Atividade física e boa alimentação podem ajudar a evitar a condição; todas as mortes ocorridas até junho de 2024 foram de pessoas com mais de 50 anos
Embora não seja obrigatório, recomendação é que pessoas acima dos 30 anos de idade procurem um educador físico e um cardiologista antes de largar o sedentarismo e passar a praticar atividades físicas; objetivo é se certficiar de que não há contraindicação para a realização da atividade desejada (Denny Cesare)
O município de Campinas registrou 35 mortes neste ano cuja causa básica foi arritmia cardíaca, 23 delas em pessoas com idade superior a 80 anos. As outras 12 vítimas fatais eram pessoas com mais de 50 anos. “O problema, contudo, pode estar relacionado a outras causas de doenças cardiovasculares”, afirma Juliana Nativio, coordenadora da área de Informações Epidemiológicas da Secretaria Municipal de Saúde.
Eventos recentes reacenderam o debate sobre os cuidados com a saúde do coração, como a retomada do aumento da expectativa de vida, atualmente em 76,4 anos, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o falecimento de Juan Izquierdo, jogador de futebol uruguaio do Nacional que faleceu no dia 27 de agosto após sofrer uma arritmia cardíaca cinco dias antes, em jogo que ocorreu na cidade de São Paulo. Segundo a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), estima-se que cerca de 20 milhões de brasileiros tenham algum tipo de arritmia, que são falhas no ritmo do coração.
A condição é identificada quando os batimentos estão desconexos, em ritmo acelerado, acima de 100 batimentos por minuto (bpm), e também se estiverem com um ritmo mais lento, abaixo de 50 bpm, ambas as situações com a pessoa em repouso. O cardiologista e presidente da Sobrac, Alexsandro Fagundes, destaca que “quanto mais encaramos uma população de idosos, mais problemas cardíacos veremos”. As arritmias mais frequentes são benignas e incomodam pouco as pessoas. Porém, algumas arritmias, como a fibrilação atrial, têm mais chance de ocorrer com o avançar da idade, especialmente pela presença de outras doenças como pressão alta, diabetes e obesidade.
Dentro do grupo de pessoas com mais propensão a apresentar arritmia estão aquelas com problemas estruturais no coração, histórico de infarto, pressão arterial descontrolada, diabetes, doenças congênitas, uso de medicamentos para o controle da pressão, psicotrópicos e drogas ilícitas. Os especialistas recomendam alguns hábitos que ajudam a prevenir o problema, entre eles a manutenção de uma dieta equilibrada e a prática regular de atividades físicas pelo menos três vezes por semana. Além disso, o cardiologista, e membro da Sobrac, Cristiano Dietrich, explica que é recomendável fazer avaliações regularmente, a cada um ou dois anos.
O estilo de vida está diretamente ligado à saúde do coração, tendo como principais vilões o tabagismo, abuso de bebidas alcoólicas, a falta de momentos regulares de descanso e má alimentação, com foco no consumo de gorduras, açúcares, carboidratos e alimentos ultraprocessados. Modificar a alimentação, buscando, por meio do acompanhamento de um profissional nutricionista, uma dieta mais equilibrada, se torna mais eficaz com a prática de exercícios físicos regulares.
Entre as atividades físicas, existe as consideradas como corriqueiras, que é quando há qualquer gasto de energia com o corpo, ou seja, ações cotidianas, como cuidar da casa e se deslocar para o trabalho, não havendo contraindicações para pessoas assintomáticas. No caso dos exercícios físicos, considerados como atividade física estruturada, realizados com frequência semanal, a recomendação para as pessoas acima dos 30 anos de idade é passar por uma entrevista clínica com um educador físico e um cardiologista para que se comprove que não há contraindicação para a realização da atividade. A recomendação se torna mais intensa para as pessoas que estão sem praticar nenhuma atividade há muito tempo, que sofram de comorbidades ou apresentem sintomas de problemas cardíacos. “Embora não seja regulamentada (a obrigatoriedade de um exame prévio), é conveniente, interessante, de boa prática que seja feita a solicitação para que esse indivíduo traga por escrito uma avaliação do seu clínico”, aconselha a coordenadora do Departamento Científico de Cardiologia da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), Carla Patrícia da Silva e Prado.
CORRIDA
Uma das formas mais simples, baratas e eficientes para cuidar da saúde é a prática da corrida. A orientação da mestra em educação física pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luciana Ganzarolli, é começar aos poucos e buscar uma evolução gradativa, que vai depender da resposta do corpo da pessoa. “Quem nunca correu, vai começar com intervalados, que tem caminhada e 'trotinho', e aos poucos vai diminuindo a caminhada, aumentando o trote, para que essa pessoa consiga correr maiores distâncias”. O exercício contribui para melhorar todo o sistema circulatório, desde o fortalecimento dos vasos até o controle dos níveis de colesterol e glicemia. Outro cuidado importante é conciliar o treinamento de corrida com o fortalecimento muscular por meio de treinamentos funcionais, pilates e/ou musculação.
ACADEMIA
O mesmo processo da corrida se aplica às pessoas que estão iniciando uma atividade física com peso. “A pessoa tem que ir aos poucos, dosando a intensidade dos exercícios para condicionar o corpo”, orienta o personal trainer e educador físico Rodrigo Augusto Sparma. “É muito importante a pessoa não se lesionar logo no começo.”
O educador físico reforça que a periodização dos treinos aliados à boa alimentação e hidratação são fundamentais para a evolução da parte física. O profissional também defende a busca por orientação médica, por exemplo "um clínico geral e pedir um exame total para ver o colesterol, ver a proporção de LDL e HDL”, lipoproteínas conhecidas como colesterol bom (HDL) e colesterol ruim (LDL).
O vigilante Faustino Pereira Lima, 47, ressalta a necessidade de se ter um objetivo com a atividade física: “a pessoa tem que ser parceira do professor, indicando se quer ganhar ou perder peso, perder medidas, para ter um acompanhamento adequado”. Lima, que sofre de labirintite e dores na coluna, conta que não sente mais as dores de antes desde que aliou a fisioterapia com a musculação. “Comecei há mais de dez anos e não parei mais.