ESTRAGOS

Campinas é a líder da RMC em erosões na zona rural

Laudo indica ainda que a região está em uma área suscetível a inundações, outro fator que explica o número alto de processos erosivos

Sarah Brito
28/06/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 09:17
A erosão é causada tanto por águas de chuva quanto de rios e córregos,r
dependendo também do tipo de solo da área; também tem influência neste r
cenário a ação do homem, tanto na agricultura quanto na ocupação urbana (Divulgação/ IPT )

A erosão é causada tanto por águas de chuva quanto de rios e córregos,r dependendo também do tipo de solo da área; também tem influência neste r cenário a ação do homem, tanto na agricultura quanto na ocupação urbana (Divulgação/ IPT )

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) contabiliza 652 erosões rurais no território, de acordo com levantamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). São erosões pluviais — causadas pela água da chuva —, fluviais — de rios e córregos — e da ação humana. No estado de São Paulo, a região é classificada com nível médio a alto de criticidade de processos erosivos, causados, principalmente, pela água. Na área urbana, são 62 erosões. A cidade com maior número de erosões na área rural é Campinas, com 128 casos, devido a extensão da área e o crescimento populacional.No entanto, são erosões menores, devido ao tipo de solo onde está inserido, onde predominam terrenos com incidência baixa a moderada de processos erosivos. O solo é uma mistura dos tipos arenosos e argilosos, o que contribui para a erosão. O laudo indica ainda que a região está em uma área suscetível a inundações, outro fator que explica o número alto de processos erosivos. “A erosão é a concentração de escoamento de água, que desagrega o solo. Com isso, ele é transportado e depositado em algum rio, córrego. Isso diminui a capacidade de armazenar água. É um ciclo”, disse o pesquisador do IPT, Gerson Salviano de Almeida Filho. O estudo do IPT foi baseado em dados do projeto “Cadastramento de pontos de erosão e inundação no Estado de São Paulo”, contratado pelo DAEE e financiando pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos — Fehidro do Estado. Ele foi executado em 2011 a 2012, em todos os municípios paulistas. Para o levantamento da RMC, o IPT fez um cruzamento de dados, incluindo estudos de campo e fotos aéreas. “Para a erosão rural foi feita uma interpretação de fotos aéreas, de 2010. Nas erosões urbanas, fizemos um trabalho de campo”, disse Gerson. O estudo mostra ainda que predominam na região as áreas de ocupação humana, em mais de 50% do seu território, seguidas pelas classes de mata (22%) e pelas culturas semiperenes (10%). “A erosão está ligada à expansão humana, e isso se mostra nos dados. Quanto maior a população, maior a intervenção no solo”, disse.A região de Campinas possui diversos sistemas de transportes (rodoviário, ferroviário, hidroviário e aeroviário) que dão suporte ao seu crescimento econômico, e abriga importantes centros urbanos. A RMC concentra o segundo maior contingente populacional do Estado, com aproximadamente 5 milhões de habitantes.InundaçãoPela análise do IPT, 16 cidades da região tiveram registros de inundações e enchentes. São elas: Americana, Campinas, Cosmópolis, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Santa Bárbara D'oeste, Sumaré, Valinhos, e Vinhedo. A proximidade com o rio Atibaia é apontada como uma das razões para o problema, que é um dos grandes fatores de erosões na região. “Quase 50% dos municípios paulistas têm problemas de inundações. Isso ocorre porque as cidades, principalmente na região de Campinas, nasceram na beira de rios”, disse Almeida.CampinasDe acordo com o mapa de Erosão do Estado de São Paulo, o município está inserido em sua maior parte na classe baixa de suscetibilidade à erosão. De acordo com o estudo, são “áreas onde predominam sulcos com incidência de moderada a média, e baixa incidência de erosão laminar”. Apesar do alto número, as erosões, em sua maioria, são pequenas.De acordo com o estudo, Campinas se divide em três formações. No Planalto de Jundiaí, onde predominam formas de relevo constituído basicamente por colinas e morros baixos. No nível alto do planalto, predominam morros com altura entre 900 e 1200 metros, com declividades predominantes de 30 a 40%, chegando a 60% em algumas vertentes. Isso colabora para, quando chove, a água escorrer com maior velocidade, provocando erosões no solo. “Essa área apresenta um nível de fragilidade potencial alto, estando sujeita a ocorrência de movimentos de massa e desencadeamento de processos erosivos vigorosos”, diz o estudo.Na cidade, foram cadastradas 36 erosões lineares urbanas (12 ravinas e 24 boçorocas) e 128 rurais (41 ravinas e 87 boçorocas). Ravina é quando o solo forma um barranco, produto de erosão pela ação de córregos e enxurradas. Já a boçoroca é uma fenda no solo, uma “ruptura na terra”. Podem ser causadas pela ação da chuva, mas também pelo desmatamento e erros no manejo agrícola e peciário.GrandeUma das maiores erosões da RMC, apontada no estudo, é a cratera que abriu entre as cidades de Americana e Santa Bárbara D'Oeste. Na Estrada da Balsa, o enorme buraco tem características semelhantes a um desfiladeiro, com aproximadamente 900 metros de extensão, largura variando de 20 a 100 metros e taludes com alturas variando entre oito a 20 metros. No local, a água pluvial atinge os taludes provocando erosões nas suas bases, como ocorre na formação de um canyon. As prefeituras de ambas cidades devem cuidar do problema, que envolve sistemas de drenagem, estabilização dos taludes e proteção da vegetação no entorno.O IPT estudou a cratera no início do ano, e constatou que a evolução lateral do processo encontra-se acelerada em função do lançamento contínuo das águas pluviais no interior da cratera, principalmente durante ou após chuvas intensas. A rachadura no solo começou em 2007, causado pelo escoamento de águas pluviais sem tratamento no local. No leito da erosão passa ainda um pequeno fio de água. Em 2009, o Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema) do Ministério Público Estadual (MPE), de Piracicaba, começou a investigar o caso. Em agosto do ano passado, decisão da Justiça manteve a condenação às prefeituras para que recomponham o dano ambiental.

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