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Campinas é a cidade do Brasil que mais cresceu em ranking global de startups

Consultoria analisou dados de mais de 350 ecossistemas, com 5 milhões de empresas, e colocou o município na 365ª posição geral e 8ª no Brasil

Edimarcio A. Monteiro/edimarcio.augusto@rac.com.br
19/06/2025 às 12:30.
Atualizado em 19/06/2025 às 13:54

Uma das startups instaladas no Parque da Unicamp usa a biotecnologia para transformar ingredientes vegetais e subprodutos agroindustriais em insumos para a própria indústria (Rodrigo Zanotto)

Campinas foi a cidade brasileira com maior crescimento entre os ecossistemas de startups, empresas emergentes geralmente com foco em inovação e tecnologia, o que a levou a dar um salto e ganhar 210 posições no ranking global do setor. Com 1.101 pontos, o desempenho do município na edição 2025 do Global Startup Ecosystem Report (GSER) foi 208,9% superior ao registrado na edição de 2024, levando o município à 365ª posição. O ranking é elaborado pela consultoria Startup Genome, que analisou os dados de 5 milhões de empresas em mais de 350 ecossistemas em todo o mundo. Na última edição, a metrópole aparecia na 510ª posição geral. “Tanto Campinas quanto Joinville registram crescimentos globais de três dígitos, posicionandose em 8º e 9º lugares no Brasil. Seu crescimento é tão expressivo que Recife não conseguiu manter a 8ª posição, apesar do bom momento global”, destacou o documento ao referirse ao país.

A 13ª edição da pesquisa foi divulgada na VivaTech Week, maior evento de tecnologia e inovação da Europa e que está sendo realizado nesta semana em Paris, na França. O estudo analisou 1.473 cidades em 118 países. A Genome é a organização líder mundial em desenvolvimento de ecossistemas de inovação, em parceria com a Global Entrepreneurship Network (Rede Global de Empreendedorismo, em tradução livre), que opera programas do setor.

O estudo analisou centenas de milhares de dados processados por um algoritmo que considerou dezenas de conjuntos de parâmetros. Três pontos principais foram avaliados: a quantidade, medindo o nível de atividade do ecossistema; qualidade, observando o impacto e o sucesso da empresa; e o ambiente de negócios, considerando as condições gerais favoráveis ao crescimento das empresas. As informações foram fornecidas por órgãos oficiais dos governos federal e estadual. “A globalização deu lugar a uma economia mais focada regionalmente, com o surgimento de blocos distintos. Nesse ambiente, os fundadores devem ser mais estratégicos do que nunca sobre quais setores perseguir e onde instalar suas startups”, afirmou o CEO da StartupBlink, Eli David Rokah, responsável pela copilação dos dados.

CENÁRIO LOCAL

Campinas, de acordo com o GSER, subiu quatro posições no ranking nacional e passou a ocupar o 8º lugar, ultrapassando cidades como Joinville (SC), a nona colocada, e Recife (PE), que caiu para 10º. A cidade catarinense, também destacada no relatório, teve crescimento de 84,4% na pontuação total do Índice de Ecossistema e ganhou 108 colocações no ranking global. No novo relatório, Campinas obteve a melhor posição entre as cidades do Brasil que não são capitais.

São Paulo foi a líder na avaliação nacional, com 42.361 pontos, ocupando o 23º lugar no ranking global. Depois aparecem Rio de Janeiro-RJ (5.495 pontos), Curitiba-PR (5.471), Belo Horizonte-MG (4.829), Porto Alegre-RS (3.002), Florianópolis-SC (1.674) e BrasíliaDF (1.116). Campinas é a cidade do interior paulista com o maior número de startups, contando com 174 empresas, de acordo com o relatório do Sebrae Startups Report 2024, plataforma do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas que agrega iniciativas de capacitação, conexão e fortalecimento de negócios em fase inicial para fomentar o empreendedorismo.

O engenheiro mecânico Denis Shiguemoto e outros alunos de graduação e pós-graduação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) se uniram para montar uma startup especializada em simular acidentes envolvendo empresas dos setores de mineração, petróleo, gás e outros. O trabalho inclui, por exemplo, cenários com dispersão de poluentes, incêndios e explosões para entender quais as consequências e ajudar a definir medidas de prevenção para evitar ocorrências do tipo. “São cenários fictícios que simulamos para tentar entender essas consequências, para que a empresa, o tomador de decisão, adote as medidas mitigadoras para deixar a sua indústria segura”, explicou Denis Shiguemoto, diretor executivo da startup.

O trabalho envolve cálculos complexos e que são executados em horas e até dias. Para reduzir o tempo e otimizar a operação, a empresa começa a desenvolver pesquisas para usar a inteligência artificial (IA). Ela está instalada no Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, valendo-se do ecossistema acadêmico para encontrar profissionais e soluções para avançar com o projeto.

Para Eli Rokah, essa é uma das forças principais que estão moldando o ambiente tecnológico global. “A primeira é a inteligência artificial, agora amplamente reconhecida como um dos avanços tecnológicos mais significativos da memória recente. Ela está definindo a agenda para as próximas décadas e tem o potencial de remodelar economias em um ritmo sem precedentes. A segunda grande mudança é o cenário geopolítico em evolução”, enumerou o CEO da StartupBlink.

AMBIENTE PROPÍCIO

Outra startup do parque da Unicamp usa a biotecnologia para transformar ingredientes vegetais e subprodutos agroindustriais, que muitas vezes seriam descartados, em insumos para a própria indústria. “Tem toda essa parte de economia circular. A indústria, às vezes, até vende esse subproduto, mas com um valor baixo. A gente consegue fazer com que ele tenha um valor bastante superior depois do processo. Ele vira um ingrediente nobre”, explicou a engenheira de alimento Paula Speranza, criadora da empresa.

Ela transformou em negócio o projeto de pós-doutorado desenvolvido na universidade. O trabalho usa fermentação e processos enzimáticos para aprimorar ingredientes essenciais para a alimentação humana e nutrição animal. Para a empresária, o ambiente de pesquisa e inovação da Unicamp foi importante para instigá-la a enveredar pelo novo negócio e também para o desenvolvimento dos projetos. “Na pós, eu sempre entendi que aquela pesquisa tinha que ter alguma aplicação industrial. Foi por isso que eu abri a startup, pra juntar essas minhas duas bagagens, a científica e a experiência ao ter trabalho na indústria”, contou Paula Speranza.

No Parque Científico da Unicamp, ela tem acesso a laboratórios para desenvolver as pesquisas, a profissionais de outras áreas que complementam esse trabalho e encontra mão de obra especializada para trabalhar na empresa. “Estar dentro da Unicamp é muito interessante nesse sentido”, disse a empresária.

RESULTADO

As startups e empresas vinculadas ao Parque Científico e Tecnológico da Unicamp e à Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Incamp) registraram no ano passado o faturamento recorde de R$ 129 milhões, crescimento de 57% em relação ao ano anterior. O relatório apontou que há 80 empresas vinculadas, aumento de 33,3% em relação ao ano anterior, das quais 35 são startups, 37 são empresas incubadas e ainda há oito laboratório de pesquisas. A categoria startups liderou o crescimento, com aumento de 52%.

“O excelente resultado de 2024, o maior desde o início da série histórica registrada, demonstra o sucesso das startups e incubadas, beneficiadas pelo ambiente colaborativo e conectado do parque e sua incubadora, que catalisa a inovação, promove a interação entre empresas e talentos da Unicamp, estimula soluções inovadoras e competitivas e impulsiona o crescimento socioeconômico”, analisou Renato Lopes, diretor executivo da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), responsável pela gestão dos dois espaços.

Os projetos voltados a incentivar o surgimento de startups em Campinas ganharam novas frentes nos últimos 20 dias. Uma delas é a IMATech, programa de incubação da Informática de Municípios Associados S.A. (IMA), empresa de economia mista que tem com principal acionista a Prefeitura de Campinas. A iniciativa tem como objetivo impulsionar empresas com soluções tecnológicas voltadas para cidades inteligentes e sustentáveis, com as inscrições podendo ser realizadas pelo site https://polo.ima.sp.gov.br/imatech até o dia 30.

Já a Unicamp e a Petrobras, maior empresa brasileira, assinaram um acordo inédito de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) para impulsionar a cadeia de energia, óleo e gás no país. Com duração de três anos, o projeto recebeu o nome de Enfuse (Entrepreneurship for Future and Susteinable Energy) e é voltado à criação de startups de alta tecnologia, conhecidas como hard techs, no setor de energia.

“É um orgulho para a Unicamp ser escolhida pela Petrobras para conduzir esse projeto de pesquisa, demonstrando o reconhecimento e o trabalho desenvolvido na Universidade. A nossa maior contribuição para a sociedade é o conhecimento gerado aqui. Dessa forma, por si só, esse projeto já tem um valor incalculável para a sociedade” disse o reitor da instituição, Paulo César Montagner.

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