O estudo publicado pela Fundação Oswaldo Cruz de Minas ainda destaca outros temores dos idosos brasileiros: 30% dizem viver em regiões muito inseguras
Era uma noite chuvosa quando Rita de Cássia Spada da Silva, de 59 anos, acabou se desequilibrando ao descer de um ônibus que parou próximo a um buraco na calçada. Enquanto ouvia as portas do coletivo se fecharem, ficou deitada no chão, com dores, sem socorro. Ela é prova viva de um temor de milhões de brasileiros. Pesquisa coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz de Minas Gerais mostra que 43% da população brasileira acima de 50 anos têm medo de cair na rua por causa de defeitos nas calçadas. Um medo que Rita guarda até hoje, quando precisa andar com o auxílio de uma bengala para não passar pelo mesmo susto. “Quebrei o pé naquele dia. Caí com o joelho e as mãos no chão, e ninguém me ajudou. Fiquei desmaiada na calçada esperando o bombeiro. E o ônibus saiu como se nada tivesse acontecido. Entrei até na Justiça pedindo uma indenização, mas já faz nove anos e ainda não teve novidades”, lamenta a aposentada. A também aposentada Ida Jacques, de 86 anos, passou pelo mesmo problema nas calçadas campineiras. “Eu já caí de joelhos num buraco em calçada aqui no (Jardim) Chapadão. Bati com a boca no chão. Com o tempo, o idoso progressivamente vai perdendo o equilíbrio, e os desníveis nessas ruas e calçadas não colaboram”, diz. O estudo publicado pela Fundação Oswaldo Cruz de Minas ainda destaca outros temores dos idosos brasileiros: 30% dizem viver em regiões muito inseguras e 6% já tiveram sua casa invadida, como Davi (nome fictício), que prefere não se identificar. Ele vive no Jardim Flamboyant e afirma que seus fios de cabelos brancos parecem atrair os bandidos. “Gostam de se aproveitar da gente, por não termos o mesmo pique de antes. Quando escurece, não pode mais ficar pela rua. Já pularam o muro da minha casa para me roubar lá”, lembra. Lisboa Neves, de 72 anos, prefere se apegar à fé. “Se você ver a situação do País, um idoso não pode nem sair de casa. Estão matando até policiais. Quem me dá segurança é minha fé”, afirma. A coordenadora da pesquisa, Maria Fernanda Lima Costa, destaca que, com o envelhecimento da população, a questão urbana assume uma importância primordial. Batizado de Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros, o trabalho integra uma rede internacional de grandes estudos sobre o envelhecimento. No País, ele foi feito a partir da entrevista de pessoas com mais de 50 anos em 70 municípios de todas as regiões. Os resultados impressionam sobretudo pelo fato de 85% da população idosa viver em áreas urbanas. “A cidade precisa garantir condições adequadas para essa população, o Brasil está devendo nisso”, opina Maria Fernanda. O ministro da Saúde, Gilberto Occhi, reconhece o problema. “Sabemos que isso é realidade, as calçadas são inadequadas. É necessário o diagnóstico para que todos nós possamos tomar as medidas”, admite. O estudo mostra ainda que o envelhecimento da população brasileira é desigual. Pessoas com mais escolaridade se exercitam mais e as proprietárias de maior número de bens domiciliares têm maior chance de ter um controle adequado de hipertensão.