Todos estiveram em eventos na Fazenda Santa Margarida, em Joaquim Egídio
O prefeito Dário Saadi se reuniu na manhã de ontem com as autoridades sanitárias do município para definir um plano de prevenção contra a febre maculosa em Campinas (Rodrigo Zanotto)
A Prefeitura de Campinas confirmou que há mais duas pessoas internadas com suspeita de febre maculosa após participarem de eventos na Fazenda Santa Margarida, localizada no distrito de Joaquim Egídio. Na tarde de quarta-feira (14), a Secretaria Municipal de Saúde foi notificada de que uma mulher de 40 anos, moradora de Hortolândia, esteve na festa 'Feijoada do Rosa' realizada na fazenda no dia 27 de maio. Ela começou a apresentar sintomas no dia 10 de junho e está atualmente internada em um hospital privado de Campinas, aguardando a confirmação do diagnóstico por meio de exame laboratorial.
Pela manhã, a Secretaria confirmou outro caso suspeito. Uma mulher de 38 anos também esteve na mesma fazenda, uma semana depois, no dia 3 de junho, quando ocorreu um show do cantor Seu Jorge. Ela também apresentou sintomas no dia 10 e foi internada na terça-feira. Ainda não há confirmação de febre maculosa, mas essa é a sexta pessoa que esteve no local e desenvolveu os mesmos sintomas.
Esse é o segundo evento na Fazenda Santa Margarida que chamou a atenção da Vigilância em Saúde do município, que declarou um surto no local. Até o momento, são seis casos considerados suspeitos, dos quais quatro resultaram em morte. Os casos confirmados da doença como causa da morte incluem o casal Douglas Santos, piloto de automobilismo de 42 anos, Mariana Giordano, dentista de 36 anos, e outra dentista, Evelyn Karoline Santos, de 28 anos, moradora de Hortolândia. A morte da adolescente de 16 anos, Erissa Santana, ainda está em investigação. Até o momento, foram registrados cinco casos relacionados à Feijoada do Rosa e um ao show do Seu Jorge.
Como resultado, todas as pessoas que estiveram em eventos na Fazenda Santa Margarida ou que frequentaram áreas rurais do município devem estar atentas e procurar um médico caso apresentem febre. Os médicos estão sendo orientados a considerar a suspeita de febre maculosa por meio de ações de conscientização implementadas pela Prefeitura. No entanto, é importante que a população informe sobre sua presença em áreas infestadas pelo carrapato-estrela, o vetor da febre maculosa, caso não sejam questionadas pelo médico.
O período de incubação da doença pode durar até 15 dias, portanto, é possível que os frequentadores desses locais apresentem sintomas nesse período.
O surto de febre maculosa na Fazenda Santa Margarida, juntamente com a situação endêmica da doença em Campinas, que registra o maior número de casos em todo o Brasil, levou a Prefeitura a adotar uma estratégia mais abrangente de comunicação e conscientização para enfrentar a doença. Na manhã de quarta-feira (14), o prefeito Dário Saadi (Republicanos) se reuniu com representantes da Secretaria Municipal de Saúde, do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), da Rede Mário Gatti de Urgência, Emergência e Hospitalar, bem como com gestores do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, do Hospital PUC-Campinas e de outras 25 instituições de saúde da rede privada.
A diretora do Devisa, Andrea von Zuben, ressaltou que a febre maculosa é para Campinas o que a malária é para a região amazônica, destacando essa informação tanto para profissionais de saúde, gestores quanto para a população em geral fora de Campinas. Portanto, é essencial considerar a hipótese de febre maculosa em pacientes com febre que tenham frequentado áreas rurais de risco na cidade. Os médicos devem investigar de forma obrigatória e insistente a exposição do paciente a esses locais de risco.
O Devisa determinou que a comunicação aos frequentadores de todas as áreas de risco deve ser clara. A Prefeitura informou que em breve será lançado um projeto de lei para os estabelecimentos localizados nessas áreas com presença do carrapato-estrela, exigindo que todos os responsáveis por eventos e espaços que sediam eventos implementem ferramentas de informação e comunicação de risco para a febre maculosa.
A Administração Municipal definiu outras medidas para combater a doença, incluindo a divulgação de um comunicado e a gravação de uma palestra ministrada pelo infectologista Rodrigo Angerami, do Devisa, que estará disponível a partir de hoje para todos os médicos da rede pública e privada. Além disso, serão realizados dois treinamentos aos profissionais, um no dia 22 e outro no dia 27 de junho, e será gravado um vídeo educativo que será amplamente divulgado em serviços de saúde, escolas, igrejas e outros locais. Em parceria com o Estado de São Paulo, foi criada uma sala de situação assistencial. Devido ao grande número de pessoas que frequentam os eventos na Fazenda Santa Margarida, é importante o trabalho conjunto com a Vigilância do Estado e outras cidades.
Andrea von Zuben, do Devisa, explicou que apenas 1% dos carrapatos estão, em condições normais, infectados com a bactéria. Portanto, caso seja encontrado um carrapato no corpo, recomenda-se removê-lo e procurar um médico. O início do tratamento com um antibiótico específico só é necessário se houver febre. O tempo é crucial a partir dos primeiros sintomas. A doença é tratável se for identificada no início, dentro das primeiras 72 horas. Após esse período, as chances de óbito são grandes.
Aqueles que forem para áreas consideradas de risco devem prestar atenção à vestimenta, dando prioridade a roupas longas, fechadas e de cores claras, para facilitar a identificação e a remoção cuidadosa do carrapato. Se o carrapato estiver em contato com a pele, recomenda-se retirá-lo com uma pinça, com cuidado para não esmagá-lo, pois isso pode fazer com que ele libere as bactérias que causam a infecção. Normalmente, a transmissão da bactéria para as pessoas ocorre cerca de 4 horas após a picada.
Todas as áreas rurais apresentam algum grau de risco. A Prefeitura realizou um levantamento identificando 12 áreas onde há possibilidade de transmissão da febre maculosa, incluindo os distritos de Sousas, Joaquim Egídio, Barão Geraldo e Ouro Verde, os Parques Ecológico, das Águas e Botânico, as Lagoas do Mingone, do São Domingos, do Café e do Taquaral, além da Fazenda Chapadão.
No que diz respeito à Fazenda Santa Margarida, Andrea explicou que não é possível atribuir culpa aos responsáveis. O Devisa solicitou a elaboração de um plano de contingência ambiental para a prevenção e controle da febre maculosa, assim como medidas de comunicação, como condição para a realização de futuros eventos. A assessoria de imprensa da Fazenda informou que o local permanecerá fechado pelos próximos 30 dias.
A Fazenda Santa Margarida recebeu as notícias sobre os óbitos e casos suspeitos com tristeza e lamentou o ocorrido. "Ressaltamos que toda a documentação da Fazenda está em conformidade e regularidade com os órgãos competentes e às exigências legais, incluindo a Prefeitura Municipal de Campinas, e por este motivo os eventos agendados permanecem inalterados."
A assessoria de imprensa da Fazenda Santa Margarida reiterou o compromisso do local em tomar todas as medidas necessárias para assegurar a segurança e o conforto dos frequentadores. Além disso, destacaram a disponibilidade da fazenda em manter um diálogo aberto com as autoridades e a comunidade.