ELEIÇÕES 2016

Campanha restrita derruba a procura pelas gráficas

Com a proibição de faixas, banners e cavaletes, a esperança do lucro nas gráficas estava depositada em santinhos e panfletos. No entanto muitos desses materiais de papel não atingiram larga escala de produção

Gustavo Abdel
08/09/2016 às 21:21.
Atualizado em 22/04/2022 às 22:33
José Luis Rubeis, dono de uma gráfica, com rolo de adesivo perfurado, material normalmente produzido para candidatos: campanha considerada a mais fraca nos últimos 17 anos (César Rodrigues/AAN)

José Luis Rubeis, dono de uma gráfica, com rolo de adesivo perfurado, material normalmente produzido para candidatos: campanha considerada a mais fraca nos últimos 17 anos (César Rodrigues/AAN)

Diante da série de restrições impostas pela nova legislação eleitoral, o setor gráfico de Campinas registra uma queda média de aproximadamente 75% na confecção de materiais para a campanha deste ano, em relação a 2012. Com a proibição de faixas, banners e cavaletes, a esperança do lucro nas gráficas estava depositada em santinhos e panfletos. No entanto, com financiamento de pessoa jurídica suspenso pela minirreforma eleitoral, muitos desses materiais de papel não atingiram larga escala de produção. Prevendo uma possível queda do setor, a Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) lançou recentemente a campanha Vote no Impresso, buscando promover a comunicação impressa num ano em que esse formato ganha mais importância como mídia para chamar a atenção do eleitorado. “O ramo gráfico perdeu espaço para a modernidade.” Essa é a constatação do proprietário da Gráfica Memphis, Alessandro de Paula Negrinho, que afirma ter perdido cerca de 90% dos clientes políticos nessa campanha. Segundo ele, o financiamento através de pessoa física foi um dos agravantes que restringiu a confecção de materiais. "Com a doação de empresas o candidato gastava em material de campanha. Mas este ano e nos próximos a internet será a arma do candidato”, avalia o empresário. A alteração na legislação estabelece que a pessoa física só pode doar até 10% dos rendimentos brutos do ano anterior à eleição, e que ela está sujeita a multa de cinco a dez vezes o valor que doar a mais a um candidato. Como resultado das novas regras, ruas e avenidas estão livres de bonecos infláveis, cavaletes e faixas — muito comum nos últimos pleitos. Quem perdeu com essa restrição foi o proprietário de uma gráfica no Centro, José Luis Rubeiz. No ano passado chegou a faturar com um único candidato cerca de R$ 40 mil em faixas, banners e adesivos perfurados para veículos. “Em 17 anos, essa é sem dúvida a campanha mais fraca que estou tendo até o momento”, relatou. Rubeiz mostra o rolo de adesivo perfurado chegando ao fim, utilizado para produzir para dois candidatos. “Está difícil encontrar esse material, pois o foco em adesivo cresceu com as demais restrições. A aposta dos candidatos está em materiais impressos e no Facebook”, disse. Responsável pela campanha gráfica de um dos candidatos a prefeito de Campinas, Flávio Lamas, da gráfica Lince, considera essa uma campanha atípica, mas não por causa do prazo (reduzido de 90 para 45 dias), e sim pelas limitações impostas pela Justiça Eleitoral, principalmente em relação ao financiamento. “O atrativo dessa campanha será o cartão de visita com o rosto dele de um lado e o número no outro, como uma colinha que o eleitor pode carregar na carteira.” Segundo ele, houve uma queda de 60% na produção de materiais. “Estou fazendo material para mais de 600 candidatos a vereador, com o mesmo valor que foi feito para 200 candidatos nas últimas eleições”, explicou. Balanço Alguns dados apresentados pelas sedes estaduais da Abigraf confirmam que a redução das verbas para as campanhas está trazendo perdas ao setor. Em recente declaração, o presidente da associação, Levi Ceregato, disse que as eleições costumavam contribuir para um incremento em torno de 4% nos resultados do setor. No entanto, as alterações na legislação deverão praticamente anular esse ganho. Apesar das dificuldades provocadas pela crise e pela majoração do preço do papel, a indústria gráfica mostra sinais de recuperação. Depois de fechar 2015 com queda na produção física de 13,9%, na comparação anual, os números seguem com recuo de 10,6% em relação ao primeiro trimestre de 2015. Porém, se comparado ao quarto trimestre do ano passado, os dados de 2016 revelam crescimento de 4,5%, descontado o padrão sazonal. Desempregados buscam vagas de cabos eleitorais Apesar do tempo de campanha ser mais enxuto nesta eleição, muitas pessoas aproveitaram a chance de faturar uma renda extra como cabo eleitoral de candidatos. O investimento médio em pessoal, feito por um concorrente à Câmara que disputa pela primeira vez uma eleição pode variar de cinco a mais de 15 cabos eleitorais. O salário pago varia de R$ 880,00 a R$ 1.200,00, pagos em duas vezes de acordo com os trabalhadores. No caso dos vereadores, o limite de gasto no 1º turno será de até R$ 274 mil, com a possibilidade de contratação de até 546 pessoas. O candidato a prefeito poderá gastar R$ 4,4 milhões no primeiro turno, e contratar 1.092 pessoas, O mecânico Fábio Julio de Almeida, de 35 anos, abraçou a oportunidade de estender a bandeira de um candidato a vereador no Centro, e faturar no fim do único mês R$ 1.200,00. “É uma renda que ajuda muito. Tem mais dois na minha equipe que estavam desempregados”, conta. Apesar das oportunidades existirem, há menos cabos eleitorais que nos últimos anos, por enquanto, pelas ruas da cidade. (GA/AAN) SAIBA MAIS A eleição deste ano será a primeira com limite de gasto das campanhas eleitorais. Os valores foram estabelecidos de acordo com as quantias declaradas em 2012. Os candidatos a prefeito poderão gastar até 70% do maior gasto declarado para o cargo na última eleição, em valores atualizados. Em Campinas, única cidade passível de ter segundo turno na região, o teto do candidato é a metade do maior gasto declarado em 2012. Já o limite estipulado pelo TSE para os candidatos para vereador é de 70% do máximo contratado há quatro anos. Antes, eram os próprios partidos que informavam qual seria o total dos custos de campanha.

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