detecta rupturas

Campinas desenvolve placa de baixo custo

Um grande aliado surgiu para identificar rupturas e alterações em materiais de pontes, viadutos, barragens e qualquer tipo de construção civil

Gilson Rei
21/07/2019 às 13:56.
Atualizado em 30/03/2022 às 22:38

Um grande aliado surgiu para identificar rupturas e alterações em materiais de pontes, viadutos, barragens e qualquer tipo de construção civil e evitar tragédias como as que ocorreram na barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), e no viaduto que cedeu na Marginal Pinheiros, em São Paulo (SP). Um aparelho, ainda sem nome, de alta tecnologia e baixo custo, desenvolvido pelo engenheiro civil João Batista Lamari, aluno de pós-graduação da PUC-Campinas, promete instrumentalizar, empresas públicas e privadas, na prevenção de acidentes e na diminuição de gastos com manutenção em obras da construção civil. O artefato conta com sensores que enviam dados em tempo real para celulares ou tablet e servem para monitorar viadutos, barragens e edifícios. O custo para utilizar o equipamento é de US$ 80 (cerca de R$ 304,00), um valor quase cem vezes, se comparado a um dispositivo comercial atual, que juntamente com os softwares necessários para seu funcionamento, pode custar até R$ 30 mil. Lamari explicou que o sistema foi testado para detectar deformações em metal e concreto, mas pode ser aplicado em outros tipos de materiais. “O custo pode variar dependendo da dimensão do objeto que será monitorado, de quanto tempo e de quais elementos serão avaliados”, esclareceu. O engenheiro destacou que, independentemente dessas variações, o aparelho tem um preço mais acessíveis que os disponíveis no mercado atualmente. A novidade desenvolvida poderá ajudar empresas públicas e privadas na prevenção de acidentes e na diminuição de gastos com manutenção. Lamari desenvolveu uma placa ligada a sensores e com oito canais de comunicação. Para isso, utilizou a plataforma Arduíno, um hardware livre criado na Itália para facilitar o desenvolvimento de equipamentos de automação. Testes Em outra fase do estudo, o engenheiro civil testou em laboratório da PUC-Campinas e em um pilar de construção do Sirius, o acelerador de partículas de última geração construído em uma área do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), próximo ao Campus I da PUC-Campinas. Segundo Lamari, o primeiro teste feito no laboratório visou monitorar a dilatação em uma lâmina metálica. Depois desse monitoramento, o instrumento foi avaliado em uma viga de concreto armado. A terceira etapa de testes, de acordo com o pesquisador, ocorreu em um pilar no Sirius, cujo concreto é especial, feito para evitar deformações e vibrações, que possam afetar os feixes gerados pela luz síncrotron usada no acelerador. Além dessas três fases da pesquisa, o engenheiro realizou uma quarta aferição no Sirius, desta vez com uma máquina de uso comercial utilizado atualmente para comparação dos resultados. O projeto teve como meta principal, verificar opções de custos mais baixos nesta área de monitoramento e construções. “Eu sempre gostei da área de monitoramento, mas enfrentava dificuldades por conta do alto custo e da complexidade de manuseio dos equipamentos. Por isso, pensei em desenvolver algo de baixo custo e de uso simples”, defendeu Lamari. Versão Aberta O aparelho foi aberto pelo engenheiro para novos tipos de materiais. Lamari explicou que o equipamento permite monitoramento de dilatação, mas também poderá verificar vibração, temperatura e outros indicadores de interesse para avaliar o desgaste da estrutura avaliada. Além de desenvolver o artefato barato e eficiente durante a apresentação dos resultados de seu mestrado, o engenheiro resolveu colocar as instruções de como montar o equipamento e abriu seu projeto na internet para quem quiser utilizar ou aproveitar para aprimorar e adaptar para outras finalidades. A versão aberta, com todos os códigos, está disponível para uso científico e pedagógico. Também há um manual de utilização do sistema para facilitar a sua aplicação disponível para download no link http://www.e-structure.org. Vários acessos aos dados já foram feitos de diversas partes do mundo. Lamari apresentou seu projeto em um congresso em Portugal e também recebeu um convite para participar do planejamento de um edifício inteligente que será construído na Colômbia. Equipamento capacita vistoria dos 21 viadutos O equipamento poderá ser útil para monitorar os 21 viadutos de Campinas. No ano passado, o engenheiro civil Gil Chinellato, especialista em estruturas, disponibilizou à reportagem do Correio Popular, imagens preocupantes de viadutos estratégicos de Campinas, que denunciam manutenção precária. Um dos locais apresentados foi do Viaduto São Paulo, conhecido por Laurão, elevando da Avenida Moraes Salles sobre a Norte-Sul. Outro viaduto apresentou problemas: o viaduto na Norte-Sul, sobre o Ribeirão Anhumas. Na ocasião, a Prefeitura de Campinas informou, por meio da Secretaria de Serviços Públicos, que a manutenção estrutural dos viadutos da cidade seguem um cronograma mensal e garantiu que nenhum deles oferece risco aos motoristas e pedestres. Mas, por outro lado os especialistas em engenharia estrutural de Campinas consultados pelo jornal ratificaram precariedade na manutenção, que precisa ser planejada adequadamente. Na mesma ocasião, o engenheiro e professor Paulo Sérgio Saran, da Faculdade de Tecnologia da Unicamp, afirmou que a situação mais preocupante estava no viaduto Miguel Vicente Cury, ligação entre o Centro e a Vila Industrial. Saran destacou que o Cury apresentava guard-rails inadequados e vigas expostas, corroídas pelo tempo, características que reforçam o status de manutenção insuficiente. Outra situação preocupante é o Viaduto Suleste, em frente ao Terminal Rodoviário de Campinas, que liga a região central da cidade à Avenida Lix da Cunha.

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