século 19 surgiu nos tempos do Brasil Imperial. O prédio em alvenaria foi erguido em uma chácara de 24 mil metros quadrados, onde morou a família do Barão de Paranapanema e seus descendentes. Dentre os ilustres que residiram no imóvel estão Servilho de Abreu Soares, pai de Presciliana Soares, avô de Marina Soares Queiroz e bisavô do oftalmologista Leôncio Soares Queiroz Neto. Por alguns anos o local abrigou o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP). Já em 2013, o prédio foi comprado pela Prefeitura de Campinas por R$ 10 milhões para sediar a Pasta de Educação. No local, foram instalados o gabinete do secretário, a assessoria jurídica, diretorias e coordenadorias. Antes disso, entretanto, a construção passou por uma ampla reforma feita pelo Campinas Decor, cuja mostra aconteceu em 2019.

Com os casarões da Rua Barreto Leme e da Avenida Júlio de Mesquita, a região próxima ao Palácio dos Jequitibás ganha mais um importante ambiente na região central de Campinas voltado à Educação, à Cultura e à História da cidade.

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