Primeiros nove meses de 2023 registraram 54 vítimas contra 61 no mesmo período do ano passado
Emdec tem intensificado as campanhas de conscientização com atenção especial aos motociclistas; até setembro deste ano foram 24 vítimas fatais, sete a menos que em 2022 (Kamá Ribeiro)
Campinas registrou uma queda de 11% nos óbitos em vias urbanas da cidade na comparação entre os meses de janeiro e setembro de 2023 e o mesmo período do ano passado. Enquanto em 2022 o município registrou 61 vítimas nos primeiros nove meses do ano, neste ano 54 pessoas morreram envolvidas em acidentes no trânsito. Considerando apenas o mês de setembro, o número de vidas salvas chegou a 50%. Em 2022, 10 pessoas morreram em acidentes de trânsito na malha urbana de Campinas durante o mês. Em 2023, foram cinco mortes registradas. As informações são da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec).
Segundo a coordenadora da área de Educação e Cidadania da empresa, Mariângela Marini, a redução no número de mortes é o resultado das 70 ações educativas que foram executadas pela cidade de Campinas. As ações foram intensificadas nas ruas mais perigosas e propensas a morte no trânsito, como as Avenidas John Boyd Dunlop e Amoreiras, segundo Mariângela.
Nestas duas avenidas houve a mudança de geometria da via em 13 pontos críticos de fatalidade, o que consistiu em melhorias nos locais de travessia de pedestres, assim como também foi feita uma alteração nas curvaturas da via, com objetivo de proporcionar mais segurança para os motoristas. Fez parte das ações educativas, inclusive, a intensificação da fiscalização com a ajuda da Polícia Militar e da Guarda Municipal.
No ranking de mais vidas salvas, logo após os motociclistas, estão os pedestres, com 10% menos mortes de janeiro a setembro. São 19 óbitos registrados neste ano, contra 21 em 2022.
Já entre os ciclistas e ocupantes de demais veículos, há um alerta: foi registrada uma morte a mais em cada grupo. Houve quatro óbitos entre os condutores de bicicleta em 2023 e três em 2022. Em relação às pessoas que faleceram e estavam em outros veículos, o número subiu de seis para sete.
As cinco vias urbanas mais perigosas de Campinas concentraram cerca de 26% dos óbitos em 2022, segundo dados da EMDEC. São elas: avenidas John Boyd Dunlop, Amoreiras, Via Expressa Waldemar Paschoal, Presidente Juscelino e Avenida Ruy Rodriguez, nesta ordem.
A série histórica de vítimas fatais revelou que, em 2020, 61 pessoas morreram em acidentes de trânsito. No ano seguinte, 2021, foram 78 vítimas. Em 2022 o ano fechou com 76 e, até setembro de 2023, são 54 mortos no trânsito, o que equivale a um total de 269 nesse período de quase quatro anos. Foram 71 motociclistas ou garupas, 48 pedestres, sete ciclistas e 25 ocupantes de demais veículos. Pouco mais da metade dos envolvidos em acidentes fatais de trânsito no ano passado tinham entre 30 e 59 anos (51%), segundo dados da Emdec.
Circulam em Campinas 951.320 veículos licenciados, sendo 749.085 automóveis e 151.378 motocicletas (março de 2023). Os dados são da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).
MOTOCICLISTAS
Atualmente, os motociclistas e garupas são o principal alvo de campanhas educativas e de fiscalização da Emdec. O reforço na conscientização ocorreu devido à alta mortalidade observada nesse público no ano anterior, quando, em média, um motociclista morreu a cada cinco dias em Campinas (considerando malhas urbana e rodoviária), segundo o "Boletim de Vítimas Fatais no Trânsito 2022", publicado pela Emdec em maio.
Mariângela explica que as ações educativas executadas alcançaram sete mil motociclistas. Essa categoria profissional foi abordada em 53 blitz de rua para orientações sobre os riscos dos cortantes nas linhas de pipa. Para evitar esse tipo de acidente, foi feita a entrega de três mil antenas corta-pipa, além de informações sobre segurança no trânsito e convites para workshops e treinamentos oferecidos pela Emdec.
Até setembro de 2023 foi registrada uma redução de 23% nos acidentes com mortes entre os motociclistas, com 24 vítimas, sete a menos que o mesmo período do ano passado (31 mortes).
Vítima de três acidentes, um deles grave, Leonardo Araujo Lagares, de 32 anos, é motociclista desde os 18. Ele começou como funcionário contratado via Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) fazendo entregas. Quando sofreu o acidente no tornozelo que o fez parar de trabalhar por três meses, em 2012, recebeu seu salário pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).
Posteriormente, outros acidentes aconteceram. Um deles provocado por um buraco na rua, que o derrubou da moto e lesionou seu joelho. Em outra ocasião, um carro o atingiu e o condutor do veículo arcou com os custos de sua recuperação e conserto da motocicleta, sua ferramenta de trabalho. Hoje Leonardo trabalha como autônomo, fazendo entregas para aplicativos de alimentos.
Entre os cuidados que ele mesmo realiza para sua própria segurança estão a redução da velocidade, manutenção da moto em boas condições de mecânica, uso dos equipamentos de segurança, como o capacete, proteção lateral e antena corta-pipa. Questionado sobre a responsabilidade do poder público com a segurança de sua categoria, Leonardo afirma que deveria haver mais campanhas de prevenção de acidentes e incentivo ao uso de capacete.
Em relação aos motoristas, ele acredita o poder público deveria ser mais efetivo em blitz e na fiscalização do uso de seta durante as manobras. “(Os motoristas) jogam o carro em cima de nós com medo de assaltos”, reclama Leonardo.
Atuando como profissional que conduz uma motocicleta há oito anos, Ana dos Anjos, de 43 anos, é mãe de quatro filhas com idades de 21, 14, 7 e 3 anos. Ela faz entregas de pedidos de aplicativos de alimentos e sofreu um acidente – o único até o momento – quando um motorista embriagado abriu a porta do automóvel no exato instante em que ela passava ao lado. Ela caiu, se machucou e permaneceu por quatro meses afastada do trabalho. Ela conta que o motorista fugiu porque estava alcoolizado e a ameaçou.
Para se preservar de acidentes, Ana dirige com velocidade reduzida e presta atenção em tudo, principalmente nas manobras dos motoristas de automóveis. Ela também trabalha sempre de calças compridas, blusas de mangas longas e sapatos fechados para não lesionar a pele caso caia da motocicleta.
Para Ana, a Prefeitura deveria melhorar a sinalização das vias e tapar os buracos, pois esses são os maiores violões dos motoqueiros, de acordo com sua opinião. “É quando desviamos dos buracos que os acidentes ocorrem”, reforça. Aos motoristas dos veículos, ela pede que usem as setas e tenham “mais amor ao próximo”.
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