CAMPINAS

BRT tem 95% de obras concluídas e terá de aguardar concessão

Licitação será aberta pela Justiça e exploração terá prazo de 15 anos, renováveis por mais cinco

Gilson Rei/ Correio Popular
14/04/2021 às 10:39.
Atualizado em 21/03/2022 às 22:30

Corredor implantado na Avenida John Boyd Dunlop para a circulação do BRT: sistema deverá trazer nova dinâmica ao serviço de transporte coletivo em Campinas (Diogo Zacarias/ Correio Popular)

Os corredores do BRT (Bus Rapid Transit - ônibus de Transito Rápido) estão 95% executados e devem ficar concluídos até o final deste ano. O sistema de transporte em seu projeto original deverá ser implantado, porém, apenas em 2022, sem data definida. Mesmo quando a obra estiver pronta, a Prefeitura de Campinas não poderá dar início à operação com os ônibus novos nem com os diferenciais do sistema BRT porque depende da liberação de uma nova licitação pela Justiça, para a concessão do sistema à iniciativa privada.

Os corredores do BRT estão 100% operacionais para o sistema de transporte convencional desde dezembro passado. Ao todo, 98% deles estão pavimentados e 95% das obras estão concluídas, o que representa 36,6 km, frente aos 37,9 km que integram a obra. Algumas estruturas ainda estão sendo instaladas. Ayrton Camargo e Silva, presidente da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), afirmou que a implantação dos corredores BRT Campo Grande, Ouro Verde e Perimetral é a maior obra de mobilidade urbana já realizada no município.

Os investimentos são da ordem de R$ 450 milhões, vindos do Governo Federal, via Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC-2), de 2011. O sistema é formado por três corredores. O Campo Grande liga o Terminal Mercado ao Terminal Itajaí, e tem 17,9 km de extensão. O Ouro Verde parte do Terminal Central e chega ao Terminal Vida Nova, com 14,6 km. O Corredor Perimetral conecta os corredores Campo Grande e Ouro Verde, indo até a rodoviária de Campinas, passando pelo leito do antigo Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), entre Vila Aurocan e o Jardim Campos Elíseos. São 4,1 km de extensão.

Ayrton destacou a importância de se liberar a licitação para a população usufruir dos resultados positivos do BRT. "É um projeto corajoso e um instrumento de transformação no transporte que vai contribuir também para a melhoria do trânsito. É uma ousadia também porque vai contra a política de transporte aplicada nas últimas décadas, que sempre priorizou o carro com sendo a melhor opção de transporte", analisou.

As diretrizes para a rede de transporte são diminuir o tempo médio das viagens, eliminar sobreposições de linhas e tornar o sistema mais integrado, oferecendo maior diversidade de destinos e atendendo a novas demandas. Campinas será dividida em seis áreas operacionais (atualmente há quatro), com pelo menos um eixo principal de transporte em cada uma. Dentro do perímetro do atual Corredor Central, haverá a Área Branca, onde circularão exclusivamente ônibus não poluentes.

Imbróglio

O secretario municipal de Infraestrutura, Carlos José Barreiro, explicou que em outubro de 2019 a licitação da operação do BRT que estava em andamento foi suspensa pela Justiça. O edital previa a concessão do sistema por 15 anos, prorrogáveis por mais cinco anos. Após a publicação, foram realizadas audiências públicas, porém o Ministério Público (MP) alegou que a Prefeitura que elas não foram suficientes. "Sem a realização da nova licitação do transporte, as plataformas para uso do Corredor BRT não terão uso na forma ideal, uma vez que possuem uma altura específica para os veículos de piso elevado", explicou o secretário.

Diante desse cenário, a Emdec informou que está instalando pontos e abrigos ao longo do trecho para uso dos atuais ônibus convencionais, adaptando a estrutura, até que o sistema seja implantado em sua totalidade. A Estação João Jorge, por exemplo, foi inaugurada neste mês com ajustes para uso do sistema convencional. A estrutura serve a 12 linhas de ônibus, sem o uso da plataforma mais alta do BRT.

Histórico

O projeto do BRT começou a ser idealizado em 2010 com a proposta de se utilizar verbas do Governo Federal do Programa de Aceleração 2 (PAC-2). Em 2011, foi aprovada proposta de Campinas e a saga teve início com elaboração mais detalhada do projeto, estimativa de gastos, aprovação de verba e demais medidas burocráticas previstas.

Com o impeachment do prefeito Helio de Oliveira Santos (Dr. Helio), no final de 2011, o processo de execução do projeto foi afetado, o que paralisou parcialmente as ações. No governo de transição, em 2012, com o prefeito Pedro Serafim, houve uma retomada com o secretário de Transportes André Aranha Ribeiro, que finalizou o projeto.

A partir do primeiro mandato do prefeito Jonas Donizette, iniciado em 2013, o projeto do BRT passou por outras etapas, incluindo licitações diversas, atualizações de planilhas, financiamentos, desapropriações, entre outras questões. A obra, em si, começou a ser executada em 2017. Em três anos de execução, surgiu também o período de pandemia, a partir de março do ano passado, que causou atrasos na entrega de materiais de construção por escassez no mercado.

O BRT é um sistema de transporte coletivo urbano que deverá atender a população com qualidade pelos próximos 20 anos. É solução adotada com sucesso em 180 cidades do mundo, como Bogotá (Colômbia), Ottawa (Canadá); Jacarta (Indonésia), Curitiba (Brasil) e Lima (Peru), dentre tantas outras. A avaliação é do professor Carlos Bandeira Guimarães, do Departamento de Geotecnia e Transportes da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo ele, o BRT apresenta resultados muito positivos em regiões metropolitanas de até 7 milhões de habitantes.

Guimarães explicou que o BRT está sendo bem executado e que deverá atender com eficiência as demandas necessárias para as regiões do Campo Grande e Ouro Verde, que são os locais que mais necessitam de melhorias no transporte de Campinas. "Os atrasos ocorridos em função de questões burocráticas, licitações, falta de materiais e outros motivos são considerados normais no setor público em qualquer obra de grande porte. A pandemia piorou ainda mais nesse atraso", comentou.

A despeito do longo período envolvido no processo de construção do BRT, Guimarães disse que quando tudo estiver funcionando, diversas vantagens são previstas. "A velocidade média do BRT é alta e os ônibus vão poder fazer mais viagens durante o dia. Os embarques e desembarques são também mais rápidos", comentou. A maior agilidade do sistema gera outras vantagens. "Isso significa que as pessoas terão mais oferta de veículos em tempos menores e vão poder até se programar melhor. Os veículos terão também a vantagem de serem mais pontuais em suas viagens, possibilitando aos usuários chegar aos pontos e estações com a certeza de que ficarão menos tempo esperando", afirmou.

O professor inferiu que o sistema deverá ajudar também no bolso dos usuários. "A eficiência do sistema vai refletir em menor valor da tarifa, afinal o custo será menor para as operadoras e mais usuários vão utilizar o transporte", comentou Guimarães. O conforto aos usuários é outro destaque apontado pelo docente, pois a circulação dos ônibus ocorre em piso nivelado. Isso sem contar quer os veículos são mais modernos e dotados de Wi-Fi e ar condicionado.

Os usuários do transporte de Campinas aprovaram as mudanças já realizadas, pedem mais ônibus para ter menos aglomeração e aguardam a implantação do BRT em sua totalidade para ver as melhorias no sistema de transporte de Campinas. Irene de Souza, moradora do Jardim Capivari, que estava no Terminal Campos Elíseos nesta semana, disse que o sistema de transporte melhorou, mas ainda pode ser aperfeiçoado. "As obras do BRT estão demorando muito e acho que só vai melhorar quando tiver tudo funcionando por completo", disse.

Franciné Souza do nascimento, cozinheiro, morador do Jardim Campos Elíseos, também considerou que a inauguração está demorando muito. Ele disse perder uma hora para ir ao trabalho no bairro Ponte Preta. "Faz 11 anos que falam do BRT. Até hoje não foi inaugurado e muitas obras ainda estão inacabadas. Quando terminar, será uma boa opção para reduzir o tempo", finalizou.

Corredores BRT

CAMPO GRANDE

Extensão: 17,9 km.

Estrutura: 13 pontes e viadutos, com 3 terminais e 17 estações.

OURO VERDE.

Extensão: 14,6 km.

Estrutura: 5 pontes e viadutos, com 4 terminais e 15 estações.

PERIMETRAL

Extensão: 4,1 km.

Estrutura: 4 estações.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Anuncie
(19) 3736-3085
comercial@rac.com.br
Fale Conosco
(19) 3772-8000
Central do Assinante
(19) 3736-3200
WhatsApp
(19) 9 9998-9902
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por