Há menos disponibilidade de água do que se imaginava para partilhar entre as regiões na renovação da outorga, marcada para outubro
Represa reserva do Atibainha, que faz parte do Sistema Cantareira, na cidade de Nazaré Paulista: crise hídrica atrasou renovação da outorga (AE)
O Sistema Cantareira não consegue mais regularizar a vazão de 36 metros cúbicos por segundo (m3/s), volume que serviu de base para a partilha de água definida em 2004, na renovação da outorga do sistema, quando as Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) passaram a ter direito a 5m3/s e a Grande São Paulo de 31m3/s. No máximo, a capacidade de regularização do sistema é de 34,4m3/s, segundo o Consórcio PCJ. Ou seja, há menos disponibilidade de água do que se imaginava para partilhar entre as regiões na renovação da outorga, marcada para outubro. A capacidade de regularização de um reservatório é como se fosse uma poupança para quando houver escassez. Assim, em ano muito chuvoso, a barragem armazena a água e no período seco, quando a vazão natural é insuficiente, a barragem libera a água e regula, assim, a vazão nos rios que abastecem as cidades.A incapacidade do sistema em regularizar os atuais 35m3/s foi detectada pelo especialista em recursos hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo. Segundo ele, o sistema consegue regularizar uma vazão mais baixa, em torno de 34m3/s em 95% do tempo, conforme análises feitas em um período de 40 anos dos reservatórios. O Cantareira, no período da construção, foi dimensionado para uma situação de baixa e acabou ficando subdimensionado para o período que veio depois, de quatro décadas operando em alta. Só que o que ele possui hoje não é suficiente para regularizar a vazão. Para que isso possa ocorrer, será preciso ampliar a capacidade de reservação, ou então fazer o alteamento de algum reservatórios ou ainda construir outros reservatórios a montante do Cantareira. Na semana passada, o Consórcio PCJ encaminhou aos Comitês PCJ uma série de estudos e apontamentos que, na visão dos técnicos, devem ser levados em consideração na formulação de uma proposta de volume meta a ser alcançado na renovação da outorga. Entre eles, está a incapacidade do sistema em regularizar os atuais 3m3/s; outro ponto é a interrupção de uso da ferramenta chamada banco de águas, que se mostrou equivocada no período de cheias. Foi o excesso de chuvas no final de 2009 e início de 2010 que mostraram que as regras operativas do Cantareira falharam, como é o caso do banco de água. Quando a região não precisar dos 5m3/s, o Cantareira liberará menos e a diferença formará um banco de água. É uma poupança para ser usada quando chega a estiagem e a região precisa de mais água. A Região Metropolitana de São Paulo também tem seu banco. A regra, no entanto, define que quando o reservatório estiver cheio e houver necessidade de verter água, o banco de água zera. É o que ocorreu. Veio a estiagem, a região precisou de mais água mas não tinha poupança. Para a região não perecer, a Agência Nacional de Água (ANA), Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee) e a Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico se reuniram extraordinariamente e foi autorizada a liberação para as Bacias PCJ, mesmo com a conta zerada no banco.O consórcio também sugere que sejam implantadas Curvas de Aversão a Enchentes (CAE) em complemento às Curvas de Aversão ao Risco (CAR), prevista na outorga de 2004 e a criação de uma reserva estratégica gerenciada pelos organismos gestores, além de não indicar a inclusão do reservatório Paiva Castro no cálculo do Sistema Equivalente (média de armazenamento do sistema que tem como referência os reservatórios de Jaguari/Jacareí, Cachoeira e Atibainha).Propostas serão recebidas até o dia 14 de agostoA Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee) divulgaram na semana passada os dados de referência da outorga do Sistema Cantareira atualizados até 2014 e estabeleceram o novo calendário de debates e propostas para a renovação que ocorrerá em 31 de outubro. Os dados incluem documentos normativos, séries de vazões e de qualidade da água das bacias PCJ e do Sistema Cantareira, demandas e dados operacionais, entre outros. ANA e Daee recebem até 14 de agosto as propostas para a renovação da outorga elaboradas pelos entes do sistema, ou seja, os Comitês das Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) e do Alto Tietê, além do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e da Sabesp. Na terceira e última etapa, até 18 de setembro, será feita a apresentação de uma proposta guia para o processo final de discussão. A renovação da outorga deve ser concluída até 31 de outubro. A outorga de direito de uso das águas do Sistema Cantareira foi concedida pelo Daee à Sabesp, por delegação da ANA, em agosto de 2004 e venceria em agosto do ano passado, mas, devido à crise hídrica, o prazo foi estendido até outubro de 2015.