Se ainda estivesse em pé, o espaço cultural, que mais tarde recebeu o nome de Teatro Municipal Carlos Gomes, completaria 89 anos neste mês
Campinas ainda se ressente da falta daquele que já foi uma das grandes marcas da cidade: o Teatro Municipal. Se ainda estivesse em pé, ali na Rua Treze de Maio, o espaço cultural, que mais tarde recebeu o nome de Teatro Municipal Carlos Gomes, completaria 89 anos neste mês de setembro. A construção da imponente casa de espetáculos começou na década de 1920, na esquina da Rua Treze de Maio com a Rua Ernesto Khulmann, onde hoje fica uma loja de departamentos. A tão esperada inauguração aconteceu no dia 10 de setembro de 1930 e mereceu destaque na imprensa campineira. O antigo jornal Diário do Povo, que pertenceu ao Grupo RAC, trouxe a informação em sua capa, demonstrando a importância daquela inauguração. "Campinas sentirá hoje como foi accrescido o seu patrimônio artístico, assistindo à solene inauguração do seu Theatro Municipal. Não é esse um acontecimento banal ou de pequena significação. Ao contrário, sob qualquer aspecto pelo qual seja considerado, elle tem uma alta significação de progresso, da cultura, de civilisação. E até certo ponto é um protesto eloquente contra o utilitarismo, senão mesmo o desenfreiado materialismo da vida contemporânea, toda ella absorvida pelas preocupações das utilidades immediatas", trazia trecho da publicação com a grafia da época. "Vamos sentir o nobre orgulho do nosso progresso, da nossa cultura, da nossa civilização, em gratíssimos instantes de arte, de sonho e de belleza", apresentava outro trecho. O tal teatro, cuja existência muitos das gerações mais novas nunca tomaram conhecimento, tinha cinco pavimentos. o primeiro ficava o porão, no segundo, a plateia e as frisas. O terceiro andar era dedicado aos camarotes e foyers (espécie de salão, onde os espectadores esperam o início de uma apresentação ou tomam drinks nos intervalos). No quarto andar ficavam os balcões e no último, a galeria. O Teatro Municipal foi muito aguardado e festejado pela elite e pela cidade de forma geral. Isso transparecia nas linhas impressas no jornal. "O que não resta dúvida é que a cidade tem de hoje em diante um theatro, estando assim à altura das suas tradições artísticas", celebrava outro trecho da publicação. A noite de estreia foi de muita festa, contando com apresentação da Companhia Lyrica com a cantora Bidu Sayão. A ópera O Guarani, do ilustre filho da cidade, que após certo tempo deu nome ao teatro, se fez presente na noite de estreia. A orquestra era composta por 50 professores, escolhidos entre os melhores. Contudo, tamanha imponência, beleza e importância duraram apenas três décadas e meia. Apoiado em laudos de engenheiros que apontaram problemas na fundação do teatro e risco para a segurança dos freqüentadores, o então prefeito, Ruy Novaes, decidiu pela demolição do espaço, que começou no dia 2 de setembro de 1965. O assunto dominou a região por anos a fio. Com defensores tanto de um lado quanto de outro. Uns apontavam que se tratava se de segurança. Outros diziam que era apenas uma forma d modernizar os prédios da cidade, enquanto outros apostavam na especulação imobiliária. Fato é que em 1965 o prédio veio a baixo. A escritora Maria José Moraes Pupo Nogueira, coordenadora do Teatro Municipal, de 1957 a 1964, não se conformava com a decisão. "Ninguém entende por que assassinaram o teatro; foi uma falta de amor à cidade, à arte e à cultura. Mal começaram as pesquisas sobre a recuperação ou não do teatro, em plena noite, traiçoeiramente, começaram a quebrar o teatro" , relatou ao jornal em 11 de março de 1984.