Moradoras terão o aluguel subsidiado de maneira escalonada: nos primeiros seis meses o subsídio será de 100% e no segundo semestre cai para 75%; já no segundo ano, o valor continua sendo reduzido de maneira escalonada, 50% e 25% nos semestres seguintes, respectivamente (Alessandro Torres)
Jovens mulheres em vulnerabilidade extrema, vindas das repúblicas assistidas em Campinas, terão uma nova moradia à disposição na cidade de Campinas. A residência do Projeto Casa das Juventudes deverá ser inaugurada em dezembro deste ano com o objetivo de dar moradia e oportunidade de inserção dessas mulheres ao mercado de trabalho, o que ocorrerá por meio de formação profissionalizante na área da construção civil, especialmente em restauro e conservação de imóveis (com cursos para pedreiros, pintores, técnicos em instalações hidráulicas e elétricas, entre outros). A iniciativa é da Associação Fundo Haja Rehabitar, em parceria com a Fundação Feac. É uma entidade sem fins lucrativos que tem o objetivo de comprar imóveis vazios, especialmente os de interesse histórico e cultural em áreas centrais da cidade, restaurá-los e adaptá-los para locação social, por meio de doações e financiadores.
O imóvel, construído em 1947 e comprado no ano passado por aproximadamente R$ 230 mil pela associação, por meio da doação de uma “investidora anjo”, está localizado na Rua Falcão Filho, no Botafogo. O local ainda passará por obras necessárias para poder voltar a ser ocupado. De acordo com os responsáveis pelo projeto, a casa passará por um processo de modernização e reforma, mantendo, quando possível, elementos arquitetônicos originais e históricos, como a fachada art déco, garantindo a segurança, conforto e funcionalidade dos espaços.
O local está dentro de num terreno de 172 m², com área construída de 80 m². Conta com três dormitórios, dois banheiros, sala, cozinha com armários embutidos, recuo frontal com uma cobertura para garagem construída nos últimos anos, lavanderia e quintal. Ainda possui uma estrutura em alvenaria de tijolos, porão, como era típico nas construções do período. O imóvel está em boas condições e será instalado um sistema de energia solar para gerar mais economia às futuras moradoras.
O investimento para a implantação da Casa das Juventudes é estimado na ordem de R$ 1,08 milhão. A Fundação Feac apoiou o projeto com montante de R$ 479.999,01, para a reforma do imóvel, realização dos cursos profissionalizantes às jovens e subsídio para as futuras moradoras pagarem o aluguel social no segundo e no terceiro ano do projeto. Já a contrapartida da Associação Fundo Haja Rehabitar soma R$ 600.443,00 e se refere à compra do imóvel e aos recursos humanos voluntários, no valor correspondente a R$ 370.443,00 para gerenciar o projeto (gerente de obras, gerente de projeto arquitetônico, restaurador, educadores, comunicador social, coordenador pedagógico, chefe de manutenção, auxiliar administrativo e auxiliar jurídico).
RECUPERAÇÃO E ETAPAS
De acordo com a arquiteta e urbanista Vanessa Gayego Bello Figueiredo, sócia-fundadora da Associação Haja e integrante do Conselho Administrativo, a área central de Campinas possui um estoque imobiliário vazio significativo que contrasta com a carência habitacional do município para população vulnerável. “O projeto vai atender mulheres a partir de 21 anos, egressas do sistema de serviço social de acolhimento e repúblicas assistidas da cidade de Campinas, mantidos pelo poder público e suas parcerias. É um público vulnerável e que é o foco das nossas atividades”, contou.
Ainda segundo Vanessa, o projeto vai funcionar como uma transição para a vida adulta e autônoma para as futuras seis moradoras. “O imóvel tem toda a infraestrutura necessária para os propósitos do projeto. Vai ser uma moradia com espaço para formação profissionalizante e ainda com a vantagem de ter no entorno empregos, equipamentos socioculturais, educação, saúde, lazer e espaços públicos.”
A implantação total do Projeto Casa das Juventudes será composta por duas fases. Na primeira, vão acontecer a reforma e as formações profissionalizantes dos jovens, caso em que homens também podem participar, provenientes das repúblicas assistidas e outras instituições similares. O segundo momento será a fase de vivência das mulheres em uma moradia compartilhada, com aluguel social subsidiado.
O projeto vai garantir subsídio do aluguel social nos primeiros anos e a substituição das moradoras nos anos subsequentes. Na proposta está incluído o subsídio por um período de dois anos, o que viabilizará a permanência gratuita das jovens na Casa das Juventudes neste período de acomodação de suas vidas profissionais e pessoais até que consigam ter acesso a uma moradia individual. No primeiro semestre, o subsídio será de 100%. No segundo semestre, 75%. No segundo ano, o valor continua sendo reduzido de maneira escalonada, 50% e 25% nos semestres seguintes, respectivamente.
As jovens selecionadas para dividir a moradia compartilhada na Casa das Juventudes assinarão um contrato de aluguel com a associação e serão locatárias, sendo a Associação Haja a locadora. Mesmo que o subsídio do aluguel dure apenas dois anos, as jovens poderão permanecer na casa por período indeterminado. Aquelas que decidirem sair para uma moradia individual, ou por outras decisões pessoais, abrirão vagas para novas mulheres que serão selecionadas com os mesmos critérios
Para a pedagoga voluntária da Associação Fundo Haja Rehabitar, Helena Whyte, a convivência na futura moradia vai ser construída junto das jovens que vão viver no local. “Seguimos a metodologia de Paulo Freire, que nos ensina que educação se faz com as pessoas e não para elas. Dessa forma, durante a implantação do projeto, serão ouvidas as jovens e os gestores das repúblicas e casas de acolhimento, para melhor compreensão das demandas e funcionamento dos cursos e da casa compartilhada. O objetivo dessa escuta será dar voz às beneficiárias para que elas possam opinar, dar sugestões e manifestar suas expectativas em relação ao proposto pela Casa das Juventudes”, pontuou.
Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas com Vanessa Gayego Bello Figueiredo, pelo telefone 19 98170-6988.
HISTÓRICO
A Casa das Juventudes é o segundo projeto da Associação Fundo Haja Rehabitar. O primeiro foi inaugurado no ano passado para quatro famílias em situação de vulnerabilidade social, lideradas por mães solo. Elas moram em uma casa reformada, restaurada e localizada na Rua Saldanha Marinho, no Centro de Campinas.
Batizado de Vila Sal, o imóvel foi construído em 1929 e estava há aproximadamente dois anos sem uso. Considerando a compra da casa, as obras e o restauro necessários, foram investidos R$ 550 mil. O montante foi levantado através de um financiamento coletivo, fora as doações realizadas para a aquisição de itens de mobiliário para as famílias, como camas, berços para os bebês, etc.
Cada uma das famílias paga um valor social, R$ 470 cada, que serve para o aluguel, contas de água, energia elétrica (taxa mínima de consumo, considerando que o imóvel tem energia solar), impostos, internet, canais de TV por assinatura, seguro e manutenção do imóvel. Os contratos são de 60 meses, podendo ser prorrogados de forma indefinida, ou seja, até quando elas precisarem ficar. Visitas no local são permitidas, mas é proibida a mudança de homens adultos para morar no imóvel.
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