campinas, 246 anos

Campinas, presente e passado

Necessário revisitar os séculos 19 e 20 para forjar o futuro

Francisco Lima Neto
14/07/2020 às 10:56.
Atualizado em 28/03/2022 às 21:33
Rua 13 de Maio, vazia por conta da pandemia, e com a sinalização de solo (Leandro Ferreira/AAN)

Rua 13 de Maio, vazia por conta da pandemia, e com a sinalização de solo (Leandro Ferreira/AAN)

A Campinas que surgiu no século 18 como trilha e depois local de pouso para os bandeirantes que seguiam rumo à Goiás e ao Mato Grosso é uma cidade forte, corajosa e resiliente. O Município resistiu e superou seguidas pandemias de febre amarela, no final do século 19, e uma de gripe espanhola, no começo do século 20. A cidade completa hoje 246 anos — e mais uma vez tendo de ser forte, em meio a uma pandemia, revisitando o passado, agindo no presente para garantir condições de novamente crescer e se manter uma referência no futuro. No final do século 19, Campinas era uma cidade viva, vibrante, em franca ascensão. Era a capital agrícola do estado, primeiro por conta da cana-de-açúcar e depois pelo ciclo do café. Tinha a economia pujante e em crescimento. Se especulava que a cidade poderia se tornar a capital do estado, tamanha era a sua importância. Aliado a isso, o Município era conhecido por ser elitizado, com personagens de destaque, o que aumentava o orgulho de seus moradores e despertava um certo ciúme em outras cidades e até inveja nos forasteiros. Na década de 1870, Campinas chegou a ter mais habitantes que São Paulo. Mas quando passou a ser atacada ferozmente pela febre amarela, a partir de 1889, a população urbana, que era de cerca de 20 mil pessoas, caiu para cerca de cinco a seis mil, já que quase todos que tinham condições, abandonaram a cidade para fugir daquele mal. A doença se propagou fácil e matou 1.981 das poucas pessoas que restaram. Campinas, de acordo com documentos, reportagens de jornais da época e historiadores, era uma cidade com sérios problemas de higiene pública e pior ainda na particular. Não havia rede de água e esgoto e todos sofriam com isso, independente de classe social. As residências tinham quintais imundos, com poços do lado de latrinas e, muitas vezes, criação de porcos. Água parada era uma realidade. Os lixos e dejetos eram descartados em jardins e lançados nas ruas. Além do mau cheiro, essa atitude gerava uma verdadeira imundície, que propiciava o aparecimento de várias doenças e pragas urbanas. Nos últimos anos daquele século 19, Campinas precisou enfrentar a falta de infraestrutura de serviços básicos, a falta de acesso à saúde, falta de medicamentos eficazes, a chegada de muitos imigrantes de diversas partes do mundo, a evasão da população, a quebra da economia local, e consequente ameaça à sua posição de destaque no estado. Sem contar as turbulências políticas geradas com a Proclamação da República e as disputas políticas entre os governos estaduais e municipais. Contudo, todas as vezes que Campinas foi golpeada, fosse por doenças, problemas econômicos ou política, seu povo se fortaleceu, pessoas de valor se colocaram à disposição, renunciaram a privilégios, geraram inovação, e não desistiram de lutar. Em decorrência da epidemia de febre amarela é que surgiram as redes de água e esgoto, que começaram a cuidar da higiene, que hospitais surgiram, a primeira construtora passou a operar, regras sanitárias foram criadas, a indústria se desenvolveu. Naquele momento, quando a maioria fugiu – inclusive políticos —, alguns se arriscaram e permaneceram para administrar a cidade. A doença era desconhecida e até os médicos, em sua maioria, foram embora, no entanto, poucos deles, tomados pela consciência do dever e da importância dos profissionais naquela situação, ficaram aqui e foram verdadeiros heróis. Campinas se transformou ao longo do século, cresceu exponencialmente, em população e economicamente. Deixou de ser capital agrícola e passou a ser polo tecnológico. A cidade é conhecida por suas universidades, grandes indústrias e capacidade de inovação. O que não mudou é a sua importância para o estado, sempre figurando entre as mais ricas do País. Neste aniversário, que ocorre em meio a um surto de doença, desta vez, mundial, a cidade tem novamente o desafio de garantir o acesso à saúde pela população, inovar na gestão dos recursos públicos e criar mecanismos para a recuperação da economia e dos empregos quando as atividades forem retomadas em sua totalidade. Mas a mesma Campinas que se superou tantas vezes, em momentos tão desafiadores quanto o atual, com toda certeza vai se reinventar e escrever outras belas páginas no futuro.

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