risco de queda

Calçada é tormento para pedestres

O estudo publicado pela Fundação Oswaldo Cruz de Minas ainda destaca outros temores dos idosos brasileiros: 30% dizem viver em regiões muito inseguras

Renato Piovesan
05/11/2018 às 06:00.
Atualizado em 05/04/2022 às 22:39

Era uma noite chuvosa quando Rita de Cássia Spada da Silva, de 59 anos, acabou se desequilibrando ao descer de um ônibus que parou próximo a um buraco na calçada. Enquanto ouvia as portas do coletivo se fecharem, ficou deitada no chão, com dores, sem socorro. Ela é prova viva de um temor de milhões de brasileiros. Pesquisa coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz de Minas Gerais mostra que 43% da população brasileira acima de 50 anos têm medo de cair na rua por causa de defeitos nas calçadas. Um medo que Rita guarda até hoje, quando precisa andar com o auxílio de uma bengala para não passar pelo mesmo susto. “Quebrei o pé naquele dia. Caí com o joelho e as mãos no chão, e ninguém me ajudou. Fiquei desmaiada na calçada esperando o bombeiro. E o ônibus saiu como se nada tivesse acontecido. Entrei até na Justiça pedindo uma indenização, mas já faz nove anos e ainda não teve novidades”, lamenta a aposentada. A também aposentada Ida Jacques, de 86 anos, passou pelo mesmo problema nas calçadas campineiras. “Eu já caí de joelhos num buraco em calçada aqui no (Jardim) Chapadão. Bati com a boca no chão. Com o tempo, o idoso progressivamente vai perdendo o equilíbrio, e os desníveis nessas ruas e calçadas não colaboram”, diz. O estudo publicado pela Fundação Oswaldo Cruz de Minas ainda destaca outros temores dos idosos brasileiros: 30% dizem viver em regiões muito inseguras e 6% já tiveram sua casa invadida, como Davi (nome fictício), que prefere não se identificar. Ele vive no Jardim Flamboyant e afirma que seus fios de cabelos brancos parecem atrair os bandidos. “Gostam de se aproveitar da gente, por não termos o mesmo pique de antes. Quando escurece, não pode mais ficar pela rua. Já pularam o muro da minha casa para me roubar lá”, lembra. Lisboa Neves, de 72 anos, prefere se apegar à fé. “Se você ver a situação do País, um idoso não pode nem sair de casa. Estão matando até policiais. Quem me dá segurança é minha fé”, afirma. A coordenadora da pesquisa, Maria Fernanda Lima Costa, destaca que, com o envelhecimento da população, a questão urbana assume uma importância primordial. Batizado de Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros, o trabalho integra uma rede internacional de grandes estudos sobre o envelhecimento. No País, ele foi feito a partir da entrevista de pessoas com mais de 50 anos em 70 municípios de todas as regiões. Os resultados impressionam sobretudo pelo fato de 85% da população idosa viver em áreas urbanas. “A cidade precisa garantir condições adequadas para essa população, o Brasil está devendo nisso”, opina Maria Fernanda. O ministro da Saúde, Gilberto Occhi, reconhece o problema. “Sabemos que isso é realidade, as calçadas são inadequadas. É necessário o diagnóstico para que todos nós possamos tomar as medidas”, admite. O estudo mostra ainda que o envelhecimento da população brasileira é desigual. Pessoas com mais escolaridade se exercitam mais e as proprietárias de maior número de bens domiciliares têm maior chance de ter um controle adequado de hipertensão.

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