DECISÃO POLÊMICA

Campinas extrai 181 árvores com risco de cair no Taquaral

Medida foi determinada por laudo da própria Administração, a pedido do MPSP

Bianca Velloso/ [email protected]
16/02/2023 às 09:34.
Atualizado em 16/02/2023 às 09:34
Um raio atingiu ontem o tronco do Jequitibá-rosa do Paço Municipal (Rodrigo Zanotto)

Um raio atingiu ontem o tronco do Jequitibá-rosa do Paço Municipal (Rodrigo Zanotto)

Para mitigar o risco de tragédias, como a da pequena Isabela Tiburcio Fermino, de 7 anos, que morreu no dia 24 de janeiro atingida por um eucalipto que caiu devido às chuvas no interior do Parque Portugal (Lagoa do Taquaral), a Prefeitura de Campinas iniciou a extração de 181 árvores do local. A medida foi determinada por um laudo solicitado pela Secretaria de Serviços Públicos a especialistas da própria Administração, sob recomendação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). O órgão determinou o fechamento dos parques e praças esportivas do município, cuja reabertura segue sem previsão.

Conforme o secretário municipal de Serviços Públicos de Campinas, Ernesto Dimas Paulella, o laudo é suficiente para determinar as intervenções, não sendo necessário submetê-lo à aprovação de outro órgão. Segundo ele, o trabalho de remoção das árvores deverá ser concluído em 30 dias. Dentre os indivíduos a serem removidos, estão 35 eucaliptos. O replantio será imediato, segundo Paulella. Mesmo assim, ambientalistas recomendam cautela nessa avaliação.

O estudo dividiu as árvores em três categorias: as que precisam ser manejadas (tratamentos fitossanitários, que é uma medida para preservar vegetais), as que serão extraídas e as que serão podadas. De acordo com o laudo, obtido pela reportagem, 45 árvores serão podadas, 62 manejadas e 181 extraídas.

A avaliação foi feita por uma equipe de seis profissionais, sendo três engenheiros agrônomos - entre eles o diretor do Departamento de Parques e Jardins (DPJ), Luis Cláudio Nogueira Mollo - um engenheiro florestal e dois biólogos. A equipe analisou os fragmentos florestais dentro do parque, segundo explicou o secretário de Serviços Públicos de Campinas. 

"O corpo técnico fez a análise, esse levantamento identificou dentro do parque 181 árvores de pequeno e médio porte, ou mortas ou comprometidas", indicou o secretário. Essas são as árvores que serão removidas. Ele disse que, a partir das análises do eucalipto que caiu no dia 24 de janeiro, foi apontado que todos os eucaliptos que estão no entorno dele devem ser removidos. 

De acordo com informações do laudo, a preocupação maior se encontra na região norte do Parque Portugal, uma vez que lá há uma porção de terra com concentração de eucalipto, espécie de árvore introduzida na região - ou seja, uma árvore que se estabelece em uma região fora de sua área de distribuição natural a partir de transporte, seja ele acidental ou intencional. 

O eucalipto é uma árvore de origem australiana e chegou ao Brasil no século XIX, com finalidades comerciais e assim permanece até hoje. O uso mais amplo é para a produção de papel, a partir da celulose. No caso do Taquaral, essas árvores foram plantadas naquela região quando o local era uma fazenda. A Prefeitura adquiriu, em 1972, os 33 alqueires da família Alves de Lima. Ao longo dos anos, foram feitos estudos para avaliação dessas árvores. "Em 2015 foi feito um estudo pela empresa Plant Care, foi feito ultrassom dos eucaliptos que apresentavam riscos. O exame indicou a necessidade de retirar 7 eucaliptos, o que foi feito. De lá para cá. fizemos o acompanhamento delas", explicou Paulella. De 2015 até o presente, foram podadas 395 árvores no parque e foi feita a remoção de 106.

Por essa razão, há um outro estudo em andamento para determinar se todos os dois mil eucaliptos plantados no Parque do Taquaral serão removidos, em função do risco. "Estamos aguardando o Instituto Florestal, que irá trabalhar junto com a Prefeitura para decidir se todos serão removidos. O resultado pode sair ainda nesta semana", informou o secretário. 

Raio atinge tronco do Jequitibá-rosa do Paço Municipal

Um exemplar da árvore símbolo de Campinas, o Jequitibá-rosa, localizado no jardim da frente do Paço Municipal foi atingindo por um raio durante a tempestade de quarta-feira à tarde. Não há risco de queda e nem será preciso extrair o exemplar de 200 anos, que tem cerca de 50 metros de altura e 2,5 metros de diâmetro. Ele receberá uma intervenção preventiva, que prevê o corte dos galhos maiores e mais altos para aliviar o peso da copa. Também será amarrado um cabo de aço no tronco, pouco antes da forquilha (início da bifurcação). De acordo com a Secretaria de Serviços Públicos, o Paço Municipal dispõe de para-raios e, por isso, o dano no tronco da árvore foi superficial. Os trabalhos serão realizados ainda hoje. O local no entorno do jequitibá está interditado, segundo a nota da Prefeitura.

A forte chuva que atingiu Campinas na tarde de quarta-feira (15), seguida de ventos fortes, que ultrapassaram 60 quilômetros por hora, voltou a colocar a cidade em Estado de Atenção. Foram registradas 16 quedas de árvores na cidade, desabamento de muro e até mesmo o desmoronamento de uma cabeceira de ponte. O índice pluviométrico foi de 82,4 mm, segundo informações da Defesa Civil de Campinas. De acordo com o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), a velocidade do vento chegou a 61,1 km/h, na região dos Amarais (Norte da cidade). 

A Empresa de Desenvolvimento Municipal de Campinas (Emdec) também registrou a queda de outdoor na Av. Ruy Rodriguez, com a Rua Piracicaba, e de um muro na mesma via com a Rua Pedro Galhardi. Houve ainda desmoronamento de cabeceira de ponte na Rua Lusiânia com a Rua João Batista Alves da Silva. A Secretaria de Serviços Públicos, de acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura, iniciou na quarta-feira mesmo a remoção das árvores, com prioridade para a desobstrução de vias públicas

De acordo com a Ana Maria Ávila, meteorologista do Cepagri, ligado à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) disse que há previsão de temporais entre hoje e amanhã também, com grandes possibilidades de temporais. "O calor e a umidade favorecem a formação de tempestades, mas atmosfera também está com condições favoráveis a formação dessas nuvens de temporais". 

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