Apenas o HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS) tem potencial para fazer nascer uma "nova cidade" na região do distrito de Barão Geraldo
A ocupação do Pátio Ferroviário com projetos imobiliários, empresariais e sociais faz parte de um plano mais amplo da Prefeitura, que é promover a requalificação da região central de Campinas (Alessandro Torres)
O futuro de Campinas nas próximas três décadas passa pelas sementes plantadas agora de três novos eixos de desenvolvimento. "Como está previsto no Plano Diretor, o Centro da cidade é um dos três pilares do planejamento urbanístico de Campinas, ao lado do Polo de Inovação e Desenvolvimento Sustentável (PIDS) e do entorno do Aeroporto de Viracopos", explicou a secretária municipal de Planejamento e Urbanismo, Carolina Baracat Lazinho.
Apenas o HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS), projeto da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com participação de empresas, instituições de pesquisa e Prefeitura, que deverá ocupar 63,48% dos 17,8 milhões de metros quadrados do PIDs, tem potencial para fazer nascer uma "nova cidade" na região do distrito de Barão Geraldo. Ele poderá gerar 20 mil empregos, sendo a metade nas áreas de pesquisa e desenvolvimento, e absorver uma população de 40 mil pessoas, aponta o master plan (projeto urbano) elaborado pelo Korea Research Institute for Human Settlement (Krihs).
Essa previsão de crescimento é maior do que o número de habitantes de quatro das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC) - Engenheiro Coelho, Holambra, Morungaba e Santo Antônio de Posse. Criado em 1978, o Krihs tem a função de elaborar estudos de ordenamento do território e sugestões de políticas para a instalação de cidades inteligentes na Coreia do Sul.
INOVADOR
O HIDS foi idealizado pela Unicamp para promover o desenvolvimento sustentável de uma área de 11,3 milhões de metros quadrados, incluindo a antiga Fazenda Argentina, adquirida pela instituição em 2014, anexa ao seu campus na Região Norte de Campinas. "Nós temos um potencial de conhecimento e geração de soluções simplesmente estrondoso, como poucos locais no mundo. É um caso único na América Latina, que é pouco explorado em sua plenitude", afirma um dos integrantes da Coordenação de Implantação do HIDS Unicamp, Eduardo Gurgel do Amaral.
O PIDS, elaborado pela Prefeitura, prevê mudanças na Lei de Uso e Ocupação do Solo dos loteamentos Parque Jacarandá, Parque das Universidades e Parque Rural Fazenda Santa Cândida, situados no entorno do polo 2 de alta tecnologia de Campinas, o Ciatec 2. Esse projeto foi idealizado na década de 1970 e, sem qualquer incentivo ou diretriz pública específica, atraiu aproximadamente 30 empreendimentos, entre empresas, institutos de pesquisa e de ensino e incubadoras. Projeções feitas no início dos anos 2000, quando começaram as discussões sobre o desenvolvimento urbanístico da área, apontaram para um potencial de concentração de 300 empresas e gerar 30 mil empregos.
A proposta de instalação do PIDS está em discussão com a população e com várias entidades representativas da sociedade desde meados de 2022. O projeto final está previsto para ser enviado em outubro próximo pela Prefeitura para votação na Câmara. O projeto segue os conceitos modernos de urbanismo e arquitetura, que buscam incentivar as pessoas residirem próximas aos locais de trabalho. Além de promover qualidade de vida, reduzindo o tempo de deslocamento, a proximidade gera outros impactos, como incentivar outros meio de locomoção, como bicicletas e veículos elétricos, reduzindo a poluição e emissão de gases que causam o efeito estufa.
A alteração do zoneamento urbano da área permitirá a ocupação mista residencial, comercial e industrial no segmento de alta tecnologia. Hoje, o zoneamento do Ciatec 2 estabelece Zonas de Atividades Econômicas (ZAEs) e Zonas Mistas (ZMs) 1 e 2, o que permite construções verticalizadas de até 12 pavimentos (na ZM 2) e loteamentos fechados com até 650 mil m2 entre muros. Além disso, autoriza a edificação em gleba, o que não garante a reserva de área para a instalação de equipamentos públicos.
A secretária de Planejamento e Urbanismo apontou que a nova lei terá regras mais restritivas para a instalação de novos empreendimentos imobiliários do que as atuais. A proposta em discussão para o zoneamento da nova área prevê prédios de no máximo sete pavimentos, evita loteamentos fechados e incentiva áreas de interação dos espaços públicos e privados para a convivência dos moradores.
Ela será é "a base para permitir um modelo de urbanismo inovador, um polo tecnológico com menos trânsito, mais contato com a natureza e a preservação do meio ambiente, e estímulo à convivência em espaços públicos", disse Carolina Baracat.
OUTROS PONTOS
A Prefeitura de Campinas apresentou ainda os projetos executivos de implantação do paisagismo e de um parque escola no Pátio Ferroviário, que faz parte do "Nosso Centro", Plano de Requalificação da Área Central de Campinas (PRAC). As duas propostas estão orçadas em cerca de R$ 25 milhões e dependem de aprovação do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) para serem licitados e implantados.
A ocupação do espaço de 2 mil m2 reforça o processo do município para conseguir a cessão definitiva do pátio pela União. O complexo abrange uma área maior, de 200 mil m2. Os dois projetos apresentados fazem parte da chamada Fase 1 de requalificação da antiga propriedade da Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa), que hoje pertence ao governo federal. "O parque linear proposto no plano paisagístico e o parque escola devem ser entendidos no contexto de outros que já foram lançados, como a legislação de incentivos fiscais e urbanísticos para requalificação dos imóveis do quadrilátero central, e outros que ainda virão", explicou a secretária de Planejamento e Urbanismo.
A Fase 1 prevê quatro intervenções, com o projeto paisagístico compreendendo o espaço a partir da Estação Cultura até o prédio conhecido como rotunda. Já o Parque Escola envolve projetos da Fundação Municipal para Educação Comunitária (Fumec) e o Programa Primeira Infância Campineira (PIC). Ela engloba ainda o Espaço de Inovação para empresas de tecnologia/startups, proposta desenvolvida por professores de arquitetura da PUC-Campinas.
Já estão em fase de recuperação as instalações da Oficina de Locomotivas da Mogiana, local conhecido como Prédio do Relógio, com recursos de mitigação de Estudo/Relatório de Impacto de Vizinhança (EIV/RIV) de um empreendimento imobiliário. O prédio receberá uma mostra de arquitetura e depois ficará sob responsabilidade da Secretaria de Cultura e Turismo para a realização de eventos. Atualmente, a Prefeitura já utiliza algumas áreas do Pátio Ferroviário. Ali estão instalados o Centro de Educação Profissional de Campinas (Ceprocamp), a gare/Estação Cultura e a Sala dos Toninhos, como espaços culturais e de eventos, e o Galpão dos Lemos, com agenda voltada ao esporte e lazer.
A Fase 2 de ocupação será definida pela Comissão de Estudos Vocacionais do Pátio, instalada e maio. Ela tem a participação de órgão da sociedade e apontará novos projetos e suas ligações com a cidade e os espaços e bens da área de acordo com as premissas do Plano Diretor, considerando o contexto arquitetônico, histórico e cultural da área.
O terceiro pilar de planejamento urbanístico envolve o entorno do Aeroporto Internacional de Viracopos, o maior de cargas da América Latina e um dos principais de passageiros do Brasil. Atualmente, a ocupação envolve bairros residenciais e empresas de grande porte. A ampliação prevê segmentos que tenham relação natural com o aeroporto, como hotéis, centro de convenções e investimentos em logística.