ELES ESTAVAM LÁ

Campineiros relatam drama vivido no Litoral Norte de SP

Experiência é relatada pelos jovens como algo muito difícil de se esquecer

Da Redação
23/02/2023 às 08:41.
Atualizado em 23/02/2023 às 08:41

Moradores de comunidade de São Sebastião se unem para retirar toneladas de lama que desceram dos morros, invadiram as casas e soterraram vítimas: esforço para recomeçar (Rovena Rosa/Agência Brasil)

A tensão e sofrimento vivenciados no Litoral Norte de São Paulo, atingido pelas chuvas neste Carnaval, não saem da cabeça dos campineiros que estavam na região no último final de semana. Eles fizeram um relato dramático dos momentos difíceis pelos quais passaram. As amigas Júlia Corrêa, de 21 anos, e Kamille Ferreira, de 22, de Taubaté, estavam com um grupo de amigos que resolveu passar o período da folia na praia. Júlia foi ao "Baile da Favorita" em Maresias, no sábado, com seis amigos. Traumatizada com a experiência, ela preferiu não conversar com a reportagem e foi a amiga quem contou tudo o que aconteceu.

Os pais de Kamille levaram o grupo de amigos para Maresias e pretendiam voltar para casa, em Taubaté, no interior paulista, mas, devido à chuva, preferiram não se arriscar. "Estava chovendo muito na estrada. Meus pais estavam aflitos e nos aconselharam a voltar. Porém, já tínhamos pago (pelo show) e estávamos a fim de curtir. Não ouvimos o conselho”, recordou a jovem.

Quando o grupo chegou ao Sirena, local da festa, a rua estava começando a inundar. Algo que os jovens encararam como normal. Eles aproveitavam a festa e tudo seguia dentro do previsto. Porém, quando souberam que a principal atração da noite, o funkeiro MC Ryan, estava atrasado para a sua apresentação, os amigos começaram a considerar a possibilidade de irem embora, porque a energia já havia caído quatro vezes. Mas, mesmo assim, resolveram dar uma chance para a noitada. 

Segundo Kamille, um pouco depois os amigos começaram a “cair na real” e a pensar no carro debaixo daquela chuva torrencial. "Achamos que poderia entrar água no escapamento ou que a lama faria o carro patinar, coisas assim. Até aquele momento, era tudo zoeira", contou a jovem. 

Como o MC Ryan continuava atrasado, os amigos resolveram checar nas redes sociais se ele estava a caminho. Foi quando viram as imagens das ruas alagadas que o próprio cantor havia postado no Instagram. "Fomos embora literalmente correndo para chegar rápido ao carro e ‘vazar’ daquele lugar. Na saída do Sirena, a água cobria nosso pé e a gente achando que era apenas um ‘perrengue’, estava um caos engraçado", relatou a jovem. À medida que foram andando, a graça foi dando lugar à preocupação. "Fomos encontrar meus pais e a água não parava de subir, meu chinelo grudava no barro. Não dava para ir descalça, porque não conseguia enxergar absolutamente nada, contou. 

Por não conhecer Maresias, as jovens seguiam andando com muita apreensão e insegurança. "Um homem nos viu e gritou para a gente não continuar andando na direção que estávamos indo, porque tinha um buraco à nossa frente. Ele nos orientou a virar em uma rua que estava seca", disse Kamille, que chamou “anjo” aquele estranho. 

A paulistana Sophia Cesana Yui, estudante de 22 anos que estava também no grupo, foi junto com as duas amigas a uma padaria, em busca de abrigo, onde ficaram pelas próximas 24 horas. "Avisei meus pais que havia parado lá e que estava com os pais da Kamille, esperando a chuva passar. Já era manhã quando o sinal do celular caiu e não tínhamos dinheiro físico, só digital", relatou. 

Por estar sem reservas, comida e molhados, o grupo precisou contar com a generosidade alheia. "O pai da Kamille conseguiu falar com o dono da padaria, o seu Djalma, que deixou a gente comer fiado e o seo Ricardo, dono de uma loja de roupas, permitiu que pegássemos umas roupas secas fiado também. O dono da farmácia, ao lado da padaria, também nos ajudou", recordou Sophia

Sem conexão, eles não faziam ideia da real situação das estradas. "Conforme as horas passam, ficávamos cada vez mais ansiosos, sem conseguir dar notícias aos meus pais. Cada hora que passava, aumentava mais a angústia.” 

O grupo chegou a cogitar voltar caminhando para a casa, caso a estrada não fosse liberada até o nascer do sol do domingo. Mas, ao descobrirem que a estrada estava liberada, seguiram viagem de carro. 

Ao chegar em casa, a jovem taubateana disse que não acreditou e que se sentiu "abençoada" por “poder voltar naquele momento. Eu achei que ia ter que ficar mais algumas semanas lá".

Cerca de 83 quilômetros de distância de onde o grupo de amigos estava, a jovem jornalista de 23 anos, Mariana Padovesi, estava em um condomínio fechado na Praia da Lagoinha, em Ubatuba. O local fica longe de encostas e, por isso, Mariana só ficou sabendo da gravidade das chuvas quando ligou a televisão na manhã de domingo e quando viu as mensagens dos pais no celular perguntando se ela estava bem. "No sábado à noite, vi que choveu bastante.Dormi ouvindo o barulho da chuva, mas não imaginava a dimensão disso tudo. Acordei e estava um dia bem bonito, com sol", relatou a jovem. 

Ela disse que na manhã de domingo o mar estava de ressaca e bem sujo. "Não tinha mais praia, a onda pegava toda a areia, tinha muita sujeira". Mariana adiantou a volta em algumas horas, porque pretendia voltar para Campinas na noite de segunda-feira, mas, por medo das condições das estradas e da chuva, ela optou por voltar para a metrópole na manhã de segunda-feira.

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