vida moderna

Casamentos despencam na região

Os dados, divulgados pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) foram montados com base em informações dos cartórios de registro civil e seguem a tendência dos números no Estado

Rafaela Dias
22/04/2018 às 20:54.
Atualizado em 28/04/2022 às 06:28
Levantamento mostra que em 2016, último ano analisado, foram 21.936 novos matrimônios na RMC contra 22.211 em 2015, uma queda de 1,23% (iStock/Banco de Imagens)

Levantamento mostra que em 2016, último ano analisado, foram 21.936 novos matrimônios na RMC contra 22.211 em 2015, uma queda de 1,23% (iStock/Banco de Imagens)

O número de casamentos na Região Metropolitana de Campinas (RMC) voltou a cair depois de seis anos com aumentos gradativos. Os dados, divulgados pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) foram montados com base em informações dos cartórios de registro civil e seguem a tendência dos números no Estado. O levantamento mostra que em 2016, último ano analisado, foram registrados 21.936 novos matrimônios na RMC contra 22.211 em 2015, uma queda de 1,23%. Entre 2009 e 2015, no entanto, a região registrou elevação de 26,01% nas uniões oficializadas. Para a professora do Departamento de Demografia e pesquisadora do Núcleo de Estudos de População (Nepo), Elza Berquó, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desde os anos 1980 já havia uma tendência de declínio da taxa de nupcialidade legal. O fenômeno, segundo ela, está ligado à crise econômica. “Instabilidades financeiras nacionais são muito palpáveis e produzem resultados imediatos. As pessoas em momentos como esse, adiam projetos, aguardando um momento mais propício para realizá-los, é comum. Mudanças na esfera dos valores, como vivemos nos últimos anos, costumam gerar alterações mais profundas e de longa duração”, disse Joice Melo Vieira. Mas para ela, ao longo das últimas décadas a sociedade brasileira também se tornou mais flexível quanto aos processos que desencadeiam a formação de família. “As uniões consensuais se tornaram mais aceitas e muitos direitos antes restritos aos casais legalmente casados foram estendidos a elas. O reconhecimento das uniões estáveis como entidade familiar já era mencionado pela Constituição de 1988. Coincidência ou não, é justamente após desse ano, que ocorre o declínio mais intenso da taxa de nupcialidade legal no País. O começo dos anos 2000 marca um período de recuperação, mas que é concomitante ao início de uma década de bonança econômica”, avaliou. Ainda segundo ela, existe uma tendência do brasileiro a adiar a formação de uniões de qualquer tipo. “Há um outro fenômeno, que é a preferência de determinados grupos sociais por adiar constantemente a união de qualquer tipo, seja formal ou consensual. Isso ocorre seja porque a fonte de felicidade não é associada necessariamente ao casamento ou à vida conjugal”, explicou a especialista. Crise Para a psicóloga Claudia Regina Martins Berenguel, o número tem diminuído devido à crise, mas ela afirma que a sociedade está desacreditada do casamento. “Os jovens, hoje, não acreditam mais nessa união, e por isso, não querem dar esse passo. Existe hoje uma tendência para os casais se juntarem ao invés de unirem as suas vidas matrimonialmente. Mas é preciso ainda analisar que as pessoas estão com dificuldades de construir vínculos duradouros. Estamos vivendo um momento de isolamento e é cada vez mais difícil a convivência com o outro. As pessoas não sabem conviver com as diferenças e casamento não é mágica, precisam aprender a lidar com isso”, disse. Profissionais são otimistas quanto à expansão do mercado Mesmo com as dificuldades econômicas, a assessora e cerimonialista de eventos Suelen Rovaron avalia que houve um crescimento no mercado de casamentos em 2017. “O setor de casamento nos últimos anos tem contribuído para a economia brasileira mesmo em meio à crise. Segundo uma pesquisa do Instituto Data Popular e Associação Brasileira de Eventos Sociais (Abrafesta), divulgada recentemente, houve aumento de 25% no seguimento de casamentos no ano de 2017. Os fornecedores também acabaram se reinventando e criando produtos mais baratos e até cerimônias menores chamadas de mini wedding”, defende a empresária. Para ela, ainda que o País esteja em recuperação, as pessoas não estão desistindo dos casamentos formais. “É tudo uma questão de adaptação. Existem casais dispostos a redefinir suas prioridades e orçamentos, mas existem pessoas que preferem adiar a cerimônia e a festa. Casamento não é um produto, é um sonho”, avalia. Por isso, segundo ela, existe a necessidade de profissionais que entendam do assunto. “No mês passado, fui contratada por um casal que como primeiro passo para a festa, há um ano atrás, alugou uma tenda. Nesse meio tempo, o espaço contratado fez reformas e eles vão perder o dinheiro. A ajuda profissional durante todo o planejamento é essencial”, falou. A pesquisa divulgada pelo Seade aponta ainda que nos últimos anos, no Estado de São Paulo, houve progressivo aumento da idade média ao casar para ambos os sexos e que o mês de dezembro foi o preferido para o início da união. “O mês de dezembro se tornou preferido, porque ele, naturalmente, vem acompanhado de uma entrada maior de recursos com o 13º salário. Mas como as pessoas estão, por economia, buscando realizar a cerimônia e a festa em um lugar só, e em ambientes abertos, os meses mais comuns têm sido setembro, outubro e novembro”, falou a cerimonialista. Mas ela deixa a dica: “O que realmente importa pra você? Quais são suas prioridades? Pense nisso e tudo ficará mais fácil”. Um sonho realizado na contramão da estatística Na contramão da pesquisa, estão os bancários Juliana Marques Gerolin, de 28 anos e Douglas Henrique Sousa Oliveira, de 30, ambos de Campinas. Eles casaram no último dia 31, depois de sete anos de relacionamento, realizando um sonho que começou sendo dela. Segundo Juliana, quando noivaram, eles já tinham comprado um apartamento, que foi prioridade por um bom tempo nas finanças do casal. “Quando terminamos de montar nossa casa, conversamos e decidimos juntos pela festa e a cerimônia. Contamos com a ajuda de um padrinho que é cerimonialista e que nos ajudou, já que o mercado de casamentos é superfaturado e tudo custa muito caro. Ficamos assustados quando fomos cotar os preços”, contou. “É preciso planejamento, pois mesmo com tudo organizado, sempre surgem imprevistos. Mas o casamento trouxe uma reação em cadeia importante entre os nossos amigos. Parte deles ainda são solteiros e outros moram juntos. Vários casais saíram da nossa festa planejando as suas. Você não precisa desistir de um sonho, você pode adaptá-lo às suas necessidades”, disse Douglas. “Foi um momento único, valeu a pena cada centavo e cada esforço para realizá-lo”, avaliou a bancária. Tendência Para a professora da Unicamp, o casal seguiu o que deve continuar sendo uma tendência. “Há os que se casam pensando que assim irão se estabilizar, enquanto outros creem que precisam se estabilizar para depois casar. Honestamente, suspeito que esse segundo grupo encontra-se em franca expansão”, concluiu.

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