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Campinas pode ter 8 vezes mais pessoas infectadas

Campinas pode ter oito vezes mais casos de coronavírus do que apontam as estatísticas oficiais, de acordo com a primeira etapa da pesquisa nacional

Maria Teresa Costa
27/05/2020 às 07:56.
Atualizado em 29/03/2022 às 10:53

Campinas pode ter oito vezes mais casos de coronavírus do que apontam as estatísticas oficiais, de acordo com a primeira etapa da pesquisa nacional coordenada pela Universidade Federal de Pelotas, realizada entre 14 e 21 de maio. Na cidade, 237 pessoas foram testadas nessa fase e, em duas, o exame deu positivo, ou 0,84% da amostra populacional. Isso significa que no universo da população de Campinas, de 1.204.073 habitantes, 10.114 pessoas foram infectadas pelo novo coronavírus e nem souberam. A cidade registrou oficialmente, até ontem, 1.259 casos. No Brasil, a pesquisa mostrou que há sete vezes mais casos do que apontam as estatísticas e que 1,4% do universo pesquisado, de 63 mil pessoas, têm anticorpos para a doença. O prefeito Jonas Donizette (PSB) informou ontem, durante live nas redes sociais, que uma nova pesquisa, com uma amostra maior de pessoas - deve ultrapassar 2 mil - está sendo organizada pela Unicamp e pelo Departamento de Vigilância em Saúde, mas ainda sem data de início, para ter uma avaliação mais ampla da doença em Campinas. Para o secretário de Saúde, Carmino de Souza, não há subnotificação dos casos, porque a Secretaria de Saúde divulga os números das que adoeceram por Covid-10. A amostragem retrata, segundo ele, a ponta de um iceberg em relação aos casos confirmados, às pessoas que são internadas e que vão para as UTIs. "Mostra que temos um grande número de pessoas assintomáticas, que foram contaminadas em algum momento e nem perceberam. Eventualmente tiveram algum resfriadinho, que passou como se fosse nada", afirmou. O secretário lembra que das pessoas que se contaminam, entre 10% e 15% adoecem. E que, portanto, os dados apurados na pesquisa estão bem próximos da realidade. Segundo ele, esse é o grande problema da pandemia pelo coronavírus, porque a transmissão é feita de forma insensível, as pessoas não sentem nada e podem transmitir. "Se temos 1% da população contaminada, significa que 99% não estão, por isso temos que proteger nossa população, independente dos nossos movimentos futuros. Vamos ter que manter o isolamento social, manter a população vulnerável em casa", afirmou. Na avaliação do prefeito Jonas Donizette, a pesquisa mostrou um lado positivo, porque na investigação nacional, com mais de 63 mil pessoas, Campinas tem índice de contaminação abaixo da média do País de 1,4%. A Capital, por exemplo, que teria, segundo a o trabalho, 3,61% da população infectada, Rio de Janeiro, 2,24%. Em Belém, mais de 15% tiveram o coronavírus e, em Manaus, 12,5%. Em Macapá, quase 10%. A nova pesquisa que está sendo organizada pela Unicamp e Devisa vai abranger, segundo o secretário, um universo dez vezes maior do que a realizada pela Universidade Federal de Pelotas na cidade. "Não participamos da aleatorização (percentual de pessoas a testadas em cada região) dessa pesquisa divulgada agora e por isso não sabemos como ela foi feita. Na nossa, vamos definir a aleatorização para a cidade, estabelecemos onde vamos testar, qual o percentual de testes que serão aplicados por regiões e outros critérios", afirmou. Segundo ele, não faltam testes, mas existe o momento adequado para serem aplicados. Pesquisa nacional visa rastrear imunidade no País A pesquisa nacional, contratada pelo Ministério da Saúde para rastrear a imunidade dos brasileiros ao novo coronavírus testou 25.025 pessoas em 90 municípios, incluindo 25 capitais, e concluiu, nessa primeira fase, que o número de infectados é sete vezes maior do que as estatísticas oficiais. O trabalho consistiu na coleta de uma gota de sangue e aplicação de testes rápidos em um dos moradores da casa visitada. Se o resultado desse positivo, todos os moradores da casa seriam testados. Em Campinas, foram aplicados 237 testes. Após duas semanas, eles retornam a campo para realizar novos testes. As retestagens são necessárias porque o exame só detecta a doença se a pessoa estiver infectada há pelo menos uma semana. O teste comprado é o Wondfo SARS-CoV-2 Antibody Test , fabricado em Guangzhou, na China, pela empresa Wondfo, e foi validado pelos pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas. O plano do Ministério da Saúde é que a comparação dos resultados das diferentes rodadas mostre a velocidade com que o vírus está se espalhando pelo País. Esse tipo de informação poderá ser útil, por exemplo, para balizar uma decisão sobre medidas de relaxamento do distanciamento social em uma determinada região.

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