SOCIEDADE

Campineiro retrata percalços da vida de motoboy

Sua esperança é que, em breve, alguma emissora de televisão se interesse pelo seu vasto trabalho, feito em apenas um ano à frente das câmeras e dos celulares

Gustavo Abdel
23/04/2016 às 17:58.
Atualizado em 23/04/2022 às 00:51
João Gomes Jr. comanda o canal no YouTube com comentários supersinceros sobre a relação com a clientela (Dominique Torquato/ AAN )

João Gomes Jr. comanda o canal no YouTube com comentários supersinceros sobre a relação com a clientela (Dominique Torquato/ AAN )

O sucesso “acelerado” do motoboy João Gomes Junior inclui buzinas, passagens, tudo com muito humor na internet. Esse campineiro de 42 anos já alcançou números invejáveis a muita gente que faz produções independentes na web. Ele é o responsável pelo canal no YouTube chamado João da Nica — pseudônimo que revela um João sem qualquer paciência com os clientes que solicitam seus serviços de motoboy. Mas ele garante ser um “doce” com a clientela. Sua esperança é que, em breve, alguma emissora de televisão se interesse pelo seu vasto trabalho, feito em apenas um ano à frente das câmeras e dos celulares. Nesse curto período já foram produzidos de maneira ultracaseira (mas com uma boa edição) 90 vídeos que mostram situações embaraçosas em que os motoboys se veem diante de clientes que atrasam a vida do profissional. Geralmente com dois celulares, um na mão da mulher Nica ou dos filhos Laura e Laio, João chama amigos — e até mesmo a mãe, dona Neusa — para contracenar e faz vídeos de no máximo dois minutos mostrando a dura realidade dos “boys”. Xinga, se exalta com os clientes e, com seu jeito supersincero, desabafa o que muitos motoboys gostariam de falar no momento de uma entrega mas, é claro, priorizam o emprego. “Estou recebendo muitos comentários de motoboys que se enxergam nessas situações”, conta João. O alcance dos vídeos caseiros chegou recentemente ao Facebook do lutador Anderson Silva, que compartilhou em sua página dois deles. Também foi mostrado recentemente em programas da Rede TV! e da apresentadora Sabrina Sato, na Record. “Estou muito feliz”, disse Gomes Júnior. Nove anos O profissional trabalha como motoboy há nove anos. Conta que chegou “empurrado” para fazer entregas. Com a mulher abriu uma loja de roupas em 2007, após ter perdido o emprego em um grande parque de diversões na região. Ao invés de ficar na loja da mulher vendendo roupas femininas, decidiu encarar a vida nas ruas, no trânsito caótico da cidade. “Minha esposa disse: agora você está apelando, né? Mas abri empresa e no começo bati cabeça. Pedi muita ajuda para me localizar”, lembra. “Nunca tinha passado pela minha cabeça ser motoboy. Você acha que eu queria ser motoboy quando era criança? Imagina, queria ser piloto de avião”, brinca. Hoje, trabalha com dois clientes fixos. Antes de perder o emprego, no qual estava há sete anos, João passou os últimos três trabalhando como ator do parque, interpretando um cozinheiro gay. De segurança passou a ser ator, convocado por um amigo que era gerente de shows do local. “Sempre fui muito contador de piada, tive banda, fazia imitações, e ele (o amigo) perguntou se eu não queria interpretar o papel. Topei e corri para tirar meu DRT (atestado de capacitação profissional)”, lembra. Veia artística A veia artística de João pulsa desde a juventude, quando tocava em bares e fazia sucesso como cover de Renato Russo, um de seus maiores ídolos. Fez diversos comerciais para a televisão, participou de gravação na novela Chiquititas e de teatros empresariais. A ideia dos vídeos começou entre amigos, no começo do ano passado. “Comecei a perceber as dificuldades dos motoboys, e resolvi produzir”, diz. Além disso, grava cenas onde aparece dando conselhos sobre o trânsito, como ficar atento a algumas situações, e revela também o trabalho educativo de João da Nica. “Tudo o que eu planejei na vida deu errado, e tudo que eu não planejei tem dado certo”, diz.

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