Parque linear do Córrego do Piçarrão, trecho 3, localizado no Parque Industrial em Campinas: ciclovias, área verde e espaço para diversão (Kamá Ribeiro)
Dos 43 trechos de parque lineares objetos de um estudo contratado pela Secretaria Municipal do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável há pouco mais de dois anos, a Prefeitura espera entregar até oito deles para a população nos próximos três anos. O desafio, no entanto, está atrelado aos recursos para financiar a implantação dessas áreas. O surgimento de novos loteamentos aparece como a aposta da Administração para que esses projetos se tornem realidade.
Os parques lineares são uma solução para equilibrar o déficit de áreas verdes sociais na cidade e ao mesmo tempo proteger ou recuperar os ecossistemas lindeiros aos cursos e corpos d'água. A 'dependência' da Prefeitura em relação aos empreendedores privados para a viabilidade dos projetos, apesar de constar em lei, divide opiniões. Se por um lado é uma solução que supre a falta de dotação orçamentária da Prefeitura para os projetos, por outro abre a discussão sobre o alcance público permanente dos projetos concebidos pela iniciativa privada.
Até o momento foram aprovados 21 projetos básicos, sendo que destes, sete já possuem os projetos executivos também aprovados e que serão implantados no âmbito de novos loteamentos. A implantação de parques lineares surgiu em 2016 com a aprovação do Plano Municipal do Verde. Na ocasião foram previstos 49 trechos de parques lineares na cidade. Estima-se o valor de R$ 300 milhões para a implantação de todos os trechos. Os 43 trechos de parques que foram objetos de estudo totalizam aproximadamente 879 hectares e 96 km lineares.
Segundo a Prefeitura, os parques lineares são categorias de áreas verdes que possibilitam a promoção de atividades de lazer e esporte, circulação não motorizada, promoção de educação ambiental e cidadania, melhorando a qualidade de vida da população, assim como a manutenção, regeneração e recuperação de aspectos físicos e biológicos da fauna, flora e dos recursos hídricos.
Entre os trechos que possuem o projeto básico aprovado, a Prefeitura destaca o parque linear do Córrego Bandeirantes na Vila União, cuja implantação está sendo discutida com a população. Entre projetos finalizados e entregues para a cidade foram apontados o parque linear do Córrego do Piçarrão trecho 3 localizado no Parque Industrial, entre as ruas Padre Joseph Bouchard e Avenida João Batista Morato do Canto, e o trecho do Parque do Ribeirão Anhumas, próximo ao condomínio Alphaville.
Ainda segundo a Prefeitura, mais de 50% dos trechos de parques lineares da cidade já possuem plantio de árvores ou equipamentos de lazer e esporte. A prefeitura admite, no entanto, que sem o apoio de fontes de financiamentos privados não há como viabilizar a completa implantação dos parques. "Praticamente todos os parques lineares em áreas públicas precisam de financiamento para completa implantação. A Secretaria do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável tem buscado parcerias e fontes de financiamento para a viabilização da implantação dos parques nas áreas públicas", destaca a Prefeitura através da assessoria de imprensa.
Ainda conforme a Administração, algumas parcerias auxiliam na elaboração dos projetos executivos (etapa necessária antes da implantação), outras na busca de financiadores. "Desse modo, hoje, temos concluídos os estudos de viabilidade de 43 trechos de parques lineares. Oito parques lineares incluídos no Programa TAP ICLEI, o qual prevê apoio na busca de financiamentos internacionais, seis parques lineares propostos com contrapartida no processo de Estudo de Impacto de Vizinhança", explica a Prefeitura.
A presidente da ONG APA Viva e conselheira do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Campinas (Comdema), Angela Podolsky, ressalta que toda a área verde preservada é um ganho para a cidade, mas levanta a discussão sobre o interesse público e as fontes de financiamento.
Segundo ela, é importante garantir que parques lineares sejam de acesso público, independente deles ocorrerem sob o âmbito de novos loteamentos. "Me espanta a Prefeitura esperar a implantação de loteamentos para a confecção e implantação de fato dos parques. É aquela velha história que não existe dotação para isso então é preciso esperar da iniciativa privada o financiamento desses projetos públicos. Eu confesso que acho temerário", disse.
A ambientalista afirma que já houve situações em que loteamentos são aprovados como abertos em um espaço urbano que as pessoas possam circular livremente, mas depois de aprovados, principalmente se forem de alto padrão, solicitam o fechamento, o que provoca a internalização dessas áreas verdes. "É preciso garantia de que isso não vai ocorrer, pois senão as áreas verdes ficam a serviço apenas dos próprios moradores dos loteamentos, e a população geral acaba não tendo acesso. Tudo o que é verde é sempre bem-vindo em Campinas, mas a população precisa participar da construção dessas iniciativas", disse.