DADO PREOCUPANTE

Campinas supera a marca de 40 mil casos de dengue no ano

Em todo o ano de 2014, que registrou a segunda pior epidemia na história da cidade, foram 42.413 casos

Eliane Santos/ [email protected]
06/04/2024 às 08:56.
Atualizado em 06/04/2024 às 08:56
Neste sábado, os centros de saúde Aeroporto, Santa Lúcia, DIC I, Campo Belo, Aurélia, Florence, Valenç (Rodrigo Zanotto)

Neste sábado, os centros de saúde Aeroporto, Santa Lúcia, DIC I, Campo Belo, Aurélia, Florence, Valenç (Rodrigo Zanotto)

Campinas ultrapassou na sexta-feira (5) a casa dos 40 mil casos confirmados de dengue e está a pouco mais de 1,3 mil notificações para superar a segunda pior epidemia da doença na cidade desde o início da série histórica, em 1998. Em 2014, o município registrou 42.413 casos. Os dados são do Painel de Monitoramento de Arboviroses de Campinas, que na sexta-feira (5) contabilizava 41.098 pessoas infectadas e oito vítimas fatais. O ano com maior número de óbitos ainda é 2015, quando 22 pessoas morreram, ano da pior epidemia do município (65.754 casos ao todo).

De quinta-feira para sexta-feira (5), o Painel foi atualizado com 1.686 novos casos confirmados da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Na sexta-feira (5), o Correio Popular trouxe a informação de que o total de casos este ano estava prestes a superar todo o ano de 2014. Desde 1998, os anos que também ultrapassaram os dois dígitos da doença são, além dos já citados, 2023 (11.509), 2007 (11.442) e 2022 (11.250).

Considerando os dados atualizados até sexta-feira (5) , a semana epidemiológica com o maior número de notificações, levando em consideração a data do início dos sintomas, era a do dia 17 de março (17 a 23), com 7.205 notificações, sendo 327 em investigação, seguida da semana do dia 10 do mesmo mês com 6.353 confirmações e 262 casos ainda em análise. De acordo com Andrea Von Zuben, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) da Secretaria Municipal de Saúde, os dados sofrem alterações conforme os casos são confirmados e inseridos nas semanas epidemiológicas. Segundo a especialista, Campinas tem hoje 100 pontos de coleta para exames que diagnosticam a doença, entre Centros de Saúde, Pronto Atendimento, hospitais, hospitais particulares e laboratórios, por exemplo.

VACINA

A Secretaria Estadual de Saúde informou na sexta-feira (5) que ainda aguardava o envio das doses da terceira remessa da vacina contra a dengue. No total, o Ministério da Saúde (MS) enviará 266.281 para os 50 novos municípios paulistas incluídos na relação de cidades beneficiadas com o imunizante destinado à faixa etária de 10 a 14 anos. Para a Região Metropolitana de Campinas (RMC) são 52.857, sendo 18.063 apenas para Campinas, cidade que terá o maior número de doses. A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde também não retornou os contatos da reportagem e não respondeu quando as vacinas serão encaminhadas para o Estado.

As doses destinadas para Campinas serão suficientes para imunizar 19% do público-alvo, estimado em 91.224, sendo os adolescentes com 14 anos a maioria, com 18.663 pessoas. Crianças de 10 e 12 têm o mesmo número estimado, com 18.382 em cada grupo. Anda há 18.250 com 13 anos de idade e 17.547 com 11 anos, segundo informações da Prefeitura da cidade.

CENTROS DE SAÚDE

Para atender à demanda, a Secretaria de Saúde de Campinas determinou a abertura hoje, com horário estendido, de mais nove centros de saúde. Será feito o atendimento de pacientes com sintomas de dengue no período da tarde. O objetivo é reforçar a assistência diante do contexto de epidemia e, ao mesmo tempo, reduzir a demanda por atendimentos na Rede Mário Gatti de Urgência, Emergência e Hospitalar.

As unidades que funcionam das 7h às 17h são: Aeroporto, Santa Lúcia, DIC I, Campo Belo, Aurélia, Florence, Valença, São Quirino e Vila Ipê. Das 7h às 13h, as unidades receberão todos os casos, e das 13h às 17h terão preferência os pacientes com sintomas de dengue, como febre, dor de cabeça, dor no corpo e dor nos olhos, vômito, dor nas articulações e manchas vermelhas no corpo (exantema).

Também hoje, o Laboratório Municipal funciona para receber amostras de exames e, com isso, facilitar o direcionamento das ações de saúde. Já o CS Vista Alegre permanece fechado neste dia por conta de uma interrupção de energia para manutenção programada.

Nos dois sábados anteriores, os CSs receberam, respectivamente, 1.071 e 678 pacientes. A avaliação é de que houve redução entre as duas semanas por conta do feriado prolongado da Semana Santa

MUTIRÃO

O mutirão neste sábado será em sete bairros. É a 10ª edição da ação que pretende orientar os moradores e eliminar os criadouros do mosquito transmissor da doença. Os bairros são os jardins Andorinha, Itatiaia, Carlos Lourenço, New York, Santa Eudóxia, São Fernando e Vila Orozimbo Maia. O ponto de encontro das equipes é o Centro de Educação Infantil (CEI) Maria Antonina Mendonça de Barros. Ele fica na avenida Ministro da Costa Manso, 50, Jardim Santa Eudóxia.

O mutirão, como os demais, reunirá voluntários e agentes da Saúde, incluindo os trabalhadores da empresa terceirizada Impacto Controle de Pragas. Eles atuam nas visitas aos imóveis para orientação e eliminação de criadouros e usam uniforme formado por camiseta branca, com logo da empresa, e calça na cor cinza. Em caso de dúvidas sobre a identificação, a população pode pedir informações pelo telefone 199, da Defesa Civil.

A Administração repete a estratégia de usar drones para localizar grandes criadouros do Aedes aegypti como piscinas e caixas d’água em imóveis identificados como desocupados ou em situação de abandono. Com isso, chaveiros podem ser acionados. A medida está respaldada em decisão judicial de 2020, proferida nos autos do processo judicial n.º 1005810-97.2014.8.26.0114, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Campinas.

O mutirão é multisetorial e conta com apoio de profissionais das secretarias de Serviços Públicos, Habitação, Educação, Assistência Social e Trabalho e Renda, além da Guarda, Defesa Civil, Sanasa e Emdec. 

A doença é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e pela primeira vez a cidade tem três sorotipos da dengue em circulação: DEN-1, DEN-2 e DEN-3. A cidade está em epidemia, declarou situação de emergência em 7 de março, e a Saúde já divulgou alerta sobre a transmissão da doença em todas as regiões da cidade.

Desde dezembro de 2023 a Secretaria de Saúde já colocou em prática uma série de medidas consideradas adicionais, sobre o planejamento regular de prevenção e combate à dengue, que inclusive começaram a ser copiadas por outros municípios diante do contexto do aumento de casos da doença. O plano inclui Sala de Situação para análise sistemática, reorganização da rede municipal de saúde e novo site para divulgar informações.

A Prefeitura realizou neste ano nove mutirões, incluindo um regional, onde visitou pelo menos 37,5 mil imóveis para orientar a população e retirar criadouros do mosquito. Contudo, em cada ação, quase metade dos espaços é achada inacessível pelos agentes por estarem fechados, desocupados ou em virtude de impedimento dos moradores.

Outra novidade é o uso de inteligência artificial para ampliar o monitoramento e assistência em saúde aos pacientes com dengue. Toda pessoa diagnosticada ou com suspeita da doença, após atendimento no SUS Municipal, recebe via WhatsApp mensagem disparada pelo chatbot que auxilia a Pasta a acompanhar as condições do paciente. Caso necessário, é feita nova orientação sobre busca por atendimento.

A Prefeitura criou ainda o Grupo de Resposta Unificada (GRU), que envolve todas as áreas com objetivo de agilizar respostas e fiscalizações sobre as denúncias que tratam de criadouros. Também há um comitê de prevenção e controle de arboviroses desde 2015, que em 2023 passou a se chamar Comitê Municipal de Enfrentamento das Arboviroses e Zoonoses. Ele reúne 14 secretarias: Governo; Saúde; Educação; Serviços Públicos, Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade; Gestão e Desenvolvimento de Pessoas; Administração; Comunicação; Trabalho e Renda; Esportes e Lazer; Cultura e Turismo; Habitação; Relações Institucionais, e Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos. Também participam Defesa Civil, Serviço 156, Rede Mário Gatti, Setec e Sanasa. No comitê é discutida a situação epidemiológica da cidade e, com isso, são desencadeadas as ações intersetoriais e apoio para as ações da Secretaria de Saúde.

CUIDADOS EM CASA

Estatísticas do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) mostram que 80% dos criadouros do mosquito Aedes aegypti, vetor da doença, estão nas residências. Portanto, o enfrentamento à epidemia exige esforço compartilhado entre Poder Público e população para eliminar qualquer espaço com água que possa ser usado pelo inseto para proliferação.A melhor forma de prevenção contra a dengue é eliminar qualquer acúmulo de água que possa servir de criadouro, principalmente em latas, pneus, pratos de plantas, lajes e calhas. É importante, ainda, vedar a caixa d’água e manter fechados vasos sanitários inutilizados.

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