PANDEMIA

Caos explode em Campinas e 100 aguardam leitos

Gravidade da situação leva prefeito a anunciar volta de hospital de campanha e outras medidas

Rodrigo Piomonte/ Correio Popular
11/03/2021 às 10:56.
Atualizado em 21/03/2022 às 23:41
Ambulância estacionada no Hospital Mário Gatti: somente casos urgentes serão atendidos a partir de agora, o atendimento inicial será em postos (Diogo Zacarias/ Correio Popular)

Ambulância estacionada no Hospital Mário Gatti: somente casos urgentes serão atendidos a partir de agora, o atendimento inicial será em postos (Diogo Zacarias/ Correio Popular)

A pessoa que precisar ser internada em algum leito de enfermaria ou de unidade de terapia intensiva em Campinas terá que entrar na fila de espera. Isso porque o colapso do sistema de saúde chegou e a cidade já conta com 100 pessoas aguardando uma vaga, seja em leitos de enfermaria ou de UTI.

O agravamento da crise de coronavírus foi confirmado ontem pelo prefeito Dário Saadi (Republicanos) que anunciou medidas para tentar atenuar os impactos da pandemia, entre elas a reativação do Hospital de Campanha nos Patrulheiros, no Parque Itália. Ontem, o Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp também anunciou medidas para reduzir a superlotação, com a criação de 18 leitos de enfermaria para tratar covid.

Unicamp criará 18 leitos de enfermaria para tratar covid

O prefeito Dário Saadi anunciou a reestruturação durante uma live no Facebook. Nesse "pacote", além da reativação do hospital de campanha nos Patrulheiros, estão medidas como a descentralização dos atendimentos para as pessoas com sintomas respiratórios para os centros de saúde, a alta médica antecipada de pacientes covid para liberação de leitos e até a convocação de servidores aposentados da área médica e médicos voluntários para ajudar nos centros de vacinação e nos leitos de enfermaria que estão sendo montados, respectivamente.

De acordo com informações do Secretário Municipal de Saúde, Lair Zambon, as medidas estão sendo tomadas porque o pré-colapso já está instalado na rede pública e municipal de saúde da cidade. "A nossa ideia é otimizar tantos recursos humanos como leitos. No sentido de evitar que esse pré-colapso hospitalar se estenda", disse o secretário.

Situação

Pelo terceiro dia consecutivo com taxas de ocupação de leitos hospitalares no limite, a Prefeitura confirmou que a cidade já possui uma fila com 70 pessoas à espera de um leito de UTI e 30 aguardando um leito de enfermaria. Conforme a Prefeitura, nenhum dos pacientes da fila está desassistido.

"Essas pessoas estão em estruturas próximas do pronto-socorro, dentro de estrutura hospitalar, que possui respirador. Não estão desassistidas. Eles estão distribuídos nas unidades da rede Mário Gatti à espera de recolocação", disse o prefeito Dário Saadi.

Ontem, dos 332 leitos de UTI exclusivos para pacientes com covid-19 nas redes pública e particular, 312 estavam ocupados, o que corresponde a uma taxa de ocupação de 93,97%. São apenas 20 leitos livres.

No SUS municipal, a taxa de ocupação atingiu 99,15%. Dos 119 leitos, 118 estavam ocupados. No SUS estadual, dos 30 leitos, 30 ficaram ocupados. Na rede particular, dos 183 leitos, 164 estavam ocupados, o que equivale a 89,60%. São 19 leitos livres.

Apesar da abertura de leitos estar acontecendo, o ritmo parece não acompanhar a velocidade da doença na cidade. A Prefeitura conta com a ativação de 50 novas estruturas de leitos de UTI, sendo 10 no hospital Metropolitano, 20 no hospital Mário Gatti e 20 no Ambulatório Médico de Especialidades (AME). No entanto, a previsão para que esses leitos estejam todos à disposição é o final do mês.

Prevendo ainda um período ainda mais longo de crise, a Prefeitura informou que vai reativar o Hospital de Campanha nos Patrulheiros, no parque Itália. Uma empresa especializada já está inclusive contratada para realizar os estudos e organizar a estrutura. A unidade, que tem capacidade para 36 leitos de enfermaria, já funcionou na cidade entre maio e agosto do ano passado.

Atendimentos

Para desafogar os atendimentos e evitar o congestionamento nos hospitais Mário Gatti e Ouro Verde, a Prefeitura vai transformar os Centros de Saúde do São Bernardo, Capivari e Costa e Silva, em locais exclusivos para o atendimento a pacientes covid.

De acordo com a administração, a partir da próxima segunda-feira, esses atendimentos não mais serão realizados nos hospitais Mário Gatti e Ouro Verde. Os hospitais somente atenderão casos covid referenciados pelos centros de saúde, ficando assim restritos apenas para o atendimento de casos de urgência e emergência.

"Os 64 centros de saúde estão sendo preparados para receber e fazer esse atendimento para diminuir o número de pessoas que chegam na porta dos hospitais. Não estamos fechando a porta dos hospitais, estamos abrindo mais opções de atendimento e atuando para evitar o congestionamento que está havendo tanto no Mário Gatti quanto no Ouro Verde", explicou o Secretário Municipal de Saúde, Lair Zambon.

Antecipação de alta

Outra manobra que a Prefeitura projeta para liberar e otimizar os leitos de enfermaria para absorver a alta demanda de pacientes covid é antecipar a alta médica através do fornecimento e instalação de concentradores de oxigênio na casa dos pacientes.

Segundo o secretário, com o fornecimento e instalação do aparelho na casa do paciente e o apoio das equipes de atendimento domiciliar, será possível antecipar de três a quatro dias a alta médica para as pessoas vítimas da covid-19 que já estiverem em condições de seguir com o tratamento em domicílio.

Segundo o secretário, serão fornecidos 200 aparelhos tanto para pacientes atendidos na rede particular quanto na rede pública, o que permitirá, segundo prevê a Prefeitura, uma desocupação do mesmo número de leitos de enfermaria tanto da rede pública quanto privada.

"Isso será para os pacientes que estão numa enfermaria só usando oxigênio e dependem dele para ficar aqueles dois a três dias antes de ir embora para casa. Nós vamos adiantar essa alta, e com o grupo da Prefeitura e da diretoria de saúde nós vamos organizar o encaminhamento do concentrador de oxigênio. Iremos até a casa do paciente e instalaremos o aparelho para o paciente usar até o tempo que precisar. Com essa medida, 200 leitos serão otimizados tanto para rede pública quanto privada", disse Zambon.

Mão de obra

Com a ativação gradativa de novos leitos de enfermaria e UTI a Prefeitura está enfrentando problemas de recursos humanos para atuar nesses locais. Segundo a Prefeitura, estão sendo realizados contatos com entidades que possuem residência médica e enfermaria para buscar profissionais para atuarem nos leitos de enfermaria.

"Vamos procurar todas as instituições de residência médica e também de enfermagem no sentido de nos ajudar nesse momento. Vamos tentar captar esse tipo de mão-de-obra como um residente de dermatologia, de cirurgia, quando as cirurgias eletivas estão suspensas, de ortopedia, aqueles que não estão operando, no sentido de nos ajudar no atendimento, principalmente nas enfermarias, que é onde nós estamos precisando no momento", disse Zambon.

O prefeito Dário Saadi fez inclusive um apelo para os servidores da área médica recém aposentados que puderem, que sejam voluntários para atuar nos centros de imunização, para que os profissionais da assistência que estão atuando na campanha de vacinação da covid-19 sejam remanejados para o enfrentamento da crise.

Para a médica Fátima Bastos, presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), a iniciativa da Prefeitura é válida. e tenta resolver um problema urgente no sistema de saúde. Ela ressalta apenas que deve ser oferecido condições adequadas e remuneração.

"Tanto um residente quanto outros médicos formados podem ter condições de trabalhar em uma enfermaria. Mas, claro, é importante que sejam oferecidas condições de trabalho e remuneração adequadas para desenvolver bem o seu trabalho", completa.

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