MAIO AMARELO

Campinas registra aumento de mortes por atropelamento

Cinco vias mais perigosas da cidade concentraram 26% dos óbitos no ano passado

Edimarcio A. Monteiro/ edimarcio.augusto@rac.com.br
05/05/2023 às 08:56.
Atualizado em 05/05/2023 às 08:58

Pedestres atravessam a Avenida John Boyd Dunlop com semáforo aberto aos veículos, em uma lista das cinco vias mais perigosas em acidentes na cidade, avenida ocupa a 1ª posição (Alessandro Torres)

O aumento de 17,07% na morte de pedestres por atropelamento fez com que Campinas registrasse estabilidade no número de vítimas fatais no trânsito em 2022. No ano passado foram 151 mortes, média de uma a cada dois dias, o mesmo número de 2021, de acordo com boletim divulgado na quinta-feira (4) pela Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) no lançamento na 10ª edição do Maio Amarelo, movimento lançado em 2014 para chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortos e feridos no trânsito em todo o mundo, quando foram apresentadas medidas para tentar reverter essa situação.

Em 2022, 48 pedestres morreram em acidentes de trânsito, o que representa uma em cada três vítimas fatais, contra 41 ao longo do ano anterior. Com isso, esses usuários ficaram em segundo lugar no ranking da fatalidade. O primeiro lugar é ocupado por motociclistas ou garupas, com 71 óbitos, alta de 2,9% em comparação aos 69 de 2021. Já os falecimentos envolvendo ocupantes de outros veículos teve redução de 16,67%, passando de 30 para 25; e o de ciclistas sofreram queda de 36,36%, passaram de 11 para 7, de acordo com o Boletim de Vítimas Fatais no Trânsito 2022.

A Emdec considera vítima fatal quem falece em razão das lesões decorrentes de acidentes em até 180 dias após a ocorrência, com base em dados do Instituto Médico Legal (IML) e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), atribuiu o aumento da morte de pedestres a redução da pandemia de covid-19 a partir de 2022, o que levou o aumento da circulação das pessoas nas ruas.

PERIGO

As cinco vias mais perigosas de Campinas concentraram 26% dos óbitos em 2022. A liderança é da Avenida John Boyd Dunlop, seguida pela Avenida Amoreiras, Via Expressa Waldemar Paschoal (Aquidaban), Avenida Presidente Juscelino e Avenida Ruy Rodrigues. Para o economista Aparecido Oliveira, os abusos cometidos por pedestres e motociclistas fazem com que sejam as principais vítimas no trânsito, com a redução da mortalidade passando por mudanças no comportamento desses grupos.

“Os pedestres não respeitam a sinalização e os motoqueiros avançam o sinal vermelho”, criticou. Enquanto ele dava entrevista, após atravessar na faixa de segurança, dois motociclistas avançaram o semáforo fechado na conjunção da Rua José Mário de Arruda Toledo, marginal da John Boyd Dunlop, com a Rua José Pancetti, no Jardim Aurélia. “Viu? Isso aqui é comum”, afirmou.

Já o autônomo Eduardo Moreira disse que fica atento ao circular pela via campeã de acidentes fatais, redobrando os cuidados nos cruzamentos, mesmo quando a passagem está liberada. “Os motoristas cruzam no (sinal) vermelho e os motoqueiros não respeitam nada”, disse.

PERFIL

De acordo com a Emdec, 60% dos óbitos no trânsito de Campinas em 2022 estão relacionados a dois fatores, excesso de velocidade e direção após o consumo de bebidas alcoólicas. Dos 650 sinistros fatais registrados na cidade entre 2018 e 2022, a maioria ocorreu de sexta-feira a domingo, das 18 às 23h50. Foram 257 acidentes nesse período, o equivalente a 39,54% do total.

No ano passado, os sinistros no trânsito foram a 10ª causa de mortes em Campinas, mas ocuparam o 1º lugar entre pessoas de 15 a 20 anos. Além disso, 133 das vítimas fatais, correspondente a 88,07% do total, foram do sexo masculino, e 51% foram de pessoas entre 30 e 50 anos.

Para o coordenador de iniciativa do Bloomberg Philanthropies, Diego Lemos, os sinistros de trânsito são um problema de saúde pública com graves consequências sociais. Ele explica que o perfil revela que os casos fatais afetam muitas famílias, que, além do impacto psicológico, podem passar a enfrentar problemas econômicos, por envolverem, principalmente, pessoas ainda na chamada fase produtiva de vida.

O quadro é agravado se levar em consideração que as estatísticas apontam que, para cada morte no trânsito, outras cinco pessoas sofreram ferimentos graves, muitas vezes com sequelas que a impedem de trabalhar. A Bloomberg Philanthropies é uma organização sem fins lucrativos internacional que mantém parcerias com 24 cidades no mundo, uma delas Campinas, para o desenvolvimento de ações para reduzir o número de mortes no trânsito. Elas envolvem cinco áreas, incluindo gestão, engenharia e circulação.

INTERVENÇÕES

Ao apresentar o Maio Amarelo, que tem como slogan Toda a Vida Importa, o presidente da Emdec, Vinícius Riverete, anunciou que já estão em andamento ou serão executadas até o final do ano obras nos 50 pontos de Campinas que registram o maior número de acidentes de trânsito. De acordo com ele, as intervenções de engenharia e campanhas de educação de trânsito surtem efeito.

Ele citou como exemplo a John Boyd Dunlop, onde no ano passado foi lançada a campanha “JBD: Morte Zero no Trânsito”, que passou por obras e o número de vítimas de acidentes caiu de 13 em 2021 para oito no ano seguinte. Em 2023, destacou, as ações vão na conscientização dos pedestres, como abordagem direta nas ruas, e combate ao excesso de velocidade e associação de álcool e direção, com fiscalizações conjuntas com a Polícia Militar e Guarda Municipal.

De acordo com Dário Saadi, nos 18 pontos onde foram instalados radares no ano passado para coibir excesso de velocidade, apenas um acidente de trânsito foi registrado. “Ninguém gosta de instalar radar. É uma medida impopular, mas muitas vezes é preciso ter vontade política para tomar medidas amargas”, defendeu o prefeito.

Porém, segundo ele, “não pensamos, no momento, em ampliação” do número de radares na cidade. Atualmente, cerca de 150 aparelhos de fiscalização de velocidade estão em operação em Campinas. O presidente da Emdec rebateu as críticas de que o uso desses equipamentos resultem em uma indústria de multas. No ano passado, foram emitidas 121.212 multas por excesso de velocidade em Campinas, 84.351 por avanço de sinal vermelho, 14.961 por uso de celular enquanto o motorista dirigia e 11.985 por falta de cinto de segurança, de acordo com a Emdec.

Porém, de acordo com Riverete, 84% da frota de Campinas não teve nenhuma multa em 2022 e 6,3% dos veículos foram multados por mais de uma infração. “Se existe uma indústria, ela é ineficiente”, disse o presidente da Emdec, com base no que considera o pequeno número de veículos multados.

Ele acrescentou que a fiscalização de trânsito é necessária como uma ação dissuasória para que os motoristas não voltem a cometer infrações e isso resulte em queda nos acidentes de trânsito. De acordo com o coordenador da Bloomberg Philantropies, as críticas a uma possível indústria de multas existem em todo o mundo, em especial na América do Sul, mas a fiscalização contínua, imprevisível e efetiva é uma das medidas necessárias para criar um ambiente seguro no trânsito.

O Boletim de Vítimas Fatais mostra que, em 2022, dos sete ciclistas que morreram no trânsito em Campinas, cinco foram em rodovias que cortam a área urbana. Além disso, há praticamente um empate no número de mortes de motociclistas ou garupas, 36 contra 35 em vias urbanas, enquanto 17 ocupantes de mais veículos morreram em estradas, contra oito nas artérias da cidade.

O gerente de Operações da CCR AutoBAn, Virgílio Leocádio, argumentou que “90% das vítimas fatais em rodoviárias são em virtude de imprudência do motorista, motociclista ou pedestre”. A concessionária administra as rodovias Anhanguera e Bandeirantes, que estão em 2º e 3º lugar, respectivamente, entre as estradas mais perigosas apontadas no boletim da Emdec. Leocádio disse que as ocorrências com morte são uma preocupação da empresa e defendeu ações para mudar o comportamento das pessoas que interagem no trânsito, sejam condutores ou pedestres.

AS 5 VIAS MAIS PERIGOSAS DE CAMPINAS 

1º – Avenida John Boyd Dunlop

2º – Avenida Amoreiras

3º – Via Expressa Waldemar Paschoal (Aquidaban)

4º – Avenida Presidente Juscelino

5º– Avenida Ruy Rodrigues

AS 5 RODOVIAS MAIS PERIGOSAS 

1ª – Rodovia Dom Pedro I

2ª – Rodovia Anhanguera

3ª – Rodovia dos Bandeirantes

4º – Rodovia Santos Dumont

5º – Rodovia Jornalista Francisco Aguirre Proença

Fonte: Emdec 

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