ALIMENTAÇÃO

Campinas não desperdiça hortifrutigranjeiros

Cidade dispensa 600t de frutas, hortaliças e ovos, porém, programa da Ceasa usa parte para consumo humano por meio da alimentação sustentável

Alenita Ramirez
02/05/2018 às 07:34.
Atualizado em 28/04/2022 às 07:22
Distribuição de alimentos do programa da Ceasa na entidade Lar Promoção do Jovem, na Rua Padre Francisco Abreu Sampaio, no Parque Itália, em Campinas: fila para compor a cesta básica das famílias (Dominique Torquato/AAN)

Distribuição de alimentos do programa da Ceasa na entidade Lar Promoção do Jovem, na Rua Padre Francisco Abreu Sampaio, no Parque Itália, em Campinas: fila para compor a cesta básica das famílias (Dominique Torquato/AAN)

Campinas perde cerca de 600 toneladas por mês de produtos hortifrutigranjeiros. Os números são das Centrais de Abastecimento de Campinas S/A (Ceasa). No entanto, deste volume, 41,5% são aproveitados pelo Instituto de Solidariedade para Programas de Alimentação (ISA), que direciona esse volume para programa de alimentação sustentável (consumo humano). Outros 16,6% são doados para consumo de animais. O restante, 41,9% são literalmente desperdiçados e vão parar no aterro sanitário. Entenda-se por perda, produtos (frutas, hortaliças e ovos) que sofrem pequenas avarias, como por exemplo um amassadinho, e leva à completa inviabilidade de valor de mercado — não podendo ser comercializado. Já o desperdício se refere ao ato de jogar fora alimentos que podem ser consumidos, por exemplo uma casca de banana que tem valor nutricional e pode ser usada na preparação de várias receitas. No Brasil, segundo o professor Walter Belik, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estima-se um desperdício de 44,6 milhões de toneladas por ano. Estudo feito pelo Mudanças Climáticas do World Resources Institute (WRI) Brasil, uma instituição de pesquisa internacional, cita que o País está entre os dez países que mais perdem e desperdiçam alimentos no mundo. “Não há uma estatística sobre a perda e desperdício de alimentos no mundo, pois a metodologia aplicada é muito complexa e difícil de se fazer em razão das culturas. Mas estima-se uma perda mundial de 30% sobre o que é produzido”, disse Belik. Só de grãos a produção brasileira é de 250 milhões de toneladas/ano. No estado de São Paulo, segundo o técnico-operacional da Ceasa/Campinas, Claudinei Barbosa, as perdas chegam a 280 mil toneladas ao mês. A Ceasa/Campinas é abastecida por 715 municípios brasileiros, mas há certos períodos do ano que chega a 914. Em média, a central campineira recebe cerca de 700 mil toneladas/ano de produtos hortigranjeiros. A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), na Capital, recebe um volume cinco vezes maior que Campinas e atende todo o Brasil e mais cerca de 15 países. Para Belik e Barbosa, a perda e desperdício de alimentos tem diversas implicações. No caso da perda, duas delas são a falta de estrutura no meio transporte, com ausência de uma cadeia de frios, e a outra um sistema inteligente de classificação, ou seja de negociação. Razões das perdas Para eles, no primeiro caso perde-se muitos alimentos com o sistema arcaico de transporte. Frutas ou legumes, por exemplo, que saem do Norte do País, são transportadas em caminhões a céu aberto, sem nenhum tipo de segurança ou embalagem. “Eles sofrem as oscilações de temperaturas, os impactos de buracos nas estradas e tantos outros que quando chegam ao destino, tem produto que está avariado”, disse Belik. No sistema de classificação, segundo o economista, a negociação entre produtor e entreposto deveria ser acertada antes de ser transportada. “Um agricultor manda o produto dele para uma Ceasa, por exemplo, e ele não sabe como estará o clima no local, a demanda entre outros. Muitas das vezes, quando o caminhoneiro chega com o produto precisa ficar horas esperando e com isso, só vai prejudicando ainda mais o que foi transportado”, explicou Belik. Já em relação ao desperdício, a falta de educação somada a ausência de informação por parte do consumidor na maioria das vezes explica o fenômeno, segundo os especialistas — o consumidor não sabe quanto comprar, como conservar o alimento e também aproveitar certos produtos. Voluntário e involuntário “A perda é diferente do desperdício. A perda é involuntária. Ninguém perde de propósito. Já o desperdício é voluntário. As pessoas compram exageradamente e muitas não sabem que há produtos que podem ser aproveitados em seu todo”, frisou Belik. Segundo Barbosa, no desperdício a falta de conscientização ambiental e cultural é o que mais pesa. Apesar do volume que vai para o lixo ter sido reduzido para 50%, ele poderia ser ainda menor. Acredita-se que se houvesse uma melhor triagem, higienização e destilação, 80% dos produtos descartados poderiam ser usados. “A casca da banana por exemplo, tem muito valor proteico. Ela pode ser usada para fazer uma receita de bolo, de risole. A casca do ovo pode ser transformada em farinha. É inadmissível convivermos com esse paradoxo fome versus desperdício”, disse.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por