Segundo IBGE, cidade atingiu a marca de 1,07 filho por mulher em idade fértil
Questões financeiras, equilíbrio entre vida profissional e maternidade e aspectos culturais são os principais fatores que resultam em famílias cada vez menores (Alessandro Torres)
Campinas atingiu a taxa de fecundidade de 1,07, o menor número de filhos por mulher de sua história, de acordo com dados do Censo 2022 divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No período avaliado, nasceram 326.935 crianças para um total de 304.117 mulheres entre 15 e 49 anos, idade fértil considerada pelo órgão. No Censo anterior, o de 2010, a média foi de 1,5 filho por mulher. Para o geógrafo Rodolfo Poliadori, especialista em políticas públicas, o resultado mostrou que as mulheres estão adiando a maternidade. “As mulheres estão adiando a vontade de querer ter filhos, dando prioridade para estudos e a carreira profissional. Questões financeiras, equilíbrio entre vida profissional e maternidade e aspectos culturais são os principais fatores que resultam em famílias cada vez menores”. afirmou.
A taxa de fecundidade de Campinas ficou abaixo da média do Estado de São Paulo, 1,39, e do Brasil, que foi de 1,55, e também foi a mais baixa já registrada. De acordo com o IBGE, o número de filhos por mulher vem diminuindo desde a década de 1960. A média nacional na época era de 6,28 filhos por mulher, caindo para 1,9 em 2010. Rodolfo Poliadori apontou que a consequência desse cenário é a redução da taxa de crescimento populacional e o envelhecimento da população mais acelerado do que o previsto.
“O número de crianças nascidas está menor do que o esperado. O problema é que famílias encolhidas tendem a ter impactos na economia. Se o Brasil não começar a pensar em estratégias para enfrentar esse assunto, o panorama pode ficar ainda pior”, avaliou o especialista. O envelhecimento da população traz diversos impactos sociais econômicos. As pessoas idosas exigem mais cuidado, aumento de gastos nas áreas de saúde e previdência.
Esses fatores, associados à diminuição de pessoas no mercado de trabalho (produzindo e gerando crescimento), tendem a causar retração econômica. “É muito caro para uma sociedade bancar o envelhecimento da população e, aqui no Brasil, isso vai custar muito dinheiro, como custa em todos os lugares. Mal existe um debate social e político sobre o assunto, o que aumenta a preocupação”, explicou. “A hora de preparar o país é agora. Entender o que está acontecendo e fazer uma gestão de consequências”, completou.
NATALIDADE
Jaqueline Costa, de 30 anos, está grávida de 7 meses do segundo filho. A primeira tem 10 anos de idade. Ela não tem planos para ter mais uma criança, apesar de proceder de uma família grande. A dona de casa tem nove irmãos, contando com três falecidos, e está longe de seguir o exemplo da mãe. “Ter filho está muito complicado. Tem a questão financeira e pensar no futuro deles”, afirmou Jaqueline Costa. Atualmente, ela não trabalha, com o marido sendo a única fonte de renda da família.
A também dona de casa Antonia Pereira também parou em dois filhos, João, de 2 anos, e Vitória de 11. “Não é apenas a parte financeira, mas no mundo em que vivemos está difícil criar uma criança”, justificou. Para ela, o momento atual marcado por violência, intolerância e falta de empatia criam um ambiente em que é há muitos desafios para a edução infantil. De acordo com o Censo de 2022, as mulheres na faixa etária de 35 a 39 anos tiveram a maior participação nos novos nascimentos em Campinas, tendo 34.196 filhos.
Depois aparecem as mães de 30 a 45 anos, 25.641, seguido pelas de 25 a 29, 17.491. Na opinião da pesquisadora do IBGE Marla Barroso, o adiamento da maternidade também influencia na queda no número de filhos. “Conforme a idade vai passando e você vai adiando essa decisão, a chance de ter mais filhos também é menor”, disse a analista. Para o gerente de Indicadores Sociais do IBGE, Bruno Mandelli Perez, os dados divulgados são importantes por traçar uma radiografia da população brasileira, com os dados influenciado a criação de programas sociais. “Isso ajuda a explicar a dinâmica populacional por traçar um retrato da população. Essas informações são essenciais para a criação de políticas públicas”, afirmou.
IMIGRAÇÃO
Os dados do Censo divulgados revelaram ainda que há 6.720 estrangeiros residentes em Campinas, o equivalente a 0,59% da população de 1,139 milhão de habitantes. Os de origem dos Estados Unidos são a maioria, 542. Entre os cinco países com maior número de representantes morando na cidade aparecem Haiti, com 501, Colômbia (370) e Venezuela (331). A venezuelana Maria Eugenia Andre Avilez deixou seu país e veio para Campinas há seis anos fugindo da crise econômica e política, junto com os dois filhos, hoje com 17 e 20 anos.
Na bagagem, ela trouxe formas usadas e um forno que a ajudaram a iniciar um negócio próprio e ter uma fonte de renda. A experiência como panadera (padeira, em espanhol) e cursos feitos no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) ajudaram a abrir uma pequena padaria na Vila Industrial. “Não é fácil, mas vou lutando. Já consegui algumas coisas, mas ainda há muito o que fazer”, disse Maria Eugenia, em meio a um dia agitado para entregar várias encomendas. Ela atua como microempreendedora individual (MEI), contando com a ajuda dos filhos. “Eles me ajudam com os pedidos e redes sociais”, explicou.
A panadera faz bolos, pães e doces típicos principalmente da Venezuela. “Há muita coisa que é exatamente igual. O que vocês chama de sonho, lá é bomba, mas é a receita é a mesma, tem o mesmo creme”, explicou Maria Eugenia. O pequeno forno elétrico que trouxe de seu país e a ajudou a iniciar o negócio deixou de funcionar, mas ela o guarda em cima de uma prateleira em seu estabelecimento como um símbolo para seguir lutando por seu projeto de vida. De acordo com o Sebrae, dos 126.644 MEIs registrados em Campinas até o último dia 21, 0,77% são imigrantes. São 975 pessoas vindas de outros países, com a Venezuela sendo a origem da maioria, 99. Em segundo lugar aparece a Argentina (60), vindo depois Haiti (59), Peru (47) e Portugal (41).
O IBGE mostrou ainda que Minas Gerais e Bahia são os Estados brasileiros com maior número de migrantes vivendo em Campinas. Segundo o Censo, 5.910 mineiros declaram ter se mudado para a cidade entre nos cinco anos anteriores a 2022, com participação de 19,6% do total. Já os baianos representaram 12,8%, ou 3.841 novos moradores. A terceira colocação foi ocupada pelo Rio de Janeiro (2.670), em quarto lugar ficou com o Maranhão (2.308) e o quinto, Paraná (1,8 mil). Amapá ficou com a última posição, com 91 pessoas que se mudaram para Campinas.
O Censo mostrou que São Paulo registrou fluxo migratório negativo no período de 2017 a 2022. Isso significa que o total de pessoas que deixaram de morar no Estado superou o número daqueles que se mudaram para cá, sendo a primeira vez que houve uma taxa negativo desde que o IBGE começou a fazer esse tipo de análise, em 1991. De 2017 a 2022, São Paulo recebeu 736,4 mil migrantes. No mesmo período, 826 mil pessoas saíram do Estado para viver em outros locais. Ou seja, o saldo migratório foi negativo em 89,6 mil pessoas. As principais origens dos migrantes de São Paulo foram a Bahia e os vizinhos Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná. Já os principais destinos daqueles que saíram de São Paulo foram a Bahia, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. “Se as pessoas estão retornando ou se elas estão em busca de melhores oportunidades, é uma questão que pode ser trabalhada, estudada”, afirmo o pesquisador do IBGE Marcelo Dantas.
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