Acidente registrado na Avenida Norte-Sul: altas velocidades aumentam as chances de mortalidade entre as vítimas (Diogo Zacarias)
Campinas registrou vítimas fatais, em cinco acidentes, em fevereiro deste ano, mantendo o mesmo índice registrado em igual período do ano passado considerando-se apenas os acidentes com vítimas fatais. Os dados são os menores da série histórica, divulgada pelo sistema Infosiga, do Governo do Estado, gerenciado pelo programa Respeito à Vida e Detran. SP, que analisa dados de acidentes desde o ano de 2015.
Das ocorrências registradas no mês passado, 60% das vítimas estavam em motos, eram do sexo masculino (80%) e tinham idades entre 30 e 34 anos (40%). Na maioria dos casos, a vítima morreu no hospital (80%).
Em relação ao tipo de acidente, 40% das pessoas que morreram se envolveram em acidente tipo “choque”, 20% foram atropeladas e 20% em acidente com colisão. Outros 20% não foram informados pelo sistema. Ainda referente às vítimas, 60% eram condutores dos veículos, 20% passageiros e 20% pedestres.
Fator pandemia
Analisando-se a série histórica, desde 2015, o mês de fevereiro deste ano apresenta um índice igual ao registrado no mesmo período do ano passado. Em relação a todo o ano, 2015 foi o ano em que o mês de fevereiro registrou o maior número de acidentes. Na época, foram 16 sinistros com vítimas fatais.
O segundo ano com o mês de fevereiro mais letal para o trânsito foi o de 2017, com 11 acidentes com vítimas fatais. Já de 2019 até 2022, os índices apresentaram queda.
Segundo o professor da Faculdade de Engenharia Civil e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAC/FAU) da Unicamp, Creso de Franco Peixoto, a queda dos índices ocorre no mesmo período em que o país passou a viver a pandemia da covid-19, que teve como consequência a redução no número de veículos nas ruas. “Em fevereiro de 2021, tínhamos ainda a forte influência da pandemia e, agora, ela está praticamente indo embora (…) Então, podemos dizer, do ponto de vista técnico, que há uma continuidade aparente dos índices. A única questão que muda é a de que, neste ano, temos um volume de tráfego circulante maior que em fevereiro passado. Quanto a esse ponto, pode se falar em algum reflexo positivo”, pontua. “Agora, independentemente se o trânsito está mais seguro ou não é importante que o motorista tenha o cuidado de entender que o excesso de velocidade tira a sua capacidade de desviar de um acidente, principalmente considerando-se o excesso de velocidade nas urbes.”
Segurança no trânsito
Peixoto traça um raio-X sobre quais comportamentos, baseados em critérios técnicos, apresentam potenciais riscos aos motoristas e pedestres. São ações já difundidas e conhecidas, mas que precisam ser incorporadas para garantir a segurança nas vias.
O professor avalia que as recentes mudanças no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) não foram benéficas nesse sentido, trazendo uma outra interpretação a pontos já esclarecidos e que precisariam de maior atenção.
Uma das mudanças veio com a Lei 14.071/20, que recentemente alterou o CTB. Ela determina que a suspensão do direito de dirigir é aplicada apenas quando o condutor acumula, dentro do período de 12 meses, 20 pontos na carteira com duas ou mais infrações gravíssimas; 30 pontos mais uma infração gravíssima; ou 40 pontos, mesmo sem nenhuma infração gravíssima. Antes da mudança, a suspensão ocorria com 20 pontos, independentemente do tipo de infração. “Quando o Código foi aprovado, ele salvou mil vidas no trânsito. Só no primeiro ano de vigência, o saldo de 35 mil mortos caiu 25 mil mortos. Então o impacto foi grande”, pontua, defendendo a aplicação de sansões que visem a coibir comportamentos imprudentes no trânsito.
O uso de álcool e drogas combinados à direção é outro agravante. “A questão que envolve o beber e dirigir é que a pessoa, normalmente, acha que não tem problema, fica com medo de perder a carta, mas tem algo maior: o motorista que atropela alguém vai levar isso para o resto da vida”, destaca.
Segundo um estudo citado por ele, desenvolvido pelo Hospital das Clínicas, na capital, 25% dos motoristas de motos que davam entrada no hospital vítimas de acidente, haviam consumido álcool ou drogas ilícitas. Quando este comportamento é combinado com a alta velocidade ele se torna ainda pior, pontua Peixoto, o que aumenta o risco de acidentes e de mortes nas vidas.