CENÁRIO EPIDEMIOLÓGICO ESTÁVEL

Cai a obrigatoriedade de uso de máscara no transporte público em Campinas

Medida de flexibilização, anunciada pela Prefeitura de Campinas, vale a partir de hoje

Ronnie Romanini/ [email protected]
10/09/2022 às 07:53.
Atualizado em 10/09/2022 às 07:53
Usuária do transporte coletivo sem a máscara: grande parte dos usuários já havia dispensado o uso do equipamento de proteção contra a covid-19, principalmente após completar o esquema vacinal contra a doença (Gustavo Tilio)

Usuária do transporte coletivo sem a máscara: grande parte dos usuários já havia dispensado o uso do equipamento de proteção contra a covid-19, principalmente após completar o esquema vacinal contra a doença (Gustavo Tilio)

Com a melhora na situação epidemiológica em relação à covid-19, a Prefeitura de Campinas decidiu que, a partir de agora, o uso de máscaras não será mais obrigatório dentro dos transportes público e privado. É mais uma medida de flexibilização do uso do equipamento depois do fim da exigência em espaços abertos, fechados e em escolas. Agora, o uso das máscaras de proteção continuará a ser exigido somente para os funcionários e visitantes de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), pessoas que estejam com suspeita ou confirmação de doenças respiratórias transmissíveis, tanto em ambiente aberto como fechado, e nas unidades e serviços de saúde.

A assessora técnica do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) de Campinas, Priscilla Bacci Pegoraro, apresentou alguns números relativos ao atual cenário epidemiológico no município. A quantidade de resultados positivos entre todos os testes realizados está baixa, 8,2%. 

Em dois meses, os atendimentos a sintomáticos respiratórios saíram de cerca de 15 mil (na semana entre o dia 5 de junho e 11 de junho) para aproximadamente 5,5 mil na semana que terminou no dia 20 de agosto. Na primeira semana de junho, foram 13.799 casos notificados. Entre os dias 14 e 20 de agosto, foram 4,1 mil notificações.

"Temos, portanto, um cenário que mostra estabilidade, ou seja, uma não evolução da doença. A nossa cobertura vacinal também é semelhante à registrada no Estado. Eles registram 89,4% de cobertura e Campinas está com 89,7% (...) É importante dizer que estamos ultrapassando as recomendações coletivas. Estamos no nível da recomendação individual, ou seja, vai depender do indivíduo optar por utilizar a máscara quando estiver sintomático para evitar passar o vírus a outras pessoas. E aos mais suscetíveis, como gestantes, idosos, imunossuprimidos e pessoas com comorbidades, cabe a decisão do uso de máscaras para sua proteção. Estamos em um cenário epidemiológico que permite que as medidas de proteção individual passem a sobrepor as medidas coletivas. É o indivíduo tomando a decisão de não colocar os outros e nem a si mesmo em risco".

Nem sempre cumprida

No município, mesmo antes da decisão da Prefeitura, a impressão de muitos passageiros era a de que não havia obrigação de usar o equipamento de proteção dentro dos ônibus. Os relatos foram de que muitos, principalmente os mais jovens, utilizam o transporte público sem proteção. Nos táxis e veículos que realizam transporte por aplicativo, muitos motoristas, mesmo os que usavam máscara, não sabiam tratar-se de uma determinação, acreditando ser orientação.

O aposentado Adilson Roberto Nogueira, 78 anos, declarou que, durante meses, percebeu o desrespeito à exigência da máscara dentro dos ônibus, mas que aceitava a vontade das pessoas. Mesmo com o fim da obrigatoriedade, ele afirmou que pretende continuar usando máscaras no transporte público por ser mais uma forma de prevenção contra a covid-19.

"A máscara é uma segurança a mais. Por exemplo, gosto de abrir os vidros para que entre bastante ar. Tem pessoas que não gostam de vento, que não querem desmanchar o penteado, mas tem gente que espirra dentro do ônibus totalmente fechado. Sobre a decisão, eu concordo. O que a gente vai fazer? Não vou brigar. Eles que estão arriscando as suas próprias vidas. Até nos países em que as pessoas usam máscaras há muito tempo, como no Japão, muitos não usam. Então, eu respeito, não vou arrumar encrenca com pessoas que estão sem máscara, mas se alguém me perguntar o motivo de eu usar, darei a minha resposta sem ofender a pessoa: Estou me prevenindo, é o meu direito."

A grande preocupação de Adilson era a de que as unidades de saúde também desobrigassem o uso. Ao ser informado que nesses locais o uso permanece obrigatório, ele mostrou-se satisfeito.

O pintor e pedreiro José Aparecido Mantovani, de 63 anos, também concordou com a decisão municipal e lembrou a proteção dada pelas vacinas. Com quatro doses tomadas, o pintor revelou que, agora, vai avaliar o ambiente em que se encontra e decidir se tira a máscara ou continua com ela. 

Para ele, pessoas com sintomas respiratórios deveriam ter "a consciência daquilo que está acontecendo com elas" e, portanto, o bom senso de continuar usando a proteção para evitar propagar o vírus. "Eu aprovo a decisão. Uma boa parte da população já não usava. Eu uso muito ônibus e vejo pouquíssimas pessoas com máscaras. Mas eu tomei as quatro doses e estou tranquilo. Acredito nas vacinas... e vamos que vamos".

"Desobrigar não é proibir"

Dois especialistas ouvidos pela reportagem concordaram em três aspectos: o primeiro, de que o momento epidemiológico atual permite a medida que autoriza a liberação do uso de máscaras. Porém, a segunda concordância é a de que desobrigar não significa proibir, ou seja, o uso continua recomendado. Por fim, ambos ressaltam que a população mais vulnerável às complicações da doença e pessoas com sintomas respiratórios precisam continuar usando o equipamento de proteção.

"A recomendação permanece. As máscaras não são mais obrigatórias, mas elas também não são proibidas. Idosos, imunossuprimidos, quem não têm três doses da vacina... continuam sob risco de adoecimento grave e devem manter o uso de máscara no transporte público e em ambientes fechados, mal ventilados e com muita gente. Porém, para a população em geral, o momento epidemiológico realmente justifica liberar o uso", opinou a infectologista da Unicamp, Raquel Stucchi.

"É altamente recomendado que as pessoas que apresentarem sintomas de síndromes gripais procurem os serviços de saúde para ver se é covid-19. Se elas continuarem trabalhando, pegando ônibus, apresentando sintomas respiratórios, devem usar máscara mesmo com resultado negativo. Quem apresentar sintomas respiratórios e não estiver em isolamento tem que usar máscara como rotina", ressalvou o epidemiologista membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), André Ribas Freitas.

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