CHUVAS SE APROXIMAM

Campinas busca recursos para construção de piscinões

Intenção é evitar enchentes nas Avenidas Orosimbo Maia e Princesa D´Oeste

Isadora Stentzler/ [email protected]
03/09/2022 às 18:14.
Atualizado em 03/09/2022 às 18:14
Administração Municipal planeja ampliar o reservatório do Ribeirão Anhumas, conhecido como Piscinão da Norte-Sul, que já existe e serve dois córregos (Kamá Ribeiro)

Administração Municipal planeja ampliar o reservatório do Ribeirão Anhumas, conhecido como Piscinão da Norte-Sul, que já existe e serve dois córregos (Kamá Ribeiro)

Há um mês para o início do período das chuvas, a Prefeitura de Campinas ainda busca as verbas necessárias para a construção de sete piscinões, que visam conter as inundações principalmente na região das Avenidas Orosimbo Maia e Princesa D´Oeste. O estudo para as obras foi apresentado em março deste ano e, de acordo com a Secretaria Municipal de Infraestrutura, o projeto está sendo finalizado e a Administração está em busca dos recursos necessários para financiar as obras.

O projeto da Prefeitura para controle das enchentes nas Avenidas Princesa D'Oeste e Orosimbo Maia foi apresentado no dia 17 de março, em uma live nas redes sociais do prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos). Na ocasião, o prefeito disse que a obra custaria R$ 600 milhões e que seriam buscados recursos junto aos governos estadual, federal e organismos internacionais que financiam projetos de drenagem.

Em nota, a Secretaria Municipal de Infraestrutura disse que "está finalizando o projeto básico de obras contra enchentes, o que permitirá a contratação do projeto executivo, que é bem detalhado, e a abertura da licitação para selecionar a empresa que executará a obra". Ela também informou que "a Prefeitura, no momento, está em busca dos recursos para financiar esta obra".

O secretário de Infraestrutura, Carlos José Barreiro, chegou a afirmar, durante o anúncio do projeto, que as soluções para o problema poderiam ser duas: ou o alargamento da calha — o canal por onde a água corre — dos córregos, para evitar transbordamento dos rios; ou o armazenamento da água em "piscinões".

Por se tratar de uma área ocupada urbanamente, a opção dos piscinões foi apresentava como mais viável. O engenheiro Aluísio Canholi, diretor da Hidrostudio, responsável pelo estudo, disse, na mesma live, que para isso seriam necessários sete reservatórios, começando no córrego Proença.

Conforme a apresentação, o objetivo é que a obra se dividisse em duas etapas e que, a partir da licitação, cada uma delas fosse concluída no período de 12 meses.

Para a primeira etapa, seriam construídos três reservatórios no Córrego Proença — um deles próximo ao CT do Guarani, outro na Praça Ralph Stettinger, na Av. Princesa d'Oeste, e um terceiro na Praça da Ópera, na Av. João Pedro Burnier.

Já a segunda etapa contemplaria a construção de reservatórios na Praça René Pena, na Praça Ópera Joana de Flandres — ambos para servir ao córrego Proença — e na Avenida Anchieta com Orosimbo Maia, para o córrego Serafim. Também seria feita a ampliação do reservatório do Ribeirão Anhumas, conhecido como Piscinão da Norte-Sul, já existente e que serve os dois córregos.

O problema acende alerta devido à proximidade da época de chuvas e com o histórico que Campinas tem com alagamentos. Em janeiro deste ano, Denise Gabiatti, de 60 anos, morreu na Avenida Princesa D'Oeste, esquina com a Rua Joaquim Roberto de Azevedo Marque, após ser arrastada por uma correnteza, causada por fortes chuvas, e se afogar embaixo de um carro, onde ficou presa.

No mesmo local, em 2019, um motociclista de 41 anos já havia morrido após cair de moto e ser arrastado pela enxurrada durante um temporal.

Dois taxistas que trabalham ao lado da Avenida Orosimbo Maia, recordam-se dos problemas causados pelos dias de muita chuva. Sulmara Resende tem 64 anos e há cerca de 20 anos divide o ponto com Augusto Cesar, de 48 anos. Ela conta que, quando o tempo se arma e as chuvas são persistentes, não trabalha para não arriscar perder o carro. "Quando chove muito, eu vou embora. Pessoas já morreram por conta das chuvas e não quero arriscar", disse.

A preocupação é compartilhada por Augusto. "A gente brinca que é só ameaçar chover que a gente sai daqui. Uma vez, na Rua Delfino Cintra, os carros viviam boiando. Já morreu gente. Graças a Deus, comigo não aconteceu nada", aponta. Além disso, Augusto pondera sobre o lixo que fica no córrego que corta a avenida, o que pode agravar a situação de alagamento caso venham fortes chuvas. "Recentemente, esse problema diminuiu, com a limpeza recorrente do córrego. Mas é uma preocupação", frisa.

Para amenizar o problema, a Secretaria de Infraestrutura informou que é realizado um trabalho constante de limpeza de córregos e de bocas de lobo, de desassoreamento do piscinão da Avenida Norte-Sul com Orosimbo Maia - o último foi em junho deste ano - e de manutenção das galerias pluviais.

"Campinas tem cerca de 45 córregos que recebem manutenção e limpeza frequentemente. Esse trabalho de limpeza é intensificado próximo ao início do período das chuvas, o que está ocorrendo desde a semana passada em vários córregos. Na Avenida Orosimbo Maia, a limpeza das galerias de águas pluviais, próximas ao córrego, também teve início na semana passada. Importante frisar que lixo e entulho descartados irregularmente em vias e córregos entopem as bocas de lobo, as galerias pluviais e o leito dos córregos, o que dificulta ou impede o escoamento da água. Os cidadãos precisam ter consciência de que córregos e vias não são locais de descarte de lixo", diz trecho da nota.

Meteorologia

A temporada chuvosa, em Campinas, começa a partir do mês de outubro e se estende até março. Nesse período, há um pico entre os meses de dezembro e fevereiro, que geralmente concentram a maior quantidade de milímetros.

O meteorologista do Cepagri, Bruno Bayne, disse que o Centro trabalha há um ano em um estudo que busca estabelecer critérios de alertas para enchentes e alagamentos. "Em termos simples, enchente é o transbordamento de um curso de água, e alagamento é o acúmulo localizado de água de chuvas devido à deficiência de drenagem. Estamos fazendo um estudo sobre isso, justamente para tentar estabelecer critérios para alertas, que possam antecipar esses eventos, mas ainda não finalizamos. De modo geral, esses eventos dependem de vários fatores, meteorológicos e não-meteorológicos, como a infraestrutura urbana. Com relação aos fatores meteorológicos, não só o volume é importante, como também a intensidade da chuva. Por exemplo, se tivermos 25 milímetros de chuva caindo de forma leve ao longo do dia, não teremos problema algum. No entanto, se esses 25 milímetros caírem em 30 minutos, ou menos, é uma chuva de forte intensidade e poderá ocasionar pontos de alagamento", explica.

De acordo com Bayne, as primeiras chuvas de setembro devem chegar na próxima semana, entre os dias 6 e 7, com previsão de 10 milímetros. 

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