Moradores próximos da Lagoa João de Deus Sproesser, na Vila Farid Calil dizem que o problema vem desde o começo do ano, e que até as pescarias nos fins de semana acabaram
A proliferação da planta é tão expressiva que os cerca de 300 metros de extensão da lagoa foram totalmente cobertos (Dominique Torquato/AAN)
Um dos principais pontos de lazer e turismo de Monte Mor, a centenária Lagoa João de Deus Sproesser, na Vila Farid Calil, foi completamente tomada por alfaces aquáticas, situação que está pondo em risco a sobrevivência de peixes do local e a presença de aves migratórias como garças e tuiuiús, além de outros animais silvestres como o ratão-do-banhado. Moradores do local dizem que o problema vem desde o começo do ano, e que até as tradicionais pescarias nos fins de semana acabaram. “É uma judiação o que está acontecendo aí. Essa lagoa era limpinha. Pescava nela desde criança e agora não encontramos mais traíras, tilápias e tiramboia. Essa praga tá acabando com tudo”, disse o aposentado José Maria Duarte, de 68 anos, que mora ao lado do manancial. A proliferação da planta é tão expressiva que os cerca de 300 metros de extensão da lagoa foram totalmente cobertos. Não se vê mais água. Outro vizinho, o aposentado Luis Barroso, de 75 anos, afirmou que a Prefeitura chegou a desenvolver um trabalho de limpeza neste ano na lagoa usando tratores, pás carregadeiras e até de modo manual, com enxadas e caçambas, mas não houve sucesso. “Com as chuvas, as alfaces d’água voltaram a crescer e a tomar conta de tudo.” Foto: Dominique Torquato/AAN Nelson Brasil e a lagoa "verde": despejo de esgoto deve ser impedido A bióloga Luíza Ishikawa, da PUC-Campinas disse que a presença da alface d’água é positiva dentro de um manancial, mas desde que em proporções adequadas. Assim, ela consegue manter sob controle os níveis de poluição do pântano. No caso da lagoa de Monte Mor, a bióloga afirmou que a situação de proliferação exagerada da planta ocorre porque há poluentes, como esgoto in natura, sendo jogados no corpo de água, que servem de nutrientes para a planta. O que pode acontecer, segundo ela, é a redução da população de peixes, de aves migratórias e de outros animais que procuram o local até como moradia. “A grande presença da alface d’água impede a luminosidade no fundo da lagoa e atrapalha a fotossíntese das plantas, reduzindo o oxigênio e matando peixes e outros micro-organismos vivos. O ideal seria acabar com a poluição do local, só assim o problema seria resolvido porque não haveria alimento para a planta.” O fotógrafo Nelson Brasil Filho, de 60 anos, que também mora em frente a lagoa e tem um acervo de fotos antigas da área, disse que a lagoa recebe poluentes do Rio Capivari e do córrego Água Choca. “Eu via muito biguá (pássaro) aí tentando pegar peixes para comer, mas agora eles sumiram. Na minha opinião, se não for resolvido o problema do lançamento do esgoto aí nenhum trabalho vai surtir o efeito esperado”, alertou. Brasil Filho diz estar fazendo um trabalho junto à Prefeitura para normalizar a situação da lagoa, mas até agora nada definitivo foi acertado. Ele diz estar contando com o apoio do Ministério Público Estadual para resolver a questão. O morador revelou que a Administração chegou a colocar uma barreira de terra como proteção para impedir que o esgoto chegasse à lagoa João de Deus, sem sucesso. “Quando chove muito a barreira não segura.” Outro lado O secretário municipal de Meio Ambiente e Agricultura de Monte Mor, Miguel Padilha, informou que parte da lagoa pertence à Prefeitura e que outra pertence a particulares, mas que, mesmo assim, a pasta está tomando todas as medidas para regularizar a situação. Um trabalho paliativo de limpeza no local deve ser realizado nos próximos dias. Segundo Padilha, a Administração protocolou em Brasília um pedido de verba para fazer uma grande limpeza na lagoa, com a compra ou cessão de equipamentos apropriados, mas que ainda não obteve resposta. “O trabalho que já fizemos não surtiu efeito. Como é um trabalho caro contamos com a ajuda das autoridades.” Ele concluiu que a Prefeitura tem estudos para fazer a despoluição da lagoa, mas que ainda não há prazo para o desenvolvimento do trabalho.