Comissão pretende encerrar o caso de 2014 e se concentrar no de Zé Carlos
Danilo Palma (à esquerda) durante depoimento na CPI: empresário denunciou um suposto pedido de propina para beneficiar Campos Filho (Gustavo Tilio)
O presidente da Centrais de Abastecimento de Campinas (Ceasa), Valter Greve, será ouvido nesta quarta-feira (23), a partir das 14h, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Propina da Câmara de Campinas, que volta a se reunir nesta quarta-feira. Citado como autor de um pedido de propina supostamente feito em 2014, Greve nega a acusação. O presidente da CPI, Paulo Gaspar (Novo), já adiantou que este depoimento deve encerrar essa fase das investigações e que o contrato do vereador Zé Carlos (PSB) voltará a ser o foco.
A CPI foi formada para apurar suposta cobrança de propina - cometida pelo então presidente da Câmara, Zé Carlos, e o ex-subsecretário de Relações Institucionais da Casa, Rafael Creato - para que empresas terceirizadas conseguissem manter ou prorrogar seus contratos com o Legislativo. Uma dessas empresas terceirizadas é o Grupo Mais, de propriedade de Celso Palma, que mantém contrato com a Câmara para operar a TV do Legislativo.
A comissão, agora, também analisa um imbróglio que teria ocorrido em 2014, com a desclassificação do Grupo Mais e a posterior homologação da TV Costa Norte. A estratégia é a de esclarecer o que ocorreu à época, se de fato a desabilitação foi por não pagamento de propina e se houve uma licitação fraudulenta.
Há duas semanas, o empresário Danilo Palma, ex-sócio do Grupo Mais, afirmou ter recebido, em 2014, um pedido de "ajuda" no valor de R$ 50 mil para custear as despesas da campanha do ex-presidente da Câmara de Campinas, Campos Filho, que disputava na época uma vaga de deputado estadual. Greve era assessor de Campos e teria sido a pessoa que realizou o pedido. "O Valter Greve compartilhou comigo que o Campos Filho seria candidato a deputado estadual em 2014 e que ele precisava de uma ajuda. Precisava que eu ajudasse o Campos Filho, que em poucos dias o meu contrato estaria sendo assinado, que, inclusive, eu seria chamado para assinar o contrato", relatou no dia da oitiva.
Greve já negou todas as acusações e afirmou também que poderá processar Celso Palma, irmão de Danilo, e que também o citou quando prestou depoimento. "No que diz respeito às falsas e levianas acusações do Sr. Celso Palma, esclareço que nunca houve pedido de qualquer natureza ilícita de minha parte, pelo que o Sr. Celso acusa sem qualquer mínima prova que lhe dê sustentação ou indício", disse.
O vereador Paulo Gaspar afirmou que o depoimento pode encerrar o período de 2014, investigado pela CPI. "Vamos ouviu o Valter, que foi citado, e espero que, com isso, consigamos elucidar esse assunto e prosseguir com a pauta original da CPI", disse o parlamentar", afirmou.
Depoimentos já realizados
O primeiro a depor na CPI foi Celso Palma, que tem um contrato firmado com o Legislativo no valor de R$ 4,7 milhões para a empresa de sua propriedade, o Grupo Mais, operar a TV Câmara pelo período de cinco anos. Na oitiva, ele disse que o então presidente do Legislativo municipal, Zé Carlos, pediu propina para renovar o contrato de serviços com o Grupo Mais. Palma declarou que chegou a concordar em pagar R$ 36 mil por mês para conseguir construir mais provas contra Zé Carlos, mas afirmou que, no final, o vereador ficou feliz até mesmo com a proposta de R$ 1 mil mensais.
O segundo a prestar depoimento foi o vereador Marcelo Silva (PSD). O parlamentar foi procurado por Celso Palma em fevereiro de 2021, para lhe contar sobre a cobrança de propina. Decidiu, então, ajudar o empresário a obter mais gravações, e também procurou o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) para informar o que estava ocorrendo. Marcelo declarou que foram cerca de seis meses para conseguir gravações que incriminassem o então presidente da Câmara. Considerava isso importante porque Zé Carlos poderia alegar que somente seu assessor estava pedindo dinheiro, sem seu conhecimento nem envolvimento.
Por fim, foram ouvidos o ex-pregoeiro Jorge Luiz Brasco e a ex-consultora jurídica legislativa Neusa Dorigon. Os dois participaram do processo licitatório, em 2014, para a escolha da empresa que iria operar a TV Câmara. Ambos negaram que houve qualquer pedido ou conversas de bastidores para favorecimento nesse pregão.