BODAS DE VINHO

Casal festeja 70 anos de muito amor e união

Filhos de imigrantes alemães se conheceram ainda crianças, plantando batatas em Campinas

Rogério Verzignasse
21/07/2018 às 19:14.
Atualizado em 27/04/2022 às 13:32
Amor sob uma casinha simples, de quatro cômodos, construída no sítio do filho Gerson: parede no reboco, espadas-de-são-jorge no jardim, pesqueiro, mangueira, gatos, cachorro (Leandro Torres/AAN)

Amor sob uma casinha simples, de quatro cômodos, construída no sítio do filho Gerson: parede no reboco, espadas-de-são-jorge no jardim, pesqueiro, mangueira, gatos, cachorro (Leandro Torres/AAN)

Werner e Nayde nasceram na roça. Eram filhos de imigrantes alemães que, lá no século 19, fundaram o bairro rural do Friburgo, no limite de Campinas com Indaiatuba. Colhendo batatas, as duas crianças cresceram, se apaixonaram. E se casaram há exatamente 70 anos. E não foi na igrejinha luterana do bairro. O pastor estava de férias. O casal fez as juras de amor no templo "emprestado" pelos presbiterianos, ali na Rua Luzitana. Depois da cerimônia, a turma voltou pra roça e varou o dia na festa. Ajeitaram as mesinhas na casa do pai do noivo, mataram um boi, encheram os canecos. A 'alemoada' se esbaldou até altas horas. Hoje, aniversário do casório, a comunidade se reúne de novo. Lá mesmo no Friburgo. E na comilança vão aparacer filhos, netos, bisnetos... É uma história de amor bonita. Que na certa vai durar pra sempre. Werner Schäfer tem 90 anos. A mulher Nayde Jürs, 87. No passado, eles até tentaram deixar o campo, morar no Centro, arrumar trabalho diferente. Não deu certo. Quem nasceu rastelando a terra e pescando na lagoa não se acostuma na cidade. Eles voltaram para o cantinho de onde nunca deviam ter saído. Moram em uma casinha simples, de quatro cômodos, construída no sítio do filho Gerson. A parede no reboco, espadas-de-são-jorge no jardim, pesqueiro, mangueira, gatos, cachorro. E galinhas, galinhas e galinhas. Muitas. Ah, o casal não importuna ninguém. Claro, a idade trouxe uns probleminhas. A artrite castiga os joelhos e os dois não passeiam mais pelo terreiro. Então, duas cuidadoras contratadas pela família - a Lídia e a Luciene - ajeitam a casa, ministram os remedinhos da pressão alta, lavam a louça, preparam o almoço… Mas o Werner e a Nayde são divertidos. Adoram conversar e contar histórias. O maridão ri a valer falando que a patroa ainda é uma fera. Mas depois se rende e admite que a Nayde sempre foi uma companheira maravilhosa. Tanto nas horas boas como nas difíceis. Vida partilhada mesmo. Os dois estão entusiasmados para a festa, que acontece neste domingo no salão da comunidade alemã do Friburgo, logo depois do culto na igreja luterana. Bodas de vinho, privilégio de poucos. Reencontro obrigatório para família que ficou enorme: três filhos, oito netos, cinco bisnetos e agregados às dezenas. Vai faltar cadeira. Causos do Werner Todo mundo vai ficar doido para ouvir os causos do Werner. Mesmo porque, o homem é bom de prosa que só vendo. Impossível não gargalhar quando ele conta, por exemplo, sobra a sua "lua de mel" . Ele deixou tarde a festa do casório há 70 anos, e teve de madrugar no outro dia para trabalhar na roça, junto com o sogro Augusto Jürs. É, era assim. Todo mundo se ajudava muito, trabalhava de sol a sol, pensava na comunidade … Os alemães eram unidos até nas tragédias. Como aquela de 61, quando o avião da Aerolíneas Argentinas caiu pertinho de onde morava a família da noiva. No desastre, a aeronave caiu logo depois de decolar. E 52 pessoas morreram. O Werner, com seus 30 e poucos anos, foi testemunha ocular da tragédia: "Chovia, e o mato pegava fogo. Uma cena que eu nunca me esqueço…" Ele e os vizinhos ajudaram as equipes de socorro a recolher restos. Mas ele prefere mesmo falar das lembranças boas. Como o tempo em que ele e Nayde dançavam xote no baile da roça, ou quando ele - protestante de berço - se ofereceu para ajudar na construção da capela católica em louvor a Santo Antônio, lá no bairro dos Gonçalves. "Aqui, a gente se acostumou a trabalhar, a conviver com as famílias antigas do lugar" , afirma. Nunca importou religião, raça, posses. Ih, o homem tem histórias... E a Nayde confirma tudo, balançando a cabeça em sinal de positivo. A festa deste domingo vai ser curta pra tanto 'causo'.

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