CRIMINALIDADE

Campinas cobra empresa por avanço de crack nos trilhos

Secretário de Segurança quer que Ministério Público apure suposta omissão da concessionária

Felipe Tonon
25/02/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 03:25
Agente da Guarda Municipal em operação na linha férrea  (Cedoc/ RAC)

Agente da Guarda Municipal em operação na linha férrea (Cedoc/ RAC)

A Prefeitura de Campinas solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) abertura de inquérito para apurar suposta omissão da América Latina Logística (ALL) na gestão da linha férrea que corta a região central da cidade, que virou reduto de usuários de drogas e do tráfico.

O ofício entregue ao Procurador Geral da República Áureo Marcus Makiyama Lopes, solicita a apuração das responsabilidades da concessionária na manutenção do espaço, que ficou conhecido como cracolândia.

De acordo com o secretário de Segurança de Campinas, Luiz Augusto Baggio, a Prefeitura planeja uma série de ações para revitalizar o Centro e estabelecer uma nova ordem na segurança pública na região, mas acredita que a ALL tem responsabilidades no trabalho e deve adotar medidas para impedir usuários de drogas na linha dos trens.

O MPF informa que já tem ações instauradas envolvendo a ALL, e que irá agregar o pedido do secretário ao trabalho que já vem sendo desempenhado pelo órgão.

No entanto, Baggio afirma que espera um trabalho específico da Procuradoria para a questão do tráfico de drogas na linha férrea. "Eu estou dando um novo tom para a história.

O MPF abriu inquérito civil preocupado principalmente com a travessia das linhas férreas, e discute isso desde o ano passado, em virtude dos acidentes envolvendo pedestres e carros, especialmente em travessia de nível. Eu estou chamando a atenção para o fator da segurança pública", diz.

Insatisfeito com o que ele chama de omissão da ALL, Baggio recorreu ao MPF para que as responsabilidades da empresa concessionária sejam avaliadas. "As áreas de concessão estão sendo utilizadas indevidamente, servindo ao crime. Ali é uma área pública, concedida a ALL, que está utilizando mal o espaço, que se tornou uma residência mórbida para outras atividades. Os usuários de drogas usam a linha do trem como tráfego para o tráfico, ligando diversos pontos de fornecimento de drogas para a cidade toda", declara.

Baggio criou um comitê intersetorial na pasta, que une diversas secretarias para a tomada de uma ação conjunta, como Urbanismo, Saúde e Assistência Social.

"É uma série de ações a ser feita. Ali é uma fronteira de delinquência que preciso interromper. Não vou acabar com o crack, mas o terreno fértil para a existência dele será pulverizado, enfraquecendo o tráfico", afirma.

O comitê ainda não foi formalizado pela Prefeitura, que também promove um estudo específico de revitalização para a região central.

"A ALL é mais um agente dessa ação conjunta", diz Baggio, que irá se reunir com representantes da empresa, em março, que deverão apresentar uma proposta para solucionar o problema definitivamente. Caso isso não ocorra, Baggio afirma que a Procuradoria deve dar andamento ao processo de apuração de responsabilidade.

Uma das propostas do secretário é que a ALL mantenha um efetivo de vigilantes particulares na região. Também está em estudo a substituição do muro por um cercado que não permita esconderijos dos usuários.

"Seria uma solução melhor", defende. "É uma concessão federal que precisa ser cuidada. Nós não retiramos um usuário de droga da pista do aeroporto de Viracopos, não vamos entrar lá, cabe à concessionária fazer isso. Mas hoje estamos entrando na linha do trem, que é de responsabilidade da ALL", critica.

O Ministério Público Federal informa que a questão dos usuários de drogas nas linhas sob concecessão da ALL também é contemplada na ação civil pública aberta no ano passado, e que chamou Prefeitura e ALL para uma reunião na semana passada para tratar dos procedimentos que compete a cada uma das partes para a solução do problema.

Outro lado

Em nota, a América Latina Logística informa que auxilia a Prefeitura de Campinas a combater a utilização da linha férrea como ponto de encontro para usuários de drogas, e justifica que reconstruiu o muro derrubado com as chuvas, "a fim de coibir o acesso à linha férrea".

Acrescenta que equipes da concessionária realizam a roçada e capina química periodicamente, e justifica que o calor e as chuvas constantes desta época do ano "impedem que a área esteja sempre limpa".

Sobre a segurança do local, a ALL afirma que realiza ronda preventiva de segurança na região, "mas que não é possível deter permanentemente os usuários de drogas que transitam pelo local, uma vez que seus seguranças não têm poder de polícia".

No começo do ano, a concessionária também oficiou a concessionária de energia elétrica solicitando apoio para melhoria da iluminação no local.

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