Resultado, de 10.778 vagas no 1° semestre de 2022, é considerado tímido e insuficiente
O armador Rojane Souza Santos comemora ter conseguido emprego: “Agora posso voltar a sonhar com alguma coisa”, afirmou, enquanto montava estruturas de ferro em uma obra (Gustavo Tilio)
Campinas fechou o primeiro semestre deste ano com a criação de 10.778 postos de trabalho, número considerado tímido e insuficiente para reverter a crise econômica. Entre janeiro e junho, foram 112.519 admissões e 101.741 desligamentos, de acordo com Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), elaborado pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social. O resultado é 9,6% menor em comparação aos primeiros seis meses de 2021, quando foram criadas 11.925 vagas.
“Eu até me surpreendi com o resultado. É algo positivo, melhor do que desemprego, no entanto, o número de empregos criados é pequeno e de baixa qualificação, com remuneração mais baixa”, aponta o coordenador do curso de Economia das Faculdades de Campinas (Facamp), José Augusto Gaspar Ruas. “A economia não está crescendo de forma consistente, sustentada”, argumenta o economista Cândido Ferreira da Silva Filho, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Campinas,
Após um ano desempregado, o armador Rojane Souza Santos comemora ter conseguido emprego recentemente. “Agora posso voltar a sonhar com alguma coisa”, afirmou ele, enquanto montava estruturas de ferro em uma obra no bairro Cambuí. Santos trabalha na construção civil, setor que contribui para o saldo positivo de empregos. Entre janeiro e junho, o segmento gerou 1.043 empregos, com média de 5,79 por dia, e foi o terceiro que mais criou vagas .
O também armador Antônio Rodrigues é um dos cinco contratados que começaram a trabalhar nas obras de um edifício de luxo - todos vindos de Estados do Nordeste, dois do Piauí e três do Maranhão. “Lá está muito difícil conseguir emprego, não tem”, garante Rodrigues, que aceitou o convite para voltar a trabalhar em Campinas. Com 16 anos de experiência, ele explica que é normal ir e voltar da terra natal. A última vez que havia trabalhado em Campinas foi em 2020, voltando para o Piauí durante o período mais crítico da pandemia de covid-19. Agora, ele espera continuar empregado na obra do edifício pelos próximos dois anos, período previsto para término da construção.
Perspectivas
De acordo como presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Odair Senra, os empregos gerados no 1° semestre foram devido ao setor estar em franca atividade. A expectativa é a de que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor - que é a soma de todos os serviços finais produzidos em um determinado período - feche o ano com crescimento superior a 3%, índice acima dos demais setores da economia. A alta prevista para o PIB nacional em 2022 é de 1,8%.
Senra observa que a construção civil conseguiu crescer e gerar empregos apesar dos desafios enfrentados, como o aumento dos preços dos materiais de construção e a elevação dos juros.
No entanto, ele acredita que haverá redução no fôlego do setor no 2° semestre. “Devido ao cenário econômico e à queda de renda das famílias, continuamos com a perspectiva de redução do volume de contratos no segundo semestre, o que poderá impactar o ritmo das obras e a geração de emprego em 2023”, avalia o presidente do SindusCon.
Junho
Com 1.947 postos de trabalho criados, junho foi o terceiro mês com melhor desempenho no primeiro semestre, atrás de fevereiro (2.616 vagas) e abril (2.165). O número é 40,1% menor em comparação a junho de 2021, quando o resultado positivo foi de 3.254 postos. Porém, o economista José Ruas considera a redução natural,uma vez que o país está em processo de retomada de várias atividades, depois dos períodos mais restritivos, com o isolamento social imposto pela pandemia em 2020.
Assim como nos outros meses deste ano, o setor de serviços liderou a criação de vagas, com 958 no total. O comércio no segundo posto, com 467, seguido pela construção civil, 259. A indústria na quarta colocação (230) e a agropecuária em 5º (33).
O professor da PUC-Campinas, Cândido Ferreira da Silva Filho, considera que a perspectiva para o 2° semestre deste ano é a de continuidade do aumento da oferta de empregos, apesar da alta da inflação e taxa de juros. Segundo Silva Filho, contribuirão para isso os pedidos do comércio para as vendas de final de ano, que chegam às indústrias a partir deste mês, e a injeção de R$ 41,2 bilhões na economia pelo governo federal, mediante a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Benefícios, que elevou ou criou auxílios temporários até dezembro.
Chamada de “PEC Kamikaze” pela oposição, ela amplia de R$ 400 para R$ 600 mensais o Auxílio Brasil; de R$ 53 para R$ 120,00 o valor de um botijão, a cada dois meses, o Auxílio Gás; criou benefícios para caminhoneiros e taxistas; além de destinar R$ 500 milhões para a compra de alimentos produzidos por agricultores familiares e destinados a famílias em insegurança alimentar. “Esses recursos vão para o comércio, consumo, compra de alimentos... O que é positivo e vai ajudar a manter a criação de empregos. Entretanto, está muito claro que essas medidas têm o caráter eleitoreiro”, avalia o coordenador do curso de Economia da Facamp. Para ele, a reversão da crise econômica e a geração de empregos de forma consistente somente ocorrerá de fato quando houver investimentos no país. Porém, ele lembra que todos os países enfrentam crise econômica e os investimentos estão escassos de uma forma geral.
José Ruas observa que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e o preço do petróleo, que pressionam a inflação em todo o mundo, “criam um cenário desafiador para qualquer governo”, tornando um desafio projetar o desempenho da economia em 2023.
Já o consultor financeiro Felipe Avelar acredita que “a proposta [PEC dos Benefícios) pode até ser um paliativo para a grave situação econômica pela qual passa o Brasil, mas a conta virá e será alta”. Para ele, “a tendência de elevação no consumo das famílias é momentânea e, após o período de duração da PEC, a situação econômica da população que receberá esses benefícios voltará a ser a mesma observada hoje (inicialmente) e depois se agravará.”
“Isso porque teremos consequências tanto no curto quanto no longo prazo. Com a elevação das despesas públicas, o país perde credibilidade junto ao mercado, a inflação sobe, há pressão sobre os juros e desemprego. E tudo isso cairá no colo do próximo presidente. Para as micro e pequenas empresas, em especial, esse é um cenário muito grave”, acrescenta Avelar.
Para ele, o fim da concessão e do aumento dos benefícios, já a partir de janeiro próximo, fará a economia desacelerar e os juros subirem, tornando o crédito mais caro e escasso. O consultor cita que um exemplo disso é o cenário atual de investimentos em startups no Brasil, que já sofrem com a atual alta nos juros e demitiram quase 3 mil funcionários no Brasil desde março.