CRISE CLIMÁTICA

Campinas enfrenta a pior seca desde a grande estiagem que castigou a região há uma década

Segundo o Cepagri, chuva esteve abaixo da média histórica neste ano de 2024

Bruno Luporini/[email protected]
13/09/2024 às 07:48.
Atualizado em 13/09/2024 às 08:24
Campinas atravessa o pior período de estiagem desde 2014, com registro de 543,7 milímetros até o momento; no Jardim São Quirino, uma bica ajuda os moradores a combater a sede e o calor (Kamá Ribeiro)

Campinas atravessa o pior período de estiagem desde 2014, com registro de 543,7 milímetros até o momento; no Jardim São Quirino, uma bica ajuda os moradores a combater a sede e o calor (Kamá Ribeiro)

A situação de estiagem em Campinas em 2024 é alarmante, sendo a pior desde 2014, conforme dados do Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas (Ciiagro). Até setembro, foram registrados 543,7 milímetros de chuva, apenas 79,4 milímetros a mais do que a pior seca da história ocorrida há uma década. O fenômeno climático El Niño, que aquece as águas do Oceano Pacífico, intensifica um sistema de alta pressão que mantém o ar quente e seco estagnado, impedindo a chegada de frentes frias e, consequentemente, das chuvas.

O Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) revelou que a precipitação acumulada esteve abaixo da média histórica (1990-2023) em cinco dos oito meses do ano, com exceção de maio, julho e agosto. A média histórica de precipitação para setembro é de 61,2 milímetros, mas até o dia 12 deste mês, não houve registro de chuvas. O pesquisador e meteorologista do Cepagri, Bruno Bainy, destacou que as chuvas devem ficar na média ou abaixo dela para setembro, com temperaturas bem acima da média, caracterizando uma situação atípica e persistente. Bainy também prevê que a região enfrentará temperaturas mais elevadas, períodos secos mais prolongados e chuvas concentradas em períodos mais curtos.

Francisco Lahóz, secretário executivo do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), informou que os 20 municípios atendidos pelo Sistema Cantareira e os 76 atendidos pelas bacias PCJ estão em situações estáveis. No entanto, o abastecimento depende de fatores pontuais como a existência de reservatórios e o nível de consumo. As recomendações do PCJ para os gestores públicos incluem manter os reservatórios de bairro com plenitude de vazão, antecipar as revisões técnicas e ter estoque de peças de reposição para os equipamentos, como bombas hidráulicas. Lahóz também mencionou que o Estado tem um histórico de convivência com períodos de pouca disponibilidade hídrica, o que pode ajudar a amenizar o impacto da atual estiagem no abastecimento.

QUEIMADAS

O cenário atual contribui para a manutenção das altas temperaturas, acima dos 30 graus, e dias seguidos com umidade relativa do ar abaixo dos 20%, intensificando os focos de incêndio. Segundo dados do Monitor do Fogo, elaborado pela organização MapBiomas, o Estado de São Paulo registrou 430 mil hectares queimados até agosto deste ano, um aumento de 834% em relação a todo o período de 2023. Em Campinas, foram 1.129 mil hectares queimados em 2024, um aumento de 77,7%. "Sem dúvidas, este é um dos piores anos desde 2014. Não tivemos inverno, apenas três ondas de frio, com temperaturas muito elevadas. Está bem complicado", relatou Sidnei Furtado, diretor da Defesa Civil do município.

A semana foi marcada por grandes incêndios na região, como o ocorrido na Serra das Cabras, distrito de Joaquim Egídio, onde uma força-tarefa formada por vários órgãos impediu que o fogo chegasse ao Observatório Municipal Jean Nicolini, após 14 horas de trabalho. Os dez dias de combate às queimadas na Serra dos Cocais, onde o fogo consumiu mais de 300 hectares, e os focos no Jardim Amazonas e na região do Swiss Park, na tarde desta quinta-feira, demonstram a gravidade do problema. "É um grande desafio, porque os focos são generalizados, tanto aqui quanto em todo o Estado. A principal ação é evitar que o fogo chegue até as áreas urbanizadas", completou Furtado.

QUALIDADE DO AR

A qualidade do ar piorou em decorrência da fumaça e poluição concentradas pelo bloqueio atmosférico. As informações são do site suíço IQair, que monitora globalmente, em conjunto com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), 6.475 locais em 117 países. A escala, que vai de 0 a 500, é feita pelo nível de densidade de poluentes no ar. Até 50, a qualidade é considerada boa; até 100, moderada; até 150, insalubre para grupos sensíveis; até 200, insalubre; e acima de 300, muito insalubre e perigoso. Na quarta-feira, 11, Campinas registrou um índice de 175, o quarto pior do Brasil. "Essa situação compromete o sistema de saúde, aumentando muito os casos de problemas respiratórios", apontou Sidnei. Entre 28 de julho e 22 de agosto, foram registrados 3.812 atendimentos de pessoas com sintomas respiratórios no SUS de Campinas, segundo o último balanço divulgado pela Secretaria de Saúde. Nesta sexta-feira, a situação da qualidade do ar foi amenizada pelos ventos mais intensos, reduzindo o índice para 50 no Centro e 44 na região do Taquaral.

Os sintomas que o forte calor e baixa umidade relativa do ar podem causar na população incluem ardor nos olhos, nariz e garganta, tosse seca e cansaço. As recomendações são: reduzir o esforço físico pesado ao ar livre, especialmente para pessoas com doenças cardíacas ou pulmonares, ter mais atenção com os idosos e crianças, utilizar roupas adequadas e confortáveis, e manter a hidratação constante.

ACESSO À ÁGUA E HIDRATAÇÃO

A abundância de água, especialmente nesse período, é essencial para evitar problemas de saúde. Nesse contexto, uma fonte de água na praça Cândido Portinari, no São Quirino, se tornou uma opção de hidratação para os moradores da região. Morador do Jardim Nilópolis há 47 anos, Ademir Aparecido conta que há muitos anos vai toda semana ao local coletar 40 litros de água. "É muito boa! Sempre que venho, tem pelo menos umas quatro, cinco famílias aqui", apontando que é comum ver crianças, animais de estimação e transeuntes se refrescando nas bicas.

FRENTE FRIA

A passagem de uma frente fria está prevista para este final de semana. No entanto, as temperaturas não tendem a cair severamente e a possibilidade de chuva é muito baixa. O contexto trará alívio para o forte calor, mas não resolverá o problema das queimadas. "Tem que chover, só com a chuva o problema das queimadas e da qualidade do ar será resolvido. Se essa frente fria não trouxer chuva, a situação pode piorar, porque com ventos mais fortes e umidade do ar baixa, os incêndios podem se espalhar", completou Furtado.

  

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