Cidade, com 900 imigrantes do país caribenho, prepara evento e cria centro para a comunidade; Prefeitura estima que vivam hoje no município cerca de 900 imigrantes haitianos
Edin François está há um ano em Barão Geraldo e atualmente trabalha como forneiro em uma pizzaria: mulher chegou há um mês e plano é trazer os filhos depois que eles se formarem ( Elcio Alves)
A Secretaria Municipal de Assistência, Cidadania e Inclusão Social de Campinas estima que vivam hoje no município cerca de 900 imigrantes haitianos. Somente no distrito de Barão Geraldo são mais de 300 deles estudando e trabalhando na construção civil e em serviços gerais, de acordo com levantamento. O restante está espalhado nas regiões dos distritos do Campo Grande, Ouro Verde e proximidades do Aeroporto Internacional de Viracopos. São na maioria jovens do sexo masculino que desde o início do ano estão vindos principalmente do Acre (porta de entrada no País pelo município da Brasiléia) até a cidade de São Paulo — para onde estão sendo encaminhados desde janeiro por meio de acordo com o Ministério da Justiça.Diante da grande demanda criada a partir da vinda dessa população para Campinas, principalmente entre o final de 2014 até maio deste ano, o Município acelera a criação de serviços específicos que possam atender haitianos, como a produção de material informativo sobre serviços básicos, inicialmente na língua creole, e o cadastramento de famílias de imigrantes. Também está sendo elaborada a ação “Campinas de todos os povos”, com sua primeira edição neste domingo, na Estação Cultura, voltada para a comunidade haitiana. Segundo o diretor do Departamento Municipal de Cidadania, Fábio Henrique Custódio, grande parte dos haitianos que vivem hoje em Barão Geraldo escolheram o distrito porque já tinham conhecimento que outros 27 haitianos estudam na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). “Esse grande grupo que chegou há cerca de três meses passou pelo processo de imigração pelo Acre, e Barão acabou se tornando referencial por já abrigar estudantes”, explicou Custódio.Na região do Campo Grande e Ouro Verde a concentração de imigrantes se deveu às obras de ampliação do Aeroporto Internacional de Viracopos. Mesmo que muitos haitianos já tenham sido dispensados do canteiro de obras, muitos resolveram permanecer em Campinas, explicou o diretor. Ele avalia que o número de imigrantes haitianos não deva atingir exatamente os 900, pois alguns deles, que foram para outros municípios, acabam indicando Campinas como cidade referência. Entretanto, o número passa de 800 imigrantes.Há um ano em Barão Geraldo, o haitiano Edin François, de 39 anos, chegou de Cabo Haitiano diretamente para Campinas. Com todos os documentos em ordem, já trabalhou em mais de três restaurantes desde então, e hoje está como forneiro em uma pizzaria. Assim como a grande maioria, veio em busca de melhores oportunidades após o terremoto catastrófico de 2010 que devastou seu país. “Minha mulher chegou há um mês, e alugamos uma casa em Barão. Mando dinheiro para as escolas dos meus dois filhos (um de 15 e outro de 9 anos)”, contou. Bem humorado, Edin já fala o português sem dificuldade, e tem ajudado os colegas a conquistarem vagas no mercado de trabalho. “Fiquei somente um mês desempregado desde que cheguei. O Brasil é muito bom. Quando meus filhos terminarem os estudos vão vir para cá também”, espera. O proprietário da pizzaria, Eduardo Freitas da Rocha, informou que Edin é o sexto haitiano que já empregou. “Ele é uma pessoa muito querida”, disse.De acordo com o diretor Custódio, por meio de um cadastro inicial é possível verificar que há uma variedade nos ramos de atuação desses haitianos. Muitos que chegaram são enfermeiros, outros pesquisadores e outros trabalhavam no ramo de hotelaria, de alimentos ou na construção civil. A demanda atingiu grandes proporções, e a necessidade de aprendizagem da língua levou a Secretaria Municipal de Educação e a Fundação Municipal para Educação Comunitária (Fumec) iniciarem em agosto duas turmas de 20 haitianos cada para o aprendizado da língua portuguesa. As aulas serão realizadas em uma escola próxima à Praça do Coco, em Barão Geraldo.BoomO Departamento Municipal de Cidadania estima que o boom de imigração haitiana em Campinas ocorreu de um ano para cá. Custódio conta que os imigrantes mais antigos tornaram-se parceiros nessa jornada de receptividade dos recém-chegados. “Por semana estamos recebendo bem menos desde maio, cerca de dois ou três apenas. Com dificuldade no idioma, temos haitianos que já estão há mais tempo que intermedeiam as conversas”, apontou.Na segunda-feira (27), o departamento iniciou um atendimento referenciado em um novo prédio, na Avenida Francisco Glicério (n° 1.269, 4° andar), mas a direção avalia que ainda não é o momento de prestar um serviço especializado para essas comunidades, mas sim qualificar os serviços já existentes. “Necessitamos, contudo, de ampliar os contatos com os grupos, o que não é simples, uma vez que se faz necessário superar muitas das resistências e desconfianças apresentadas por essas comunidades — o que é compreensível, já que a maioria passou por processos muito difíceis para chegar até aqui”, explicou Custódio.A reportagem enfrentou dificuldade para contar a história de demais haitianos, encontrados nas vias de Barão Geraldo. A maioria é receosa principalmente com a exposição que lhes foi dada a partir do processo de imigração e entrada clandestina pelo estado do Acre. Até chegar ao Brasil, os haitianos passam pela República Dominicana, Panamá, Equador, Peru (passam por seis cidades de ônibus) até chegar a Brasiléia - AC).Encontro no domingo busca unir núcleos no municípioA ação “Campinas de todos os povos” será realizada no domingo, das 10h às 18h, na Estação Cultura, e terá a presença de algumas secretarias municipais. O evento é aberto a demais comunidades de imigrantes, mas serão os haitianos o foco das ações programadas pelo Município. As dificuldade de adaptação, o idioma, a cultura e preconceito que enfrentam ao chegarem no Brasil serão debatidos entre profissionais e os próprios núcleos de haitianos. O departamento de Cidadania reparou que os núcleos espalhados por pelo menos quatro extremos de Campinas não se conhecem, e a ação do próximo domingo servirá para integrá-los e ajudar a traçar um panorama desses novos habitantes.