RELIGIÃO

Capelas guardam o lado simples da fé

Em Joaquim Egídio, pequenas capelas podem ser encontradas em trilhas e caminhos de terra

Luciana Félix
30/03/2013 às 21:03.
Atualizado em 25/04/2022 às 22:26
Valdecir de Carvalho Dias faz oração em frente à pequena capela localizada no meio de uma área verde no distrito de Joaquim Egídio: traquilidade e simplicidade (Gustavo Tilio/Especial para AAN)

Valdecir de Carvalho Dias faz oração em frente à pequena capela localizada no meio de uma área verde no distrito de Joaquim Egídio: traquilidade e simplicidade (Gustavo Tilio/Especial para AAN)

Elas são simples, pequenas, e estão longe de terem esculturas e pinturas ornamentais em seu interior, como é costume nos grandes templos religiosos. Foram construídas “tijolo a tijolo” ou restauradas pelo empenho das próprias comunidades. Muitas ainda esperam por mais recursos para poderem acomodar mais gente. Mas, nos finais de semana, elas recebem dezenas de fiéis em busca de oração e reflexão. Símbolo de fé, as capelas resistem ao tempo e se tornam espaço de convivência e união de pessoas em áreas remotas de Campinas.

Quando o número de pessoas ultrapassa sua capacidade, as orações são feitas do lado de fora dos pequenos templos, em gramados e áreas abertas. Todo domingo tem missa ou celebração — isso depende da presença de um padre que vem de alguma paróquia de um bairro vizinho. Mas, mesmo sem a certeza da ida de um sacerdote, todas reúnem pessoas nas manhãs de domingo.

A pequena capela do Sagrado Coração de Maria fica no bairro Carlos Gomes, zona rural do município. A igrejinha é centenária e pertencia à Fazenda Santa Rita do Mato Dentro. Ela foi tombada, em 2004, pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc). A construção é bem simples, nas cores azul e branco, e uma pequena cruz fixada no alto do telhado, com o altar em mármore, dão o tom do acabamento.

Porém, esse é o lugar escolhido para as manifestações de fé cristã dos cerca de cinco mil habitantes do bairro. “Ela chegou bem antes de todo mundo. Passou um tempo destruída, mas o empenho da comunidade a fez ficar bonita novamente”, afirmou a comerciante Maria Ananias Ferreira de Souza, de 64 anos, que vive há 40 no bairro.

“Antigamente era muito comum as fazendas terem as pequenas capelas, que os donos mandavam erguer para fazerem orações e também para seus funcionários. Eram ao menos cinco nesta região, mas todas se tornaram ruínas e acabaram com o tempo. De toda a minha infância, só sobrou essa. Ainda bem”, disse.

A mulher afirmou que a chave da capela fica com os próprios moradores. “Hoje somos um grupo forte que cuida da capela da padroeira do bairro. Não troco ela por nenhuma outra igreja no mundo. Aqui me sinto perto de Deus, da simplicidade dele. Não precisamos de grandes templos cheios de luxo, masde grandes corações e de fé”, afirmou.

Não muito longe dali, também na zona rural de Campinas, uma capela foi recém construída pelos moradores no alto de um morro, no bairro Gargantilha. Ela demorou quatro anos para ser erguida. Hoje, é ponto de encontro dos habitantes do local. Batizada de Comunidade São João Apóstolo, a pequena igreja ainda precisa de alguns reparos e acabamento. Mas, para uma de suas fundadoras, o templo é um “pedacinho do paraíso”. Benedita Afonso Marquete, de 89 anos, é tesoureira e guardiã das chaves da capela. “Conseguimos terminá-la com muita luta.”

A mulher cuida de todos os detalhes do interior da igrejinha. “Temos a imagem do nosso santo protetor, de Jesus e alguns outros itens. É tudo muito simples, mas existe ou existiu alguém mais simples que Jesus? Então, para que um monte de coisas para enfeitar? O que precisamos é de um lugar de paz, onde as pessoas se unam para ter momentos de celebração e de elevação de pensamentos para Deus. E não de riqueza. Para orar, qualquer lugar é lugar, até mesmo um gramado”, afirmou.

Para outros fiéis, nem é necessário uma construção para ter momentos de fé e oração. No distrito de Joaquim Egídio, ao menos três pequenas capelas, mas pequenas mesmo, podem ser encontradas em trilhas e caminhos de terra. Uma delas, bastante conhecida pelos adeptos da caminhada no distrito, é a capela Santa Rita de Cássia, que fica na Rua Hermógenes Augusto.

O lugar é bem simples. Além do altar, onde fica a imagem da santa protetora, há um espaço onde os fiéis podem parar e fazer suas orações. “Há 15 anos faço minhas orações aqui, antes de caminhar. Duas vezes ao ano fazemos missas aqui na frente. Nos finais de semana, a capela fica tomada de pessoas que trazem flores e ascendem velas. É muito bonito e emocionante”, afirmou o segurança Valdecir de Carvalho Dias, de 38 anos, que é morador do distrito.

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