CONTAGEM POPULACIONAL

Campinas é a segunda cidade mais populosa do país, fora capitais

De acordo com os dados divulgados ontem pelo IBGE, o município possui uma população de 1.185.977 habitantes, sendo superado apenas por Guarulhos

Bruno Luporini/[email protected]
30/08/2024 às 11:11.
Atualizado em 30/08/2024 às 11:20
O crescimento populacional de Campinas é resultado do crescimento vegetativo, caracterizado por um número maior de nascimentos em relação aos óbitos; esse fator difere de décadas passadas, quando o crescimento estava diretamente ligado aos fluxos migratórios (Kamá Ribeiro)

O crescimento populacional de Campinas é resultado do crescimento vegetativo, caracterizado por um número maior de nascimentos em relação aos óbitos; esse fator difere de décadas passadas, quando o crescimento estava diretamente ligado aos fluxos migratórios (Kamá Ribeiro)

A atualização do Censo 2022 coloca Campinas como o segundo maior município do país, excluindo as capitais, e o maior do interior do Brasil. Os dados, divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fazem parte da atualização do último Censo, publicado em junho de 2023. Campinas aparece na lista com 1.185.977 habitantes, um aumento de 9,8% em comparação com o Censo de 2010. Entre as cidades que não são capitais, Campinas fica atrás apenas de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, que possui 1.345.364 habitantes. Considerando todas as capitais, Campinas é o 14º maior município do país.

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) é a décima maior do Brasil, entre as trinta registradas, com 3.305.102 habitantes, um crescimento de 18,1% em relação ao Censo de 2010. Além de Campinas, as maiores cidades da RMC são Sumaré (289.787 habitantes), Indaiatuba (267.796), Hortolândia (247.331) e Americana (246.655). Nenhum dos 20 municípios da RMC apresentou decréscimo populacional.

O censo demográfico é uma pesquisa ampla e aprofundada da realidade socioeconômica da população brasileira, realizada a cada década. A comparação entre as publicações permite aferir o número de habitantes, mudanças na estrutura etária, fluxos migratórios, acesso a emprego e renda, identificação étnico-racial, registro civil, mortalidade, entre outros indicadores importantes para a elaboração de políticas públicas. "O primeiro passo para qualquer política social é identificar com precisão a 'população alvo' dessa política", comenta Roberto Luiz do Carmo, pesquisador do Núcleo de Estudos de População (Nepo), vinculado à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Os dados captados e analisados são utilizados como parâmetros na distribuição dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), pois o volume populacional determina o montante de recursos a serem distribuídos. "As projeções anuais do IBGE são realizadas exatamente para atender a essa finalidade", completa do Carmo. Outro aspecto relevante é a distribuição da representação política, já que o número de munícipes determina o número de vereadores de uma cidade, assim como a quantidade de habitantes de um estado define a proporção de deputados e senadores que cada unidade federativa tem direito.

REPRESENTATIVIDADE

O Censo 2022 incorporou uma questão sobre a presença de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos domicílios analisados. Segundo o pesquisador Roberto Luiz do Carmo, "será possível entender a distribuição dessas pessoas na sociedade e identificar características principais desse grupo, como número de indivíduos, composição por idade e sexo, e distribuição geográfica no país". Isso permitirá a elaboração de políticas públicas específicas para esse e outros grupos, como crianças com menos de cinco anos que não foram registradas. Sem essa informação, essas crianças não podem acessar os sistemas educacional e de saúde.

Com perguntas específicas sobre populações indígenas e quilombolas, o Censo pode ser customizado para registrar informações mais detalhadas, tornando-se uma dimensão importante das lutas políticas da sociedade, completa o pesquisador.

DADOS DISCREPANTES

Na comparação entre os números divulgados em junho de 2023 e junho de 2024, haverá diferenças evidentes. Um exemplo é a população de Campinas. Na primeira publicação, do ano passado, a cidade apareceu com 1.139.047 habitantes, 4,1% a menos do que a atualização aqui divulgada. A diferença não significa que Campinas aumentou sua população em cerca de 47 mil habitantes em um ano, mas sim, que houve ruídos na compilação dos dados. Para o pesquisador do Nepo, esse fenômeno é natural. "Como qualquer outra pesquisa populacional, no Brasil e no mundo, o Censo está sujeito a imprecisões", explica. Erros podem ocorrer quando um entrevistador entra no setor de outro entrevistador, resultando na contagem dupla de um mesmo domicílio ou na omissão de um domicílio na pesquisa. Roberto afirma que "o conjunto desses tipos de erro de cobertura foi estimado em 8,3% pela Pesquisa de Pós-Enumeração". Ele também menciona outros fatores que contribuíram para os erros: "Vale lembrar que o Censo de 2022 teve uma série de problemas: foi adiado por conta da pandemia, teve seu orçamento reduzido em um terço do valor previsto e coincidiu com um dos processos eleitorais mais polarizados da história do país".

A Coordenação de Comunicação Social do IBGE informou que a diferença entre os resultados se deve ao método utilizado. No caso do Censo, é feita a contagem efetiva da população em determinado ano, enquanto os valores projetados ou estimados têm como ponto de partida a população ajustada, utilizando técnicas demográficas que avaliam fecundidade, mortalidade e migração. "É importante ressaltar que ambos os processos de trabalho não são excludentes, mas complementares", afirma a nota. "A interação entre esses fatores, associada à atualização dos valores do Censo 2022, foi o que levou a esse crescimento populacional de Campinas", analisa do Carmo.

CRESCIMENTO

O crescimento populacional de Campinas é resultado do crescimento vegetativo, caracterizado por um número maior de nascimentos em relação aos óbitos. Esse fator difere de décadas passadas, quando o crescimento estava diretamente ligado aos fluxos migratórios. O prefeito Dario Saadi analisou o fato de Campinas se tornar o maior município do interior do Brasil: "Os números comprovam o crescimento da população e a importância da cidade no cenário nacional. É preciso que a gestão acompanhe esse crescimento, ampliando serviços, não apenas em quantidade, mas também em qualidade, e garantindo a criação de um ecossistema que favoreça o desenvolvimento sustentável da cidade como um todo".

O aumento da população contribui para a reposição mais rápida da mão de obra, mas também eleva a demanda por serviços de saúde, educação, saneamento, segurança e lazer. O prefeito de Jaguariúna e presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC, Gustavo Reis, afirmou: "Esse crescimento é resultado de um ambiente próspero, onde políticas públicas eficazes e investimentos em infraestrutura, saúde, educação e segurança têm garantido condições ideais para que mais pessoas escolham a nossa região como lar".

PROJEÇÕES FUTURAS

As projeções realizadas pelo IBGE indicam que, a partir da década de 2040, haverá uma diminuição do volume populacional no país. No entanto, as estimativas para o Estado de São Paulo sugerem que esse fenômeno ocorrerá já na próxima década, a partir de 2030. "Isso porque o processo de transição demográfica que caracteriza a sociedade brasileira, com a diminuição do número de filhos por mulher, ocorreu primeiramente nas regiões mais desenvolvidas e urbanizadas do país", finaliza o pesquisador.

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