O histórico Pátio Ferroviário de Campinas - uma área de 200 mil metros quadrados de propriedade da União - finalmente foi transferido ao município (Gustavo Tilio)
Para destravar o impasse em torno da construção do shopping popular, que se arrasta há quase dois anos, a direção do Sindicato dos Empreendedores Individuais de Ponto Fixo Público e Móvel de Campinas (Sindipeic), que representa os camelôs, admite agora a incorporação de dois prédios tombados como patrimônio histórico arquitetônico ao futuro empreendimento, que tem previsão de ser construído no Pátio Ferroviário.
Pelo menos foi esse o tom dado pelo vereador José Carlos dos Santos, o Carlinhos Camelô (PSB), durante sua fala, ontem, no encerramento do terceiro encontro da Frente Parlamentar de Legislação Urbana, que vem realizando debates em torno de ações e planejamento que contemplem a chamada revitalização do Centro.
A remoção dos camelôs, que há décadas ocupam parte do entorno do Terminal Central de Campinas, no Centro, faz parte dos projetos considerados como "pontapés" iniciais para a revitalização da área central, segundo a Administração.
Em sua fala no evento de ontem, o vereador, que é vice-presidente do Sindipeic, admitiu que se for para incorporar os prédios tombados no projeto de construção do shopping popular, que ocorra uma ajuda de todas as entidades envolvidas com o urbanismo, cultura e arquitetura da cidade para que um novo projeto seja realizado.
Para o vereador, é preciso pensar o bem histórico, mas também a questão social. "Vamos tentar incorporar as estruturas tombadas, mas que saia o projeto. Nós temos um prazo de dois anos prorrogado por mais dois anos. Temos um termo de ajustamento de conduta, e quase dois anos já se passaram", disse o vereador.
No decorrer dos meses e discussões em torno da construção do shopping popular, o vereador chegou a criticar a postura do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), órgão que define a política municipal de defesa e proteção do patrimônio histórico, artístico, estético, arquitetônico, arqueológico, documental e ambiental do município.
Na ocasião da crítica, o conselho havia reforçado a necessidade da preservação do patrimônio histórico arquitetônico dos prédios tombados que tinham a previsão de dar lugar ao shopping popular. E assim, vetou o pedido do Sindipeic que previa a demolição das estruturas.
O galpão presente na área em que o sindicato conseguiu a cessão para construir o shopping popular havia sido tombado pelo conselho em 2014, por meio da resolução nº 129, que inclui o tombamento de mais 33 itens do complexo, sendo 31 prédios, os pátios das antigas Companhias Paulista e Mogiana de Estradas de Ferro e os trilhos das linhas mortas.
As obras do shopping popular estavam previstas para começar em janeiro deste ano, mas após o Condepacc requerer a incorporação de dois prédios tombados ao empreendimento, um novo prazo não foi mais definido. "Temos uma área, temos um sonho e parece que quando demos um passo para frente, na verdade voltamos dez", disse o vereador na época.
A construção do shopping, previsto para ser erguido na área do complexo ferroviário, é considerado um ponto-chave para destravar a revitalização do Centro planejada pela Prefeitura. O shopping popular prevê um prédio de três andares, 42 mil metros de área construída e disponibilização de 1.688 boxes. Se fosse efetivado nesses moldes, seria o maior centro de compras da área central, com investimento previsto de R$ 115 milhões.
A área que o sindicato conseguiu possui 18 mil metros, bem maior do que os 8 mil metros atualmente ocupados pelos camelôs na região central. A secretária municipal de Cultura e presidente do Condepacc, Alexandra Caprioli, reafirmou que o conselho jamais esteve contra a viabilização da construção do novo empreendimento.
No entendimento da secretária, é preciso enxergar a revitalização do Centro incorporando e devolvendo para a cidade um bem histórico e um shopping popular. "Eu proponho criar uma comissão de apoio para que os prédios sejam incorporados ao projeto. Incluindo as entidades de arquitetura para que todo o processo ocorra de forma responsável", disse.
Frente
Segundo o vereador Paulo Gaspar (Novo), a Frente Parlamentar vai continuar os trabalhos debatendo a instalação do empreendimento na área do Pátio Ferroviário nos próximos encontros, que durante o recesso parlamentar, devem acontecer de forma virtual.
Ele reforça que a Frente Parlamentar tem a intenção de criar uma discussão técnica para auxiliar na formulação de projetos de leis e emendas, buscando inovações legislativas que permitam um melhor funcionamento urbano, além de debater ideias e projetos que impactem diretamente a vida econômica do município.
Gaspar reforça que a Frente pretende seguir organizando palestras e eventos, com convidados externos, visando contribuir com o debate por intermédio de sugestões de políticas públicas, readequações legislativas, orientações e embasamento com dados e teorias, principalmente em temas vinculados ao Plano Diretor, zoneamento, mobilidade urbana, patrimônio histórico, meio ambiente e a requalificação da área central.