FOTOGRAFIA

Campinas perde mestre da imagem

Fotógrafo Gilberto di Biasi morre aos 86 anos, quase todos eles dedicados a clicar a cidade

Delma Medeiros
07/04/2018 às 15:49.
Atualizado em 23/04/2022 às 10:06
Gilberto, com alguns dos milhares de negativos que compõem seu gigantesco acervo: fotógrafo começou carreira aos 13 anos e registrou momentos históricos da cidade (Cedoc/RAC)

Gilberto, com alguns dos milhares de negativos que compõem seu gigantesco acervo: fotógrafo começou carreira aos 13 anos e registrou momentos históricos da cidade (Cedoc/RAC)

O universo da imagem está mais triste. Morreu na quinta-feira, aos 86 anos, o fotógrafo campineiro Gilberto di Biasi, um dos mestres da arte. Gilberto começou a se interessar cedo por fotografia: ele tinha 13 anos quando parou de ajudar o pai no bar que ele mantinha na Rua César Bierrembach para ir trabalhar como ajudante num laboratório fotográfico. A partir daí, nunca mais abandonou a paixão pelas fotos. Comprou sua primeira câmera e foi buscar nas ruas a inspiração para seus cliques. Aos 16 anos, ganhou um concurso promovido pela Prefeitura de Campinas e teve suas fotos expostas no hall do antigo Teatro Municipal. O concurso foi o ponto de partida para que ele resolvesse ingressar na imprensa. Ainda aos 16 anos, começou a trabalhar, em 1948 como fotógrafo no Diário do Povo. No ano seguinte, passou a fazer trabalhos para o Correio Popular. Em 1951, ele mostrou ao Brasil as imagens da tragédia do Cine Rink, que desabou em 16 de setembro deixando 25 mortos e cerca de 400 feridos, Di Biasi ficou no Correio até 1952, quando decidiu montar seu próprio estúdio. Ele acompanhou momentos marcantes da história de Campinas, como o lançamento da pedra fundamental da Unicamp, os primeiros anos dos estádios Brinco de Ouro, do Guarani, e Moisés Lucarelli, da Ponte Preta, a passagem da rainha Elizabeth II da Inglaterra e a presença da atriz Cacilda Becker, então a grande dama do teatro brasileiro, entre muitos outros. Seu acervo soma cerca de 500 mil negativos, além de equipamentos, livros e pelo menos 20 máquinas antigas, incluindo sua preferida, uma Rolleiflex. E toda essa riqueza está longe do público por um motivo difícil de acreditar: não há ninguém que se proponha a ser curador do material. Seu filho, Roberto di Biasi, há anos busca alguma instituição interessada em adquirir e preservar esse acervo. “Agora vou falar novamente com o Centro de Memória da Unicamp e sugerir que aluguem a casa onde meu pai morava e a transformem num museu, para disponibilizar ao público todo esse legado e garantir melhores condições de preservação”, disse. Gilberto di Biasi faleceu devido a complicações de saúde. Ele precisou ser operado por causa de um problema intestinal. A cirurgia transcorreu bem, mas logo depois ele sofreu dois enfartes e uma parada cardíaca, e precisou de respiração mecânica. Mesmo entubado, teve uma queda brusca na respiração e não resistiu. O corpo foi velado no Cemitério da Saudade e enterrado às 14h de sexta-feira. Para os profissionais e amantes da fotografia, ficou a saudade do mestre - e o legado que ele deixou. As fotos que ele produziu num período em que trabalhou na Prefeitura de Campinas estão guardadas no Museu da Imagem e do Som (MIS), que mantém uma coleção dedicada ao profissional com 335 imagens em preto e branco. Um detalhe: ele nunca se rendeu às máquinas digitais.

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