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Campinas amplia ação social para evitar nova cracolândia

Trabalho é intensificado após o Correio denunciar o problema no Viaduto Cury

Rodrigo Piomonte
09/07/2022 às 10:47.
Atualizado em 09/07/2022 às 10:47

Moradores em situação de rua no Viaduto Cury: assistência social tenta evitar formação de uma cracolândia (Gustavo Tilio)

A Prefeitura intensificou o trabalho de assistência social junto aos moradores em situação de rua, concentrados no entorno do Terminal Central e Viaduto Miguel Vicente Cury, no Centro de Campinas. O trabalho consiste em acolher as pessoas que aceitarem aderir ao serviço prestado pela rede de proteção social e saúde do município.

Entretanto, especialistas ressaltam a necessidade de que essas ações do poder público sejam perenes e que ocorram mais investimentos para contrapor o cenário de crise econômica e mudança do perfil das pessoas em vulnerabilidade social, que acabaram em situação de rua. A intervenção do município ocorre dois dias após a publicação da reportagem do Correio Popular, que flagrou a situação de abandono da população em situação de rua, vítima do crack e da criminalidade.

A 'força tarefa', segundo a Prefeitura, se concentrou em todo o entorno do terminal e nas imediações da Praça Felipe Selhi Cunha, conhecida como "Quebra Ossos". No local, diariamente, é possível ver barracas montadas e que servem de abrigo aos moradores em situação de rua. No entorno do viaduto Cury a formação de uma 'cracolândia' também é observada.

Em uma única abordagem dos serviços municipais ocorrida anteontem no local, 40 pessoas, apenas na região do terminal, foram atendidas pelos programas. A Administração informa que esse tipo de trabalho na região central será ampliado nos próximos meses. "Estamos atentos ao atendimento do público em situação de rua na cidade e devemos tornar essas ações mais frequentes a partir deste mês", afirmou Vandecleya Moro, secretária municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos de Campinas. A secretária destaca que na ação acontecerão abordagens conjuntas visando o atendimento humanizado da população em situação de rua e o devido encaminhamento para serviços de Saúde e de Assistência Social.

A atividade no entorno do terminal central foi integrada por seis profissionais, sendo três do programa SOS Rua e três do Consultório na Rua. As equipes realizaram atendimentos conjuntos com o objetivo de identificar demandas e orientar a população acerca dos serviços de assistência social e saúde. Os dois programas integram a rede de proteção social e de saúde do município voltado à população vulnerável. Apenas na área social, o orçamento da rede de assistência supera os R$ 223 milhões este ano. 

Durante a ação, a Prefeitura realizou a distribuição de água, equipamentos de proteção individual, materiais de redução de danos e preservativos. Os atendidos foram encaminhados aos serviços de assistência e documentação, assim como também foram feitos combinados de atendimentos de saúde nos dias de campo do Consultório na Rua.
Dados do último censo realizado pela própria Secretaria de Assistência Social, Pessoas com Deficiência e Direitos Humanos sobre a população em situação de rua em Campinas apontou aumento de 13,3%. Entre 2019 e novembro de 2021, a quantidade passou de 822 para 932. O levantamento é realizado a cada dois anos, e o cenário de crise econômica agrava a situação, inclusive os problemas que são gerados a partir da ausência de investimentos na área social, alertam especialistas.

Segundo o psicólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (LEIPSI) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ed Carlos de Faria, que acompanha e estuda a formação das chamadas 'cracolândias' em grandes centros urbanos, o poder público que deseja combater o aumento da população em situação de rua e evitar que isso gere outros problemas, como os ligados à violência, precisa criar estratégias perenes para aqueles que estão nesta situação de abandono. 

Segundo Ed Carlos, a ampliação dos serviços é sempre importante, mas ele destaca que as estratégias que previnem ou dão assistência às pessoas que fazem, por exemplo, o uso de drogas são insuficientes. "A cidade de Campinas foi pioneira na criação de políticas nesse campo, mas há anos o investimento nessa área tem sido cada vez menor", disse.

O especialista aponta o programa Consultório na Rua, como uma referência importante nesse trabalho, mas aponta a necessidade dele ser ampliado. "Precisamos de mais equipes. A nossa cidade parou no tempo em relação a essas políticas, não criamos novas estratégias de saúde na região central que atende essa população", disse. O professor cita, como exemplo, a criação de centros de convivência para a população em situação de rua. "O desemprego e a miséria aumentaram e é por isso que há mais pessoas em situação de rua nos centros urbanos, embora saibamos que nem todos que estão ali estão nessa situação diretamente por questões econômicas. É necessário ampliar as ações", conclui.

Rede inclui dez programas, mas o desafio é a aceitação

Segundo informações da Secretaria de Assistência Social, Pessoas com Deficiência e Direitos Humanos, são pelo menos dez programas mantidos pelo município de proteção, assistência social e saúde. Eles vão desde a abordagem humanizada até o encaminhamento à cidade de origem e capacitação profissional. No entanto, a Prefeitura admite a dificuldade e o desafio da pessoa em situação de rua abordada pelos programas aceitar ser atendida e encaminhada aos serviços da rede de proteção, de assistência social e de saúde do município. 

Entre as ações disponíveis na rede destaque para as duas unidades do Centros POP Sares, Casas de passagem, os projetos Amigos no trecho e Mão Amiga, além do Refeitório da Cidadania (cofinanciado) e do Bom Prato, que é do Estado, mas usado pela Prefeitura à noite.

Segundo a Administração, as ações da rede acontecem diariamente, de domingo a domingo, as equipes do SOS Rua realizam abordagens para a população em situação de rua. De acordo com a Prefeitura, ocorreu a ampliação também da Operação Inverno, que garante acolhimento do serviço SOS Rua das 8h à 0h. O SOS Rua conta com equipe multidisciplinar composta por assistentes sociais, psicólogos e educadores que atuam diretamente nas ruas. Segundo a Prefeitura, desde a primeira semana do mês de maio, reforçando a ação da Operação Inverno, o Bagageiro Municipal ampliou em mais duas horas o horário de atendimento à população socialmente vulnerável. O serviço localizado na Vila Industrial, agora funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 19h. Antes o atendimento era até 17h. Desde 5 de maio, a secretaria também ampliou o número de vagas em abrigos para pessoas em situação de rua. Além das 120 vagas já existentes no Samim, foram criadas mais 80 vagas na Casa da Cidadania.
 

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