Manoel Luiz Silva, de 93 anos, deixou a família na década de 60 e agora voltou para casa; acidente com serra cortou a ponta de um dos dedo dele, e foi através disso que filha reconheceu o pai
Ele nos abandonou quando a gente estava crescendo, mas agora é velhinho e não é por isso que vou abandoná-lo, disse a filha r (Arquivo da família)
A emoção tomou conta de uma pequena casa localizada em uma viela no Jardim Campineiro, em uma história que parece enredo de filme. Após décadas de saudade, angústia e incansável procura por notícias, a família reencontrou o pai depois de 46 anos de distância. Lúcido e com saúde de fazer inveja, Manoel Luiz Silva, de 93 anos, tomou um ônibus em Praia Grande — onde morava desde que deixou Campinas — em busca dos oito filhos que não via desde o final da década de 1960. Na ocasião, a separação da esposa afastou Manoel dos filhos, mas a saudade nunca cessou e o sentimento o fez reencontrar a família. A surpresa aconteceu no último domingo. Com memória impressionante, o idoso pegou um táxi após desembarcar na rodoviária e se dirigiu até o endereço no qual construiu a pequena casa, onde atualmente mora uma de suas filhas, colocando fim ao longo período de separação. “É uma história incrível, um milagre, é um sonho ter encontrado o meu pai. Ele chegou no táxi e bateu no portão. Estávamos todos reunidos, minha irmã abriu e ele disse que estava com fome. Ela deixou entrar e só depois ele falou: Sou o pai de vocês”, contou com os olhos cheios d’água a assistente técnica Neusa Silva, de 58 anos, uma das filhas de seo Manoel. Neusa tinha 12 anos quando viu o pai pela última vez e disse não lembrar das feições dele. Porém, um detalhe a fez ter certeza que a procura tinha acabado. O idoso trabalhou grande parte da vida como carpinteiro e um acidente com uma serra cortou a ponta de um dos dedos e foi através disso que reconheceu o pai. “Ficamos na dúvida, levei um choque e pedi para ele colocar o dedo em cima da mesa para ver se tinha o defeito no dedo. Ele colocou e confirmei que era ele”, disse.Neusa acolheu seo Manoel em sua casa e promete cuidar do pai até a morte. Sem informações do paredeiro do idoso por mais de 40 anos, ela não desistiu de encontrar o pai e rodou por todo o País em busca de notícias. “Todo ano pegava meu 13° salário e dava voltas com meus filhos procurando pelo nome dele. Fui para Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio de Janeiro. Rodei asilos, procurei entre os mendigos”, relatou.Com olhar desconfiado e fala mansa, o idoso evita falar do período em que ficou longe de casa. A segunda esposa faleceu há cerca de dois meses, e foi o ponto de partida para reencontrar os filhos. Ele lembra com detalhes da casa. “Não tinha condições de vir antes e segurei a saudade. Não queria vir pior do que saí daqui. Comprei esse terreno por dois cruzeiros e fiz um barraquinho de barro”, limitou-se a dizer o idoso.Segundo Neusa, ela tem outros oito irmãos, e alguns não aceitaram bem a volta do pai. Seo Manoel chegou a ser levado por um dos filhos até um albergue, mas Neusa foi buscá-lo de volta. “Aceitei ele de volta de coração e alma, não me interessa o passado, o que aconteceu foi entre ele e minha mãe. Ele nos abandonou quando a gente estava crescendo, mas agora é velhinho e não é por isso que vou abandoná-lo. Não vivo de passado e não quero nada dele”. Hoje, ela, um irmão e o pai viajam para a Praia Grande, onde vão conhecer os três irmãos, fruto do segundo casamento de seo Manoel. Na viagem aproveitarão para ver as condições e o local que foi a morada do pai nas últimas décadas. Mas a volta ao lar campineiro está assegurada. “Não vou mais desgrudar dele”, prometeu Neusa.