Pessoas com diabetes diminuem a dose ou deixam de lado a necessária insulina para emagrecer
A endocrinologista do Hospital Celso Pierro, Mila Cunha: problema pode levar paciente até a morte ( Carlos Sousa Ramos/AAN)
Mais um distúrbio coloca a saúde em risco em nome da estética. Desta vez é a diabulimia que vem preocupando os especialistas. Trata-se de um transtorno alimentar de imagem corporal, como a bulimia e a anorexia, porém, está associado à pouca ou nenhuma administração de insulina pelos pacientes. Adolescentes do sexo feminino com diabetes tipo 1 formam o grupo de maior risco para o desenvolvimento da diabulimia. E os especialistas alertam: o problema é grave e pode levar a pessoa à morte. O emagrecimento súbito do adolescente é um sinal ao qual os pais devem ficar atentos.Mila Pontes Ramos Cunha, chefe do setor de endocrinologia do Hospital Celso Pierro, explica que os portadoras de diabulimia associam a rejeição aos alimentos, problema comum a todos os transtornos de imagem corporal, à redução ou até ao abandono do tratamento do diabetes. “Fazem isso por saberem que a perda de peso é um dos efeitos mais imediatos da falta de insulina no organismo”. A causa exata do transtorno ainda é desconhecida, mas fatores genéticos, psicológicos, traumáticos, familiares e socioculturais podem contribuir para o seu desenvolvimento.De acordo com a endocrinologista, a diabulimia está relacionada ao diabetes tipo 1, também conhecida como diabetes insulinodependente, diabetes infanto-juvenil e diabetes imunomediado. “Neste tipo de diabetes a produção de insulina — hormônio produzido pelo pâncreas — é insuficiente pois suas células sofrem o que chamamos de destruição autoimune”, explica. Dessa forma, os portadores de diabetes tipo 1 necessitam de injeções diárias de insulina para manterem a glicose no sangue em valores normais. Há risco de vida se as doses de insulina não são dadas diariamente.Quando ocorre a falta de insulina, ou quando o paciente deixa de aplicar a dose diária, o organismo necessita obter energia de outra fonte, pois a glicose não está conseguindo entrar dentro da célula (função da insulina), segundo explica a médica. “O organismo passa a utilizar outros ‘combustíveis’ para obter energia e continuar funcionando. Esses outros combustíveis são: o tecido muscular (proteína) e o tecido adiposo (gordura)”. Segundo Mila, o resultado desse processo é o emagrecimento rápido, mas também o aparecimento de algumas substâncias que fazem muito mal a saúde, podendo levar à situações extremamente graves e até a morte.Os principais sinais e sintomas que resultam da falta do uso de insulina pelo paciente com diabulimia são: desidratação, perda de massa muscular, fadiga intensa, hiperglicemia, aumento na frequência e na quantidade de micções, hálito com odor acentuado de acetona e confusão mental. Se os sintomas não forem detectados a tempo, especialmente a cetoacidose, as consequências podem ser graves. “A cetoacidose pode levar à morte em menos de 48 horas de ausência ou insuficiência de insulina”, aletrou a endocrinologista.Outros sinais que podem ajudar a identificar a presença de diabulimia, como a recusa a pesar-se durante a consulta, tentativa de negociação da dose de insulina, preocupação excessiva com o corpo, com a forma física, além do nível elevado de glicemia, mesmo com o acompanhamento médico, como proposta de dieta adequada e prescrição da insulina. Por isso, a observação dos pais e das pessoas que cercam os adolescentes com diabetes tipo 1 são fundamentais. “A família deve estar atenta a qualquer sinal de emagrecimento precoce e comunicar o problema imediatamente ao médico que o acompanha e essa adolescente deverá ser encaminhada para o psiquiatra e acompanhamento psicológico”, afirma.A diabulimia pode ser prevenida e tratada com apoio psicológico ou psiquiátrico. “A prevenção consiste em um acompanhamento médico e psicológico, pois o paciente portador do diabetes tipo 1 necessita de um grande apoio, tanto da equipe profissional que o assiste, como da família. Quando o problema já existe é necessário um acompanhamento psiquiátrico, além da necessidade de manutenção do tratamento para o diabetes”, completou a endocrinologista.DiabulimiaDe acordo com a endocrinologista Mila Pontes Ramos Cunha, não há dados sobre a incidência de diabulimia no Brasil ou no mundo, pois o distúrbio é pouco comum e está associado ao diabetes tipo 1, que representa 10% do total de casos da doença. Saiba maisDIABETES TIPO 1Geralmente ocorre em crianças, jovens e adultos jovens e necessita de insulina para o seu controle OS PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS SÃO: muita fome (polifagia), perda de peso quando descontrolada, muita sede, lesões de difícil cicatrização, infecções frequentes (pele, urina e órgãos genitais), alterações visuais. PARA MANTER O NÍVEL DE GLICEMIA REGULADO: Uma dieta equilibrada, o controle da glicemia com insulina e a prática de atividades físicas garantem a qualidade de vida da criança com diabetes. De acordo com os especialistas, ela vai precisar seguir uma dieta que toda pessoa deveria seguir normalmente. Deve evitar qualquer excesso alimentar, ingerir mais fibras, verduras, legumes, alimentos integrais e procurar respeitar os horários da alimentação e das aplicações de insulina.