BATE-BOCA

Câmara tem clima quente e ofensa de vereador aos gays

O encontro foi marcado por discursos de ódio, trocas de ofensas e até acusações de agressões entre grupos favoráveis e contra a aprovação da lei

Inaê Miranda
27/05/2015 às 22:13.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:13
Na tribuna, alguns vereadores fizeram declarações homofóbicas e chegaram a mandar os manifestantes para o "inferno" (Elcio Alves)

Na tribuna, alguns vereadores fizeram declarações homofóbicas e chegaram a mandar os manifestantes para o "inferno" (Elcio Alves)

A discussão sobre a proposta de emenda à Lei que barra qualquer tipo de discussão sobre a identidade de gênero nas escolas municipais de Campinas acirrou os ânimos na Câmara durante a sessão de quarta-feira (27). O encontro foi marcado por discursos de ódio, trocas de ofensas e até acusações de agressões entre grupos favoráveis e contra a aprovação da lei. Na tribuna, alguns vereadores fizeram declarações homofóbicas e chegaram a mandar os manifestantes para o “inferno”. O texto do vereador Campos Filho (DEM) proíbe a inclusão na grade curricular ou na rotina dos alunos políticas que tratem de “ideologia de gênero, o termo gênero ou orientação sexual”. Ele afirma que é responsabilidade da família, e não da escola, instruir as crianças sobre o assunto. Cerca de 200 pessoas de grupos favoráveis e contrários à lei lotaram o plenário. Em coro, eles abafavam os discursos dos vereadores. Em meio ao bate-boca com os manifestantes, alguns parlamentares deixaram claro que “não representam os homossexuais”, que defendiam apenas a família e chegaram a ser agressivos. Durante um momento do debate, um dos grupos virou as costas para o vereador Jorge Schneider (PTB), que respondeu: “Isso, virem de costas, essa é a especialidade de vocês”, disse o petebista. Ao longo de toda a sessão o clima foi tenso e Schneider afirmou que o grupo favorável à ideologia de gênero era uma minoria que não merecia ser ouvida. “Querem esculhambar a nossa cidade? Nós não vamos aceitar que uma minoria tenha voz.” Ele afirmou ainda que o que essa minoria (como se referiu aos manifestantes) está querendo é uma “aberração antinatural”. “Amanhã vão dizer que galo e galinha não existem mais, vaca e boi não existem mais. E é um absurdo isso. Nós respeitamos as pessoas que têm esses desvios, esses problemas. Mas querer implantar isso aí como lei é um absurdo.” O vereador Cid Ferreira (SDD) dividiu a plateia em “Deus” e “Diabo” e “Céu e Inferno”. “Deus está aqui e o diabo está lá. Nós vamos para o céu e vocês para o inferno”, afirmou. Os vereadores também falaram em “Sodoma e Gomorra”, referindo-se a passagem bíblica, e usaram palavras de baixo calão. Campos Filho se referiu à ideologia de gênero como “um lixo”. “Nós entendemos que a educação tem que ser dada em casa pela família e a escolarização na escola.” Já o grupo que defende o debate da identidade de gênero nas escolas defendeu a laicidade do Estado e o direito “aos princípios democráticos”. “O que está se tentando fazer é impedir que o debate sobre as diversas formas de discriminação a partir de orientação sexual ou de gênero possa acontecer de forma livre em todos os espaços. Esse projeto carrega uma semente de censura”, afirmou Pedro Tourinho (PT). No plenário, grupos contrários se enfrentaram e houve acusações de agressões. Às 14h de amanhã está marcada outra discussão sobre a lei na Câmara. “Dia 1º de junho teremos uma audiência pública, depois o projeto é votado”, disse Campos Filho. 

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