Dados são do Censo Escolar 2023, divulgados na quinta-feira pelo MEC e Inep
Uma das estratégias da Campanha Fevereiro Violeta, promovida pela Fumec, é a instalação de tendas em diferentes regiões da cidade, onde monitores abordarão os transeuntes até o dia 2 de março (Alessandro Torres)
O total de matrículas no ensino fundamental, médio e na Educação de Jovens e Adultos (EJA) registrou no ano passado uma redução em comparação com 2022, como evidenciado na primeira fase do Censo Escolar 2023, divulgada na quinta-feira (22) pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Por outro lado, vale ressaltar a significativa tendência de aumento, mantida pelo segundo ano consecutivo, nas matrículas da Educação Profissional.
Ao examinar os dados de 2022 e 2023, verifica-se que no Ensino Fundamental houve uma redução de aproximadamente 344.020 matrículas, representando uma diminuição de cerca de 1,3% em relação ao ano anterior, quando o total era de 26.452.228, enquanto em 2023 esse número passou para 26.108.208.
No Ensino Médio, a queda foi de aproximadamente 221.956 matrículas, refletindo uma diminuição de cerca de 3,1% em comparação com 2022, quando as matrículas eram 7.116.570. Em 2023, o número reduziu para 6.894.614.
No que diz respeito à Educação de Jovens e Adultos (EJA), observa-se uma queda de aproximadamente 208.548 matrículas, correspondendo a uma diminuição de cerca de 7,8% em relação a 2022, quando o total era de 2.676.836. Em 2023, o número de matrículas na EJA atingiu 2.468.288.
Ao abordar os resultados divulgados, Celio Ricardo Tasinafo, professor de história formado pela Unicamp e diretor pedagógico de um conceituado colégio na cidade, ofereceu insights que esclarecem a persistente redução no número de matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ele apontou diversos fatores que exercem diferentes pesos em várias regiões do Brasil, mas ressaltou elementos comuns em todo o país.
Uma das principais razões, de acordo com Celio, é a ausência de uma política pública nacional consistente e de longo prazo para a educação de jovens e adultos. Segundo ele, desde a redemocratização, cada governo tem alterado ou abandonado totalmente programas anteriores voltados à alfabetização e formação desse público, resultando em um ciclo de recomeços. O professor enfatizou a falta de avaliação adequada dos pontos positivos e negativos desses programas, com os gestores buscando constantemente criar novas abordagens sem uma análise reflexiva. "O interesse dos gestores de plantão é criar um programa para chamar de seu e com isso estão sempre procurando inventar a roda".
Celso também destacou fatores sociais que podem influenciar o número de matriculados, como o preconceito enfrentado pela educação de jovens e adultos. Culturalmente, persiste a ideia equivocada de que "burro velho não pega marcha", refletindo uma crença infundada de que os mais velhos são menos capazes de aprender. Essa mentalidade desencoraja aqueles que não tiveram oportunidade de frequentar a escola na "idade certa" a se envolverem em seu próprio processo de aprendizado, independentemente da idade. Celso também apontou o desânimo geral entre os professores ao lidar com turmas de jovens e adultos como um fator adicional que contribui para esse cenário.
O especialista ressaltou que a carência de recursos alocados especificamente para o modelo educacional de jovens e adultos pode ter agravado a situação. "A falta de investimentos públicos, somada aos fatores anteriores, resulta em recursos destinados ao ensino de jovens e adultos consistentemente abaixo do necessário. Em períodos de contenção de verbas no setor educacional, esses recursos são frequentemente os primeiros a serem cortados ou ainda mais limitados."
O descompasso entre os métodos de ensino adotados e os recursos disponíveis na educação de jovens e adultos foi destacado pelo especialista. "Num mundo cada vez mais informatizado, as turmas de EJA são, certamente, as que ainda dependem principalmente de lápis, caderno, lousa e giz. Nem mesmo a pandemia, com seu longo período de aulas remotas, trouxe alguma modernização nas práticas didáticas e pedagógicas voltadas para jovens e adultos."
Além disso, ele ressaltou a disparidade entre o ambiente de trabalho dos jovens e adultos e o conteúdo oferecido nas salas de aula. "A distância entre o mundo do trabalho, onde jovens e adultos estão inseridos, e o que aprendem e como são ensinados em uma turma de EJA deve ser destacada. Nesse sentido, a integração de formações profissionalizantes ao ensino para jovens e adultos talvez possa diminuir o abismo entre as necessidades imediatas dos estudantes e os currículos e práticas voltadas para quem não pôde estudar quando mais jovem."
Sobre a queda nas matrículas em outras modalidades de ensino, Celso associou o declínio ao fim das políticas de promoção automática. "A diminuição das matrículas no ensino fundamental, conforme indicado pelos dados do censo, está diretamente relacionada à evasão escolar, geralmente após uma retenção ou reprovação. Em 2022, com o término das políticas de promoção automática adotadas pelos governos estaduais durante 2020 e 2021 devido à pandemia, o número de alunos retidos voltou a aumentar."
"Com as retenções, o número de alunos com idade mais avançada do que o previsto para a série aumenta, sendo esses estudantes os mais propensos a abandonar a escola, causando a queda nas matrículas", ressaltou Celso. O especialista enfatizou a necessidade de mudanças estruturais para solucionar a evasão. "A transformação desse cenário requer mudanças estruturais no setor educacional, cujos resultados só se tornam evidentes após um período relativamente longo.
Entre as alterações urgentes, destaco a reestruturação das licenciaturas e dos cursos de pedagogia para formar professores com maior capacidade de promover práticas de ensino significativas. Mudanças curriculares e nos conteúdos trabalhados no ensino fundamental também são essenciais para que a escola se aproxime ao máximo da realidade dos alunos, evitando, no entanto, medidas abruptas semelhantes às promovidas pelo projeto destrambelhado batizado de Novo Ensino Médio."
CENÁRIO NACIONAL
Como a principal pesquisa estatística da educação básica, o Censo Escolar desempenha um papel crucial ao fornecer dados essenciais para o planejamento, alocação de recursos e monitoramento das políticas educacionais no Brasil. Seus resultados não apenas orientam a distribuição de recursos federais, mas também oferecem insights valiosos para todos os envolvidos no cenário educacional do país.
A pesquisa abrangeu todas as escolas, professores, gestores e turmas da educação básica do país, totalizando 47,3 milhões de estudantes registrados em 178,5 mil escolas. Com 26,1 milhões de matrículas, o ensino fundamental mantém sua posição como a etapa de ensino mais frequentada no Brasil. A oferta do 1º ao 5º ano é liderada pela rede municipal, enquanto a responsabilidade é mais equilibrada nos anos finais.
Apesar de uma leve queda de 2,4% nas matrículas do ensino médio em 2023, em comparação com o ano anterior, os dados revelam um aumento significativo nas matrículas na modalidade integral em todo o país.
ALFABETIZAÇÃO
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de dezembro de 2023, Campinas apresenta 14.746 pessoas sem alfabetização, correspondendo a 1,67% da população com idade acima de 16 anos.
No lançamento da 11ª edição da Campanha Fevereiro Violeta, o prefeito Dário Saadi (Republicanos) destacou a busca ativa por aqueles que ainda não são alfabetizados, enfatizando a conscientização e o engajamento da população. Essas são as principais metas da iniciativa promovida pela Prefeitura Municipal de Campinas, por meio da Fundação Municipal para a Educação Comunitária (Fumec), vinculada à Secretaria Municipal de Educação (SME).
Uma das estratégias-chave da campanha é a instalação de tendas em diferentes regiões da cidade, onde monitores abordarão os transeuntes até o dia 2 de março. Essa ação visa sensibilizar e mobilizar a comunidade no combate ao analfabetismo. Desde 2014, a campanha pela Busca Ativa tem sido realizada, e para este ano, a Fumec está disponibilizando 104 classes para alfabetização, com a possibilidade de expansão conforme a demanda.
Os cursos, abrangendo do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, são destinados a jovens, adultos e idosos a partir de 15 anos, que não possuem estudo ou têm baixa escolaridade. A Fumec oferece material didático, uniforme, alimentação e vale-transporte para aqueles que moram ou trabalham a mais de dois quilômetros da unidade escolar. Os interessados em dar continuidade aos estudos podem procurar a Secretaria Municipal de Educação, que oferece o Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano). Para mais informações, o telefone de contato é (19) 3519-4300.
CONFIRA OS LOCAIS DAS TENDAS, COM ATENDIMENTO DAS 9H ÀS 18H:
✔ Região Sudoeste: Dias 23, 24, 26 e 27/02 - Praça da Concórdia (R. Manoel Machado Pereira, 902, Pq. Valença 1
✔ Campo Grande - em frente à subprefeitura)
✔ Região Noroeste: Dias 28 e 29/02 - Praça José Benelli (Av. Eng. Antônio Francisco de Paula Souza, 1908 - Vila Georgina)
✔ Região Sul: Dias 01 e 02/03 - Praça João da Cruz Prates (Rua Geraldo Afonso de Souza, Jd. Monte Cristo)
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram.