Doada à Prefeitura em junho de 2008, estrutura está deteriorando e serve de abrigo para craqueiros
Cobertor protege entrada do abrigo montado por casal sob a passarela de concreto doada pela AutoBAn (Gustavo Tilio/Especial para a AAN)
Abandonada há quase cinco anos no gramado da Praça Luiz Pereira da Cruz, na Avenida Prestes Maia, a estrutura da prometida passarela de pedestres do Parque Itália — doada em junho de 2008 pela concessionária AutoBAn e avaliada na época em R$ 1,5 milhão — virou abrigo de craqueiros.
Há três anos um casal sem-teto improvisou uma moradia sob a estrutura, que tem pouco mais de um metro de altura. Uma das entradas da “casa” é protegida por um cobertor. Os demais espaços das estruturas são usados para descarte do lixo e necessidades fisiológicas. Não há um cano de água próximo nem banheiro público.
Arredio, o casal não quis conversar com a reportagem. Em uma tentativa insistente de colher alguma informação sobre a dupla, de dentro da improvisada moradia, que não passa de um “túnel” com pouco mais de um metro de altura, uma voz de mulher, visivelmente alterada, respondeu negativamente aos gritos. A informação de que estão ali há tanto tempo veio de um homem de uns 30 anos, que saiu do barraco dizendo ser “conhecido” do casal, mas que não mora ali. “Não sei a idade deles, nem o nome. Eles não gostam de falar”, respondeu.
Pela quantidade de lixo e coisas utilizadas de improviso, é possível notar que estão estabelecidos no local há algum tempo.
O cenário de pobreza e abandono fica em frente a um posto de combustível, onde carros com placas de outras cidades param para abastecer. O público que trafega pela avenida em transporte público ou carro particular, quase não nota o que se passa sob aquelas toneladas de concreto enegrecido.
A estrutura da passarela, que agora serve de abrigo, era para ser instalada em um ponto da avenida que recebe um fluxo intenso de automóveis e pedestres. A pista é uma das principais entradas da cidade e faz ligação com as rodovias Anhanguera e Santos Dumont. O trânsito da Prestes Maia também impacta nas vias das imediações, como a Rua Romualdo Andreazzi, onde funciona o call center de uma operadora de telefonia móvel.
Prefeitura
A assessoria de imprensa da Prefeitura informou que a Administração está fazendo um estudo técnico para a implantação da passarela de pedestres, equipamento que deverá estar adequado à acessibilidade de cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida. Técnicos da Secretaria Municipal de Infraestutura e da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) já iniciaram o estudo de adequação dos módulos de concreto doados ao município.
Não foi informado um prazo para a conclusão do estudo e tampouco para a instalação do equipamento.
Segundo a Emdec, a Secretaria de Infraestrutura enviou um pedido de parecer técnico sobre o assunto. Na época do recebimento, a secretaria elaborou um projeto para a instalação das estruturas e enviou à Emdec, que fez adequações. No momento, as secretarias de Transportes e Infraestrutura estão analisando a necessidade de instalação da passarela.
São estruturas que estavam no Km 96 da Rodovia Anhanguera, que em 2007 passou por obras de construção de marginais e algumas passarelas precisaram ser alargadas, possibilitando a doação. O abandono da passarela começou na primeira gestão do prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos (PDT).
Na época, o secretário municipal de Infraestrutura Osmar Costa havia se comprometido a instalar o equipamento em 2008, o que não aconteceu. Apenas a Secretaria de Transportes instalou no local dois semáforos com radares para o controle do limite de velocidade, parada sobre a faixa de pedestres e avanço do sinal vermelho.
O valor da estrutura abandonada na praça choca as pessoas que frequentam a região. “Tudo isso (se referindo ao R$ 1,5 milhão) parado aí no chão?”, questionou a cozinheira Marileide da Silva Santos. Diariamente ela atravessa a avenida e depois a Romualdo Andreazzi com o neto de 6 anos. “Os motoristas correm muito. Não respeitam os pedestres. Seria tão bom se tivesse uma passarela aqui”, disse.
Quem precisa atravessar a Rua Romualdo Andreazzi — que recebe o fluxo da Prestes Maia no sentido Aquidabã —, pela parte de baixo da Praça Luiz Pereira da Cruz conta com a sorte. Os motoristas que saem da Avenida Prestes Maia no sentido Centro e pegam o acesso à Aquidabã pelo posto de gasolina não respeitam a faixa de pedestres. “Já vi muita gente ser salva por Deus. Os motorista buzinam em cima e com raiva”, conta a auxiliar de operações Joyce Silva, de 20 anos.