Número de veículos guinchados por estacionamento irregular explodiu em Campinas neste ano: foram 972 no primeiro trimestre, contra 300 no mesmo período de 2014, aumento de 224%
Guincho chega com carros no pátio da Emdec no Jardim São João: segundo funcionários, local recebe até 20 veículos fruto de infrações por dia (Erica Dezonne/Especial para a AAN)
O número de veículos guinchados por estacionamento irregular explodiu em Campinas neste ano: foram 972 no primeiro trimestre, contra 300 no mesmo período de 2014, aumento de 224%. Os dados da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) representam cerca de 10,8 carros recolhidos por dia. Os guinchamentos podem ter subido ainda mais nos últimos meses. O Correio esteve na quinta-feira (16) no pátio da Emdec, no Jardim São João, e funcionários informaram que o número de veículos recolhidos por estacionar em local proibido chega a 20 por dia. Enquanto o secretário de Transportes e presidente da Emdec, José Carlos Barreiro, afirma que o aumento é resultado da melhora na qualidade da fiscalização, condutores que tiveram os carros apreendidos questionam a forma como o recolhimento é feito. Para eles o valor do serviço de guincho, hoje de R$ 325,71, é abusivo. A reportagem apurou em empresas de guinchamento, sem contrato com a Prefeitura, que o preço da viagem de um automóvel rebocado do Centro até o pátio fica entre R$ 70 e R$ 120.A reportagem pediu à Emdec a lista das empresas que fazem o serviço de guincho para a Administração, mas a empresa não forneceu. Em nota, disse que “está em fase final novo credenciamento de prestadores do serviço de guincho”. Segundo a Emdec, o processo será concluído na próxima semana e a lista das firmas será publicada no Diário Oficial do Município. Motoristas dizem ainda que muitos pontos de estacionamento nas ruas não têm sinalização clara de “proibido estacionar”. Relatos apontam também um esquema entre donos de estacionamentos particulares e agentes de trânsito, os “amarelinhos”: eles ligariam para a Emdec toda vez que avistam carros parados em locais irregulares.O garçom Pedro Silva, de 29 anos, afirmou que teve o carro guinchado em frente à sua casa, na região do Campo Grande. “Ele estava parado em frente à garagem. Mas a garagem era minha. Agora eu me pergunto: quem ligou para o amarelinho me guinchar? Só pode ser uma máfia dos guinchos”, disse o homem, que esperava em frente ao pátio na tarde de ontem para retirar o carro. Silva disse que irá recorrer da multa. “Se tivesse dinheiro, até processava a Emdec. É um absurdo.” Outro jovem, Diego de Mello Pelagati, de 24 anos, teve o carro guinchado duas vezes em menos de três meses. Ele afirmou que achou abusivo o preço do reboque e as duas diárias que pagou, cada uma no valor de R$ 54,29. Para Pelegati, amarelinhos costumam guinchar aos fins de semana, quando os carros não pode ser retirados. Dessa forma, os motoristas pagariam mais diárias. “E muita gente não sabe que pode chamar um guincho particular e pagar mais barato. Isso nenhum amarelinho ou policial avisa.”Daniela Pinto e Silva, de 28 anos, pagou mais de R$ 600 para conseguir retirar o carro do pátio, que ficou no local por dois dias. “No meu caso, além da multa, estava com o licenciamento vencido. Foi um trabalhão. Mas o que pesou mesmo foi o preço do guincho, que é muito caro.”EsquemaEm alguns locais, motoristas relataram que agentes de trânsito e donos de estacionamento têm um “acordo” para delatarem carros em locais proibidos. O autônomo Luís Freitas, de 34 anos, contou que um dos pontos onde o esquema ocorreria é na Rua José Geraldo Cerebino Christófaro, em frente ao Hospital Madre Theodora, no Parque das Universidades. Segundo ele, na via, a parada é proibida, mas a sinalização não é clara. Quem liga para a Emdec seriam funcionários de um estacionamento na rua. “A alternativa para quem não quer gastar com estacionamento é parar em um local mais afastado, onde há relatos de roubos e furtos”, explicou.PátioO Pátio Municipal de Guarda e Recolhimento de Veículos, às margens da Rodovia Santos Dumont (SP-075), tem cerca de 3,3 mil veículos apreendidos. Já na Vila Industrial, em instalações junto à sede da Emdec, estão cerca de 3,5 mil. O local conta com 1.029 vagas demarcadas, que podem abrigar até 2,3 mil carros.Secretário diz que eficácia aumentouO secretário de Transportes e presidente da Emdec, José Carlos Barreiro, atribuiu a explosão de guinchamentos em Campinas ao aumento da quantidade de carros circulando na cidade e à melhora da fiscalização. Ele alegou que o município tem em torno de 1,4 milhão de veículos nas ruas todos os dias. Sobre a fiscalização “ferrenha”, Barreiro disse que contratou mais 45 amarelinhos e que, até o final do ano, serão contratados outros 55. “Queremos 400 agentes no total até o fim do ano”, disse. Barreiro falou ainda que notou o aumento do “desrespeito” à sinalização. “As pessoas só têm o carro guinchado porque não obedecem a lei. E existe um aumento preocupante de muitas outras infrações.” O secretário disse que as infrações podem estar ligadas também ao valor baixo das multas de trânsito. Sobre o preço cobrado pelas empresas de guincho, ele falou que a Administração segue o valor que é praticado há anos, corrigido apenas pela inflação. E completou argumentando que o preço salgado tem caráter “punitivo”. “Eu acho positivo que o valor do guincho seja alto, até para as pessoas pensaram mais antes de estacionar errado.” Ele negou ainda que os amarelinhos multem mais aos finais de semana propositalmente para que os motoristas paguem mais diárias. “Acontece que aos fins de semana temos mais blitze com a Polícia Militar. O pessoal acaba pegando mais infrações.”