Além de ser a que mais gastou, classe B apresentou o maior crescimento em relação à 2023, 20%
Elevação das despesas com perfume, maquiagem, sabonete, creme, bronzeadores e outros produtos para o cabelo, pele, boca e unhas reflete o ambiente macroeconômico mais favorável, na análise da economista Alessandra Ribeiro; Márcia Mendes investiu cerca de R$ 140 mil na abertura de dois novos salões e contou que o movimento tem sido positivo (Alessandro Torres)
Os gastos com higiene e cuidados pessoais em Campinas somaram R$ 1,73 bilhão em 2024, alta de 12,1% em comparação ao resultado de R$ 1,54 bilhão do ano anterior. A elevação das despesas com perfume, maquiagem, sabonete, creme, bronzeadores e outros produtos para o cabelo, pele, boca e unhas foi apontada pela pesquisa do Índice de Potencial de Consumo (IPC) Maps a partir de dados oficiais. De acordo com o estudo, realizado há mais de 30 anos, a classe B apresentou o maior crescimento no ano passado e também foi a que mais gastou. As famílias com renda entre 10 e 20 salários mínimos, de R$ 15,18 mil a R$ 30,36 mil, destinaram R$ 782,61 milhões para esse tipo de gastos, aumento de 20,2% em relação aos R$ 651,09 milhões de 2023.
Ou seja, essa fatia da população foi responsável por R$ 4,52 em cada R$ 10 voltados para higiene e cuidados. A pesquisa mostrou crescimento nos gastos em todas as classes, com a A chegando a 12,5%, enquanto no caso da C a alta foi de 4,2% e na D/E, 5,7%. “O crescimento das despesas refletiu um ambiente macroeconômico mais favorável”, afirmou a economista Alessandra Ribeiro. Para ela, o consumo também foi influenciado pelas questões climáticas, com o aumento das temperaturas levando à maior conscientização sobre os riscos da exposição ao sol. Os produtos de higiene, especialmente para banho, cuidados com os cabelos e desodorantes, também foram impulsionados por esse fator.
EM ALTA
“No entanto, o que pesou mesmo foi o aumento da renda e a queda do desemprego. Muitos consideram os gastos com beleza e cuidados pessoais como supérfluos e reduzem diante de qualquer sinal de crise”, disse a especialista. De acordo com a IPC Maps, os gastos nessa área ocupam o sétimo lugar entre as maiores despesas da população, atrás de moradia, veículo próprio, alimentação em casa e fora de casa, materiais de construção e plano de saúde, e está à frente de outros três, medicação, educação e vestuário.
“Sou viciada em maquiagem e perfume. Eu gasto em torno de R$ 1 mil por mês. Sou muito gastadeira e, como toda mulher, vaidosa”, contou a caixa Nadieli Caroline Bento Guedes de Sá. Ontem, ela foi ao Centro e aproveitou para comprar roupa e tinta de cabelo. A consumidora não se descuida também do cuidado com a pele, usando diariamente protetor solar. “É preciso se cuidar.
A gerente de uma loja de cosméticos na Rua 13 de Maio, Sueli Cândido da Silva, comemorou as vendas. “O ano de 2024 foi melhor do que 2023, com aumento nas vendas em diversas linhas, mas as empresas que investem nas redes sociais, como no TikTok e Instagram, saem na frente. É só lançar um novo produto e as clientes já chegam procurando”, explicou.
RENDA MAIOR
A evolução dos salários e o aumento da renda ajudam a explicar o desempenho das vendas. De acordo com o Mapa da Criação de Empregos da Região Metropolitana de Campinas, do Observatório PUC-Campinas, a média salarial dos admitidos em outubro foi de R$ 2.162, um aumento real (descontada a inflação) de 2,23% em relação a igual mês 2021, quando foi criado o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. Na época, a média salarial era de R$ 1.808,94. Entre janeiro e novembro do ano passado, as 20 cidades da RMC acumularam a criação de 41.268 novos empregos com carteira assinada. O saldo é como se toda a população de uma cidade do porte de Pedreira tivesse conquistado uma vaga.
“Sempre que há aumento no emprego e na renda é natural que parte desse dinheiro vá para o consumo”, analisou a economista Alessandra Ribeiro. A consumidora Rosana Dragonetti reserva todo o mês uma parcela da renda para compras produtos de higiene e cuidados pessoais. “O que eu mais gosto são produtos para cabelo e maquiagem”, observou ontem enquanto renovava as compras.
A dona de casa Neilse Santos Alves procura conter as despesas com cuidados pessoais, mas não abre mão de itens para tratamento capilar. Na cestinha de compras, levava cremes e tinta. A estudante Jenifer Mendes Cotia aproveitou a quinta-feira para fazer um penteado e maquiagem, mesmo sem ter um evento especial programado. “Eu gasto, pelo menos, uns R$ 300 por mês. Gosto muito de me cuidar.”
REFLEXO
O dinheiro destinado à higiene e aos cuidados pessoais também beneficia o setor de prestação de serviço na área de beleza, que não entra nos dados do IPC Maps. As atividades de cabeleireiro, manicure e pedicures lideraram, pelo quinto ano consecutivo, o registro de microempreendedores individuais (MEIs) em Campinas em 2024. Elas foram responsáveis por 7.801 novos cadastros, à frente do número de 6.745 profissionais de promoção de vendas, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo (Sebrae-SP).
O levantamento feito a partir do Portal do Empreendedor do governo federal apontou ainda que as cinco primeiras colocações do ranking de abertura de MEIs foram ocupadas pelas áreas de preparação de documentos e serviços de apoio administrativo (6.147), comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios (4.912) e transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudança, municipal (4.766). Os dados do Sebrae mostram ainda que a faixa etária de 31 a 40 anos predomina entre os novos empreendedores, seguidos pelos de 41 a 50 anos e de 21 a 30 anos.
A cabeleireira e empresária Márcia Mendes investiu cerca de R$ 140 mil na abertura de dois novos salões no Centro de Campinas, passando a administrar três unidades. “O ano passado foi bom. Nós não paramos no final do ano, com todos os horários ocupados”, revelou. Hoje, os seus estabelecimentos geram em torno de 24 empregos, considerando os profissionais que trabalham por comissão.
OUTRAS CIDADES
De acordo com o IPC Maps, Campinas teve uma participação de 38,79% nos gasto total de R$ 4,46 bilhões com higiene e cuidados pessoais na Região Metropolitana (RMC), montante que cresceu 10% em relação aos R$ 4,06 bilhões de 2023. Mas a pesquisa mostra uma diferença entre as classes sociais na comparação com Campinas. Entre a população regional, o maior crescimento ocorreu entre as famílias das classes D/E, com renda de até R$ 2,8 mil. O aumento foi de 15,4%, passando de R$ 299,09 milhões pra R$ 345,07 milhões.
A classe B ficou em segundo lugar entre as que mais elevaram as despesas na área, mas lidera no total de gastos. O valor no ano passado foi de R$ 1,92 bilhão, elevação de 12,8% em comparação ao R$ 1,7 bilhão de 2023. As famílias da classe C tiveram um aumento de 7,3%. A classe A, 5,2%. A pesquisa do IPC Maps mostrou também crescimento de 8,45% no número de estabelecimentos comerciais de varejo de cosméticos, artigos médicos e óticas, passando de 5.243 em 2023 para 5.686 em 2024.
Em 12 meses, a região ganhou 443 novas lojas. A média na alta da RMC superou a de Campinas, que foi de 7,59%. Na cidade, o total de lojas passou de 2.292 para 2.466, com a abertura de 174 novos estabelecimentos em um ano. De acordo com a Euromonitor Internacional, o Brasil é o terceiro maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo, atrás dos Estados Unidos e China. A indústria no país cresceu 12,7% em 2023, contra 9,3% da média mundial. O faturamento do setor naquele ano totalizou R$ 156 bilhões no mercado nacional.
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram.